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Com os dois únicos técnicos negros da Série A, Fluminense e Bahia se enfrentam, neste sábado, no Maraca

Marcão, pelo Fluminense, e Roger Machado, pelo Bahia, buscam consolidar seus espaços nos futebol brasileiro com muito trabalho. Técnicos falaram de forma exclusiva ao LANCE!

Montagem - Marcão e Roger Machado
Marcão e Roger falaram, ao LANCE!, sobre a relação entre os dois(Foto: Divulgação/Flickr)

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Quantos técnicos negros o seu time já teve? Poucos, certo? Pois o jogo deste sábado, às 19h, entre Fluminense e Bahia, no Maracanã, vai colocar frente a frente os dois únicos treinadores negros da Série A do Campeonato Brasileiro. Enquanto Marcão, do Tricolor carioca, começa sua carreira, Roger Machado já tem uma trajetória um pouco mais consolidada, mas ainda busca se estabelecer como um dos principais profissionais do país. Os dois falaram ao LANCE!, exaltaram a oportunidade de poderem mostrar os seus trabalhos e lutar por mais espaço. O L! transmite a partida em tempo real.

TABELA
> Confira a situação de Flu e Bahia no Brasileiro

'Eu vejo isso como um marco. Isso é pouco, bem pouco, mas vamos tomar isso como um marco para mudança', disse Marcão

Marcão espera que esse momento seja um ponto de mudança. Afinal, se estendermos o leque para a Série B, temos apenas três técnicos negros entre os 40 times. Além dos dois, que se enfrentam neste sábado pela 25ª rodada da Série A, também tem Hemerson Maria, que faz boa campanha com o Botafogo-SP na Série B.

- Eu vejo isso como um marco. Será que já tivemos mais de três treinadores na série A ou B ao mesmo tempo? Isso é pouco, bem pouco, mas vamos tomar isso como um marco para mudança. O mercado é fechado, pois o círculo é vicioso. Sai um e entra o mesmo de antes em seguida. Não muda. A cultura de resultados do futebol brasileiro é o que distribui as cartas de oportunidades. Nós vivemos fases. Porque se você reparar, há um ano e meio atrás, a nova geração estava a mil. Treinadores com muito conhecimento estavam nos clubes de ponta do Brasil. Eduardo Baptista, Jair Ventura, Thiago Larghi, Zé Ricardo, Rogério Ceni.. Mas a cultura de resultados foi minando o trabalho. Uns estão fora do mercado porque para alguns, os treinadores jovens não servem mais. Nem tanto ao céu nem tanto ao inferno. Tem vaga para todo mundo - disse Marcão, ao L!.

'O futebol é o esporte mais democrático e inclusivo que conheço, entretanto fora das quatro linhas há muito o que ser resolvido', afirma Roger

Já Roger Machado fez questão de ressaltar o lado democrático do futebol. Porém, dentro das quatro linhas. Fora delas, o técnico diz que ainda há muito o que ser resolvido.

- O fato de sermos negros não deveria ser relevante diante dos desafios que temos. A cor da pele não poderia balizar o conhecimento de ninguém. Sigo acreditando que dentro do campo de jogo, o futebol é o esporte mais democrático e inclusivo que conheço, entretanto fora das quatro linhas há muito o que ser debatido e resolvido. Eu, Marcão e muitos outros, estamos no mercado não como excludentes e sim como agregadores de conteúdo e valor - afirmou Roger ao L!.

Assim como o treinador do Bahia, Marcão também faz questão de exaltar a possibilidade de agregar qualidade ao futebol. E, por isso, ressaltou o quanto ele se preparou para esta oportunidade no Fluminense.

- Resolvi estudar e me capacitar para ser treinador de futebol por causa dos treinadores que tive na época de atleta. Parreira, Abel, Valdir Espinosa, Ricardo Gomes.. Só tive boas referências na minha carreira. E acho que minha experiência de jogador ajuda bastante nisso, mas o futebol se renovou. Evoluiu para outros conceitos. Outro dia vi uma palestra do Marcelo Bielsa onde ele falou que existem mais de 100 táticas de jogo para aplicar. Fui estudar. Me qualificar. Me aprofundar nisso. Trabalhar ao lado de treinadores renomados e promissores me deu mais conhecimento. E em nenhum momento sofri preconceito por isso. Pelo contrário, só recebi incentivos e elogios com os profissionais que trabalhei. Espero que essa chance que o Fluminense me deu, seja duradoura o suficiente para provar que o comando técnico de um time não dependa de cor, mas sim de competência e preparação do profissional.

