Comentarista do Sportv, a jornalista Ana Thaís Matos fez um longo desabafo sobre a contratação do técnico Cuca pelo Corinthians. O treinador foi acusado de cometer violência sexual em 1987, em Berna, na Suíça, enquanto atuava pelo Grêmio. Ela falou sobre os ataques que vem sofrendo nos últimos anos por sempre abordar assuntos referentes às mulheres.
- Esse assunto dispara tantos gatilhos em mim que eu não tenho mais forças para falar sobre isso. Porque eu lembro nos últimos quatro anos como comentarista das muitas guerras que eu escolhi para lutar e os impactos disso na minha profissão. A forma que as pessoas me enfrentam, me encaram, como as pessoas se relacionam comigo nas redes sociais - iniciou.
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Na continuidade da sua fala, Ana Thaís questionou sobre os recentes casos de violência praticados por atletas do futebol contra mulheres.
- Vou citar dois casos bem emblemáticos: o caso Robinho (condenado por estrupo na Itália); e um dia que fiz um jogo contra o Vitória, quando o jogador Wesley (Pionteck) tinha esfaqueado o rosto da namorada, e falei sobre esse caso de violência de gênero. Muitos colegas nas redes sociais me atacaram.
- Eu fico pensando: do que valeu há dois, quando vazaram os nossos números dos nossos colegas na época, quando abordamos o caso do Robinho