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1981 x 2019: números, opiniões e comparação entre times do Flamengo

LANCE! ouviu jornalistas e torcedores ilustres do clube para saber se jogadores do time atual entrariam no esquadrão campeão sul-americano e mundial

ARTE - Flamengo 81 x Flamengo 19
Time atual pode entrar para a história assim como o da geração de Zico e Júnior (Gabriel Pereira/Lance!)

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A escalação Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico foi uma fábula tão especial na natureza do Flamengo que o termo "Flamengo de 81", costumeiramente utilizado para se referir ao maior time da história do clube, tornou-se algo quase que messiânico. Mesmo. Até porque os onze, juntos, só entraram em campo em quatro oportunidades: três vezes em 81 e uma em 82. Três vitórias (5 a 1 no Volta Redonda em novembro de 81, 3 a 0 no Liverpool em dezembro, 3 a 2 no São Paulo em fevereiro de 82) e uma derrota (para o Vasco, de Roberto Dinamite, em novembro de 81).

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Trinta e oito anos depois, uma outra escalação de almanaque já entrou definitivamente no imaginário rubro-negro. Afinal de contas, Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís; William Arão; Gerson, Everton Ribeiro, Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabigol terão a missão de, no próximo dia 23 de novembro, levar para a sala de troféus da Gávea a segunda Libertadores da América. Caso saiam vencedores, vão se aproximar de um grande desejo do povo flamenguista, reiterado semana após semana nas arquibancadas: voltar a vencer o Mundial de Clubes.

Mas comparar os dois times seria um sacrilégio ou já é possível de fazê-lo, mesmo que o atual, de Jorge Jesus, nada tenha conquistado de importante? Mais: algum jogador da equipe de 2019 teria vaga na de 81? Para isso, o LANCE! ouviu um grupo de jornalistas e torcedores ilustres para tentar abrir uma discussão.

"O time de 81 era muito especial para a época dele. Já o atual, ainda vamos entender o que vai acontecer com ele" - diz PVC

Dentro de várias linhas de pensamento, uma norteou a opinião da maioria dos participantes: tecnicamente, Gabigol até teria vaga em 1981; no entanto, o currículo de Nunes, apelidado de "Artilheiro das Decisões" pelos momentos marcantes em jogos decisivos, não pode ser esquecido.

- Gabigol, tecnicamente, é melhor que o Nunes. Mas o lugar do Nunes na história, por tudo que participou e resolveu, está intacto. O Gabigol pra ter essa importância histórica terá que passar alguns anos no clube. Talvez ganhando Libertadores e Mundial ele possa alcançar essa patamar. Tecnicamente, o Gabriel é mais completo que o Nunes, tem mais fundamento. Mas, historicamente, o quanto o Nunes representa e o que resolveu, sinceramente, acho que eu não substituiria não - salienta Eduardo Monsanto, narrador da DAZN e autor do livro "1981, o ano rubro-negro".

- Pensei em colocar o Gabigol, mas o peso de jogos decisivos do Nunes na história do clube é monstruoso, o que ainda inviabiliza a comparação. Embora o Gabigol tenha até mais técnica - disse Carlos Eduardo Mansur, jornalista do "O Globo".

De qualquer forma, o artilheiro do Flamengo em 2019, com 35 gols, e Bruno Henrique foram os jogadores do elenco atual mais lembrados pelos participantes. Na Copa Libertadores da América, a dupla tem feito a diferença no mata-mata: Gabigol marcou contra Emelec (dois), Internacional (um) e Grêmio (dois); Bruno Henrique contra Internacional (dois) e Grêmio (dois - um na ida e outro na volta).

"Os três atacantes teriam vaga, nenhum dos meio-campistas, nem dos laterais. No gol e na dupla de zaga é taco a taco" - opina Juca Kfouri

- O atual time do Flamengo está no mesmo nível técnico de 81. E os números provam isso. Eu acho que o Gabigol entraria no lugar do Nunes. O Nunes tinha o Zico sempre o colocando na cara do gol. Aí é covardia. O Gabigol não tem o Zico e é, como o Nunes, extremamente oportunista. Ele me parece ser mais técnico. Ambos têm em comum esse oportunismo, faro de gol. Claro que cada um à sua época - destaca Sérgio Américo, repórter da rádio 94 FM.

Nos diferentes argumentos que o LANCE! ouviu, o sambista Neguinho da Beija-Flor, intérprete oficial da escola de samba Beija-Flor, lembrou um nome que, dentro da atual constelação do Flamengo, não está entre os titulares: Diego. O meia, que é o capitão do time, se lesionou logo no início da "Era Jesus" e voltou recentemente. Outro ilustre torcedor rubro-negro, o cantor e compositor Ivo Meirelles ficou na dúvida entre Gabigol e Nunes.

- Colocaria Diego Alves no gol. O resto fica difícil pro time atual (risos). Talvez o Gabigol no lugar do Nunes... mas talvez! O "João Danado" era matador também - concluiu, sob risos.