Velhos conhecidos
Ainda no início das suas carreiras como treinadores, Marcão e Roger são praticamente da mesma geração de jogadores. E chegaram a atuar juntos em 2006, justamente pelo Fluminense, clube pelo qual os dois têm passagens marcantes. Enquanto Marcão tem 397 jogos pelo Tricolor das Laranjeiras, Roger foi o responsável pelo gol do título da Copa do Brasil de 2007.

Neste sábado, eles vão se reencontrar fora de campo. E não faltaram elogios de ambas as partes. Mas o técnico do Bahia fez questão de, em tom de brincadeira, desejar que o adversário não tenha tanta sorte no Maracanã.

- Para mim é uma alegria ver um companheiro como Marcão com a oportunidade de comandar um clube como Fluminense. Sempre observei muito a maneira como ele comandava dentro e fora de campo. Marcão tem um perfil firme, de bom trânsito e acima de tudo, conhecimento e estudo, fundamentais para o sucesso. Será um prazer estar nessa partida e espero que ele não tenha tanta sorte - brincou Roger.

Marcão foi só elogios ao adversário deste sábado e ao time do Bahia. Para o técnico do Fluminense, Roger já é um dos grandes profissionais do futebol brasileiro.

- Conheço o Roger desde a época de jogador. Jogamos juntos. Sempre foi um cara correto, capacitado dentro e fora de campo. Olha o time do Bahia como está? Difícil de ser batido e com um padrão de jogo consistente. Vamos ter que jogar no limite no sábado para vencer. Ele sempre foi muito preparado. Não é à toa que está numa posição de respeito e que é um dos grandes nomes de treinadores no Brasil.

Roger Machado - Observatório Racismo
Roger já usou a camisa em outra ocasião (Foto: Divulgação)

'Oportunidades contadas'
Neste sábado, Roger e Marcão entrarão em campo com camisas do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, organização criada para monitorar e divulgar casos de racismo e ações afirmativas no futebol brasileiro, que promoveu a campanha junto aos clubes. Para Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório, a falta de técnicos negros no futebol brasileiro é um retrato do racismo que existe no país.

- É o racismo estrutural, que faz com que negros não cheguem a cargos de chefia. E isso reflete no futebol, onde a gente tem uma quantidade muito grande de atletas negros, mas não temos técnicos, dirigentes e presidentes. É essa questão racial. Aceitam o negro como um par, mas não ser comandados por um. O futebol reproduz isso muito bem. O espaço do negro é dentro das quatro linhas, ou em cargo de menor expressão: auxiliar técnico, roupeiro, massagista, outras funções - disse Marcelo em conversa com o LANCE!, antes de completar:

- Temos uma quantidade muito grande de técnicos que não são negros e estão no mercado, trocando de time todo ano. Enquanto para os negros as oportunidades são contadas. O Cristóvão teve algumas chances e não está mais praticamente no mercado, o Andrade também. De 2014 para cá tivemos o Roger, Cristóvão, Jair Ventura e Marcão. A gente não tem abertura no mercado.

O Observatório da Discriminação Racial no Futebol existe desde 2014 e, além de promover campanhas como a que acontece neste sábado, no Maracanã, também organiza, todo ano, um relatório com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro. O último documento, de 2018, que também contabiliza casos de machismo, homofobia e xenofobia, apontou uma curva ascendente nas ocorrências.

Segundo o Observatório, o número de casos de racismo no futebol brasileiro mais do que sobrou de 2014 para 2018. No primeiro ano, foram 20 ocorrências contabilizadas, contra 44 no ano passado. Para Marcelo Carvalho, dois fatores contribuíram para esse crescimento.

- Temos um momento no Brasil e no mundo em que as pessoas estão expressando mais o seu preconceito e sua intolerância. Se em algum momento eles tiveram receio, agora estão expressando abertamente. O outro fator é o surgimento de grupos organizados que combatem o racismo, machismo, homofobia no futebol. Eles fazem aumentar o número de denúncias. Em 2014, quando começamos o relatório, tínhamos poucas denúncias sobre, até porque muitas antes eram consideradas piadas e provocação.

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