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A história do croata Lovren, um ex-refugiado que não costuma sorrir

Nascido em região que  pertencia à antiga Iugoslávia, zagueiro precisou deixar sua cidade aos 3 anos para fugir da guerra. Quando já estava habituado à Alemanha,foi para a Croácia

Lovren - Croácia
Lovren, com sua habitual expressão fechada (Foto: PAUL ELLIS / AFP)

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É raro ver um sorriso no rosto de Dejan Lovren, zagueiro da seleção croata na Copa do Mundo. Nesta quinta-feira, ele apareceu sisudo até nas fotos em que está cortando o bolo que ganhou na concentração para comemorar o 29º aniversário. Na coletiva, deu uma resposta atravessada a um repórter que questionou o rendimento da equipe. Talvez as cicatrizes deixadas pela vida expliquem esse jeito mais fechado.

Lovren tinha só três anos quando precisou deixar Kraljeva Sutjeska, pequena cidade situada na Bósnia quando esta, assim como a Croácia, era uma república iugoslava. A retirada se deu por conta da eclosão da Guerra da Bósnia, conflito étnico que matou mais de 100 mil pessoas entre 1992 e 1995.

- Eu diria que era uma cidade familiar, com 12 mil pessoas. Para ser honesto, nós tínhamos tudo. E então aconteceu aquilo (a guerra). Lembro que minha mãe me pegou e nós fomos para o porão. Não sei quanto tempo nós ficamos lá sentados, eu, minha mãe, meu tio e a mulher dele. Depois, pegamos o carro e viajamos por 17 horas até a Alemanha - contou o defensor do Liverpool, no documentário "Lovren: My Life as a Refugee" (em português, "Minha vida como refugiado"), lançado pelo canal oficial do clube inglês em 2007.

A vida do pequeno Lovren transferiu-se para a pequena casa de madeira de seu avô, em Munique, onde chegaram a morar 11 pessoas. Foi na Alemanha que o futebol começou a encantá-lo.

- Eu comecei a jogar com cinco ou seis anos de idade, brincando com meu pai no quintal. Eu ouvia falar do Bayern de Munique, tinha vários ídolos naquela época. Fui a um treinamento quando tinha seis ou sete anos, tirei fotos com as estrelas do time, como Lizarazu e Matthaus... Eu amava a Alemanha - contou.

Mas o governo alemão ordenou que os pais de Lovren - e centenas de outras famílias refugiadas - deixassem o país após a Guerra da Bósnia. Aos dez anos, era a hora de mudar de ares - à força - novamente.

- Não nos deram autorização para ficar. Então chegou um dia em que disseram: "Vocês têm dois meses para arrumar as malas e partir". Para mim foi difícil, todos os meus amigos estavam na Alemanha, minha vida tinha começado lá. Eu tinha tudo, estava feliz, jogando em um pequeno clube em que meu pai era treinador. Era simplesmente lindo.

A família Lovren partiu para a Croácia, onde o zagueiro iniciou a carreira profissional no Dinamo Zagreb. As mudanças de ares continuaram frequentes, mas passaram a ser bem menos traumáticas. Ele foi para a França para jogar no Lyon e depois para a Inglaterra, onde atuou pelo Southampton antes de chegar ao Liverpool, em 2014. A infância dos pequenos filhos do jogador, um menino e uma menina, é bem mais tranquila que a do pai.

- Foi difícil quando eu cheguei à Croácia. Eu não entendia, não sabia escrever o idioma. Todo mundo me perguntava: "Por que o seu sotaque é diferente do nosso?". E até hoje eu tenho aquele sotaque alemão. Tive problemas na escola por causa disso. Os professores explicavam aos alunos que eu tinha vindo de outro país, que precisavam ter mais compreensão. Para ser honesto, eles só não riam de mim quando eu estava jogando futebol. Eu acho que foi por isso que as pessoas começaram a me respeitar.

Talvez esteja chegando a hora de abrir um largo sorriso, Lovren. No sábado, às 15h (de Brasília), em Sochi, a Croácia encara a Rússia em busca de uma vaga na semifinal do Mundial.

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