Luiz Gomes: ‘O que a novela da renovação de Diego Alves ensina ao Flamengo’
'Humildade, jogo de cintura e, acima de tudo, o saudável exercício da negociação não fazem mal a ninguém, muito pelo contrário'
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Humildade, jogo de cintura e, acima de tudo, o saudável exercício da negociação não fazem mal a ninguém, muito pelo contrário. Desde que chegou ao comando do Flamengo, a atual diretoria tem pautado o discurso, o comportamento e as atitudes por uma soberba e uma arrogância poucas vezes vistas mesmo em um ambiente competitivo e tóxico como os bastidores do futebol brasileiro.
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Sobram exemplos: o tratamento dado às vítimas do incêndio do Ninho do Urubu (em que pese a correção dos valores oferecidos pelo clube), a insistência na volta do futebol e do público aos estádios em plena pandemia, o rompimento com a Globo no Carioca à revelia dos outros clubes, a negociação individualizada nos porões do governo Bolsonaro da MP dos direitos de TV que acabou caducando na Câmara, de tão esdrúxula e inoportuna que era para o momento atual.
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O caso Diego Alves parecia caminhar na mesma direção. Uma proposta apresentada ao jogador pelo departamento de futebol e depois reduzida sem maior cerimônia pelos homens do financeiro. Impasse, corda esticada, faltava conversa, diálogo, como tantas vezes têm ocorrido. Faltava que cada um cedesse um pouco e não apenas o goleiro abrisse mão do que julgava ser justo receber como, até a mudança de postura, na quinta-feira, o Fla parecia exigir.
Diego Alves, que desde o início do imbróglio recebeu o apoio incondicional dos principais líderes do elenco, como Gabigol, Diego Ribas, Everton Ribeiro e Filipe Luiz, esbanjou profissionalismo, registre-se, mesmo quando sua saída parecia próxima de consumar-se. Nos momentos em que cedeu o lugar a Hugo Souza esteve sempre ao lado do moleque, incentivando e dando dicas. Mesmo no banco, continuou sendo a voz marcante nas rodas com o elenco antes dos jogos, não abrindo mão do seu papel de capitão.
No futebol de hoje, um negócio muito além de ser apenas um esporte, não há espaço para erros. Nem para vaidades. Mesmo para os que trilham o melhor caminho, como tem feito o Flamengo nos últimos anos, os deslizes e a arrogância por vezes custam caro. E podem colocar projetos em risco.
Não é por acaso que o Rubro-Negro, que tudo ganhou em 2019, deixou de ser o adversário a ser batido por todos, deixou de amedrontar os rivais e amarga eliminações dolorosas ao longo deste ano, como na Libertadores e Copa do Brasil. Contratações caras e mal sucedidas - bem diferentes dos reforços cirúrgicos do ano passado - a infeliz substituição de Jorge Jesus por Dome Torrent e a ainda mais desastrada demissão do treinador, sem falar nas questões extra campo já listadas aqui, certamente ajudam a explicar os fracassos da temporada.
O Flamengo continua em situação financeira confortável, em especial se comparado aos outros clubes no cambaleante futebol da pandemia. O avançado estatuto do clube e mecanismos internos de controle asseguram uma boa dose de estabilidade mesmo em momentos de crise. Mas – como no desfecho feliz do caso Diego Alves – é preciso deixar de lado a soberba. Afinal, o Flamengo faz parte de um todo. E as coisas são como são, e não como Rodolfo Landim e sua trupe gostariam que fosse.
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