Renovação, planos de parar e momentos marcantes: Nene chega aos 40 anos e exalta o Fluminense

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, meia falou sobre continuar no clube e afirmou que projeta ser treinador quando pendurar as chuteiras em dois ou três anos

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O Fluminense é conhecido mundialmente pela formação de jogadores em Xerém, mas a transição desses jovens com mais cautela só tem sido possível por conta dos atletas experientes do elenco. E um dos mais importantes para o grupo tem sido Nene, que completa 40 anos nesta segunda-feira. Líder em assistências do Tricolor na temporada, o jogador foi decisivo na vitória por 2 a 0 sobre o Cerro Porteño (PAR) na Libertadores e vê o Flu como uma grande oportunidade de somar títulos à carreira.

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- O Fluminense significa muita coisa. Está me dando a oportunidade de disputar um título muito importante e que ainda não tenho, a Libertadores e a Copa do Brasil. Não falo nem do Brasileiro porque está muito longe ainda, essas duas são menos jogos. Significa muito para mim participar, ajudar e contribuir. Seria uma honra muito grande poder marcar meu nome na história do clube com os títulos. Para mim, antes de encerrar a carreira seria único - projetou o meia, em entrevista exclusiva ao LANCE!.

Depois de Nino e Fred, Nene é quem mais entrou em campo pelo Flu, com 107 jogos. No total, ele tem 25 gols e 13 assistências, foi o artilheiro da equipe em 2020 e segundo com mais passes para gol, atrás apenas de Egídio e empatado com Marcos Paulo. Em 2021, é o líder de assistências e terceiro que mais balançou a rede. O camisa 77 foi anunciado oficialmente em 15 de julho de 2019 e apresentado no Maracanã. Com contrato até dezembro de 2021, ele pretende continuar no clube, mas não falou ainda sobre renovação.

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- Sou muito feliz no Fluminense. A ideia é ficar o tempo que puder. Não conversamos ainda sobre isso, mas estou tranquilo, dando meu melhor a cada dia. O importante é os dois lados estarem felizes. Acredito que o grupo esteja feliz comigo e meu trabalho, mas estamos em um momento muito importante de decisão, então por mim ficaria muito mais tempo. Ainda não conversamos. Mais para frente, quando passarmos dessa fase decisiva, indo para as quartas da Libertadores e da Copa do Brasil, a gente deve conversar - completou.

Se a torcida do Flu já se prepara para se despedir de Fred, Nene espera ficar mais tempo ainda na ativa. Em entrevistas coletivas, Odair Hellmann, Marcão e Roger Machado elogiaram a forma física do atleta, que quer continuar atuando por pelo menos mais dois anos. Mesmo assim, ele já iniciou os planos para quando pendurar as chuteiras e tem certeza: quer ser treinador para continuar contribuindo o quanto puder em campo.

- Ainda não me coloquei uma data exata. Estou me sentindo muito bem ainda, não tem nada que esteja me prejudicando fisicamente. Acredito que mais dois ou três anos dá para jogar ainda. Não posso dizer que vou conseguir atuar em todas as partidas, mas posso contribuir muito. Com certeza já estou projetando o pós-futebol. Há algum tempo não tinha tanta clareza, mas deu um clique e despertou o interesse em ser treinador - disse o jogador.

- Eu pensava em continuar no futebol talvez como empresário ou coordenador, mas acho que, como sou muito apaixonado, não vou conseguir ficar de fora, sem participar e contribuir. Já vou começar a fazer os cursos quando puder, mas sem ainda colocar a cabeça só nisso porque meu foco tem que ser no agora, no que estou fazendo dentro do campo. Futuramente já tenho isso na cabeça, 95% de chances de virar treinador - concluiu.