Zico
Zico, o maior jogador da história do Flamengo (Divulgação)

AS UNANIMIDADES E O GÊNIO
Na zaga, nas laterais e no meio-campo estão as unanimidades. Leandro, Mozer, Junior, Andrade, Adílio e Zico são os incontestáveis do time de 81 e não tiveram seus lugares ameaçados na votação. O jornalista Juca Kfouri justifica que o grande ponto de desequilíbrio na comparação é o Galinho. Pudera. Para muitos um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, é o maior ídolo do Flamengo.

- (do time atual) Os três atacantes teriam vaga, nenhum dos meio-campistas, nem dos laterais. No gol e na dupla de zaga é "taco a taco". A diferença que desequilibra se chama Zico.

O Flamengo de 2019 tem uma vantagem que o de 1981 não teve: a oportunidade de vencer Campeonato Brasileiro, Libertadores e Mundial de Clubes. Há 38 anos, o Rubro-Negro foi eliminado pelo Botafogo nas quartas de final, ainda no primeiro semestre. O Grêmio viria a se sagrar campeão, ao término daquela edição. Porém, Paulo Vinicius Coelho (PVC), comentarista dos canais Fox Sports, faz um adendo: o Campeonato Carioca do Fla de Carpergianni, obtido entre os títulos da Libertadores e do Mundial, contra o Vasco, não pode ser subestimado.

- O time de 81 era muito especial para a época dele. Já o atual, ainda vamos entender o que vai acontecer com ele. Se vai superar... o que é superar? É ganhar o Brasileiro, Libertadores e Mundial no mesmo ano. Aquele time não ganhou o Brasileiro. Só o Santos de Pelé fez isso, em 63. E era a Taça Brasil, que hoje é unificado com o Brasileiro. Eram quatro jogos e mais quatro de Libertadores. Mas temos que considerar que o Estadual tinha um peso muito maior que tem hoje. O Brasil olhava pro Estadual. A final do Carioca em 81, no dia 6 de dezembro, contra o Vasco, eu vi em São Paulo. E detalhe: não tinha TV Fechada, era TV Aberta. E vi em São Paulo! - lembra PVC, que destaca a importância do atacante Lico.

- Se eu fizesse uma seleção entre os dois times, ela teria Raúl, Leandro, Rodrigo Caio, Mozer e Júnior na defesa. No meio, Andrade, Adílio e Zico. Na frente, Tita, Gabriel e Bruno Henrique. No ponto de vista individual, porque o Lico ficou de fora dessa, mas ele era um grande monstro tático. O Flamengo de 81 não existiria se o Lico não tivesse entrado no lugar de Baroninho - afirma.

Bruno Henrique, Arrascaeta e Gabigol
(Foto: Alexandre Vidal, Marcelo Cortes & Paula Reis / Flamengo)

De acordo com Mauro Cezar Pereira, comentarista dos canais ESPN, só o tempo irá possibilitar a comparação entre as duas gerações. Por enquanto, na visão do jornalista, é possível associar somente a confiança da torcida nos títulos.

- É uma comparação difícil de fazer, por ora. Aquele time fechou um ciclo, fez a sua história, venceu. O time atual ainda não venceu nada. O técnico está há quatro meses, por exemplo, e está construindo a sua história. A comparação que dá pra fazer agora é em relação à confiança da torcida. Os torcedores estão seguros que o time irá trazer vitórias, resultados, como naquela época.

Confira a seleção ideal entre o Flamengo de 81 e o Flamengo de 2019 dos participantes*

PVC: Raul, Leandro, Rodrigo Caio, Mozer, Junior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Gabriel, Bruno Henrique.

ANDRÉ ROCHA: Diego Alves, Leandro, Mozer, Rodrigo Caio, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Everton Ribeiro, Arrascaeta e Gabigol.

GILSON RICARDO: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Junior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Nunes e Lico.

JUCA KFOURI: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Everton Ribeiro, Gabigol e Bruno Henrique.

SÉRGIO AMÉRICO: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Gabigol, Lico.

CARLOS EDUARDO MANSUR: Raul, Leandro, Rodrigo Caio, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Everton Ribeiro, Nunes e Arrascaeta.

EDUARDO TIRONI: Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adilio, Zico, Tita, Bruno Henrique e Gabigol.

EDUARDO MONSANTO: Diego Alves, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adilio, Zico, Tita, Nunes e Bruno Henrique.

ROBERTO ASSAF: Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Nunes e Lico.

NEGUINHO DA BEIJA-FLOR: Diego Alves, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adilio, Zico, Diego, Tita e Nunes.

IVO MEIRELLES: Diego Alves, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Nunes e Lico.

JOSÉ LUIS PORTELLA: Raul, Leandro, Mozer, Pablo Marí, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita, Nunes e Bruno Henrique.

*O jornalista Mauro Cezar Pereira optou por não arriscar um time ideal entre as duas equipes.

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