Em novembro do ano passado, Nene comemorou 20 anos de carreira. Ele iniciou no Paulista, de Jundiaí, em São Paulo. Depois, passou por Palmeiras, Santos e foi para a Espanha, onde esteve no Mallorca, Alavés e Celta de Vigo. Em 2007 foi para o Monaco e voltou às terras espanholas para atuar no Espanyol. Os anos mais bem sucedidos foram entre 2010 e 2012, quando jogou no Paris Saint-Germain. Em 2013 ele rumou ao Al-Gharafa e chegou a ser contratado pelo West Ham antes de voltar ao Brasil para atuar por Vasco, São Paulo e, por fim, Fluminense.

- Cada clube que passei e cada momento que eu tive foi muito legal. A primeira vez que eu joguei no profissional foi no Paulista, de Jundiaí. O treinador que acreditou em mim foi o Luiz Carlos Ferreira e acabei fazendo dois gols na estreia. Depois a primeira vez que joga em um time grande, a passagem pelo Palmeiras e depois Santos. Primeira vez na Europa, qualquer jogador sonha em ir para lá e tive momentos importantes na Espanha, na França - falou.

As únicas passagens de Nene na Seleção Brasileira foram na sub-20 e sub-23, esta em 2003, no pré-olímpico para os Jogos de Atenas-2004. A equipe ficou em terceiro, com três vitórias e dois empates. O meia fez um gol. Ele chegou a ter um convite para jogar pela França feito por Laurent Blanc.

- A convocação para o pré-olímpico com a Seleção Brasileira, que era um sonho. Ter jogado com a camisa 10 do Paris Saint-Germain foi legal também por ídolos meus que jogaram antes de mim como Ronaldinho e Raí. Tiveram muitas coisas. Cada um foi especial. Esse momento da Libertadores tem sido especial, ter sido o mais "experiente" (risos) a marcar em um mata-mata é incrível. É uma honra ter feito isso com a camisa do Fluminense - completou.

Nene foi o herói da partida contra o Cerro, na Libertadores (Foto: AFP)

Bem humorado nos vídeos publicados pelo Fluminense nas redes sociais e constantemente brincando com os companheiros, Nene também mostra o lado de um jogador competitivo, mesmo na reta final da carreira. Ele acredita que balancear os dois lados é essencial para a estabilidade nesta fase da vida.

- Se não equilibrar acaba passando, demonstrando ou tendo atitudes que não vão ajudar. Acho que também cheguei nesse nível porque sou muito competitivo mesmo (risos). Claro que tem que ter o equilíbrio, porque senão acaba passando do ponto e não é legal. Isso me ajudou muito. Eu sempre fui um cara muito alegre, mas, claro, se eu não estou ajudando a fazer meu trabalho, eu não gosto. É normal. Muita gente fala que não aceita isso ou aquilo, mas é questão de querer ajudar, participar. Isso fez com que eu chegasse onde cheguei. Se eu não tivesse essa competitividade poderia ter me acomodado, baixado o nível e acaba perdendo oportunidades. Isso foi bom para eu estar no nível que estou fisicamente.

Acostumado a lidar com os mais jovens, especialmente no Fluminense, Nene leva algumas de suas experiências de vida para os companheiros. No grupo atual do Tricolor, os mais novos são Kayky e Jefté, com 17 anos, Calegari, André, Martinelli e John Kennedy, com 19, além de Pedro Rangel, Gabriel Teixeira e Luiz Henrique, com 20. Já os mais velhos além do meia, são Fred, aos 37, Matheus Ferraz, de 26, David Braz, Muriel e Egídio, com 34, Raúl Bobadilla, 33, Ganso, Manoel e Samuel Xavier, com 30.

- Acho que tudo que podemos aprender desde o início da carreira, quando vai pegando experiência. Nunca querer ser mais do que ninguém, principalmente no futebol e isso leva para a vida. As coisas mudam, uma hora você está aqui, outra hora lá e acaba precisando de uma pessoa. Ser correto, honesto e dar tudo de si a cada momento é muito bacana. O exemplo que eu quero passar é que a disciplina e a paixão pelo que fazemos te faz ganhar muito tempo - finalizou.

Nene foi o artilheiro da temporada passada (Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C)

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APRENDIZADOS 

Você vai aprendendo muitas coisas e vai crescendo como pessoa também. Futebol não é só dentro de campo, é igualdade, às vezes proporciona várias coisas para nós. Eu aprendi vários idiomas, por exemplo, que na escola não tive tempo de aprender e nem possibilidade quando era mais novo. Acho que tudo que podemos aprender desde o início da carreira, quando vai pegando experiência. Nunca querer ser mais do que ninguém, principalmente no futebol e isso leva para a vida. As coisas mudam, uma hora você está aqui, outra hora lá e acaba precisando de uma pessoa. Ser correto, honesto e dar tudo de si a cada momento é muito bacana. O exemplo que eu quero passar é que a disciplina e a paixão pelo que fazemos te faz ganhar muito tempo. Nem eu mesmo imaginava que aos 40 anos estaria jogando ainda em um time grande, uma Libertadores, possibilidade de jogar as quartas de final, a possibilidade de ganhar um título. Espero que isso seja um exemplo. Não gosto muito de ficar falando, acho que a atitude que arrasta. Se falar uma coisa a pessoa ouve, mas você ter o ato do que está falando marca muito mais. Fico muito feliz de ter jogadores me dizendo que sou uma inspiração, não só os jovens, mas os mais experientes. Atletas que jogaram comigo e estão contra. O Hernanes, no jogo contra o São Paulo. Ele é um cara fenomenal, um ídolo deles e da Seleção. Ouvir isso de jogadores renomados e da molecada. Ser esse exemplo de dedicação e disciplina, não tem preço.

CONSELHO PARA O NENE MAIS JOVEM

Um pouco mais de paciência às vezes. Quando eu saí do Brasil poderia ter ficado um pouco mais, eu estava sendo cotado para a Seleção principal e às vezes quer atropelar as coisas. Não me arrependo de nada, de forma alguma, sou muito grato por tudo que tive, a Deus pelo que passei. Foram vários degraus que fui subindo e fui pouco a pouco. Não fui para um clube grande na Europa, isso foi bom. Mas eu diria que paciência. Em um determinado momento ou não poderia ter saído depois de um clube, no PSG, por exemplo, que muita gente até hoje fala que foi muito rápido.

INSPIRAÇÕES COMO TREINADOR

O que eu gosto muito é o Guardiola. Vi uma série e estou lendo o livro dele. É fenomenal, acho que todos gostam dele, é um dos melhores treinadores do mundo, se não for o melhor. Gosto muito do Ancelotti, trabalhei junto com ele no PSG. Alguns que já passaram e eu aprendi bastante também, desde Luxemburgo a Papito (Odair Hellmann), o próprio Roger (Machado) é muito inteligente e tem ideias boas. Vou falar só alguns porque depois cobram que não citei (risos).

LEGADO

Espero deixar um exemplo bom, um legado legal de um jogador que deu tudo de si, correto, honesto, verdadeiro, competitivo, disciplinado e apaixonado pelo que faço. Um pouco desse conjunto todo me deu uma longevidade maior. Poderia ter parado há quatro ou cinco anos, que é o normal de jogador.

FAMÍLIA

É a base de tudo. Primeiro, meus pais sempre me apoiaram, depois a família toda. Ser um orgulho para os seus filhos não tem preço, isso te motiva ainda mais. O jogador de futebol fica muito longe, sofre bastante, mas o apoio, a força e o amor que recebemos nos mantém felizes e motivados a cada dia de ir para o trabalho e fazer nosso melhor. É primordial ter uma família, uma companheira, um companheiro. Minha esposa me ajuda e me apoia o tempo todo nos maus e bons momentos. Os familiares, amigos e as pessoas ajudam a estar aqui hoje e dar o melhor para eles, retribuir toda dedicação e amor que me deram ao longo dos anos.

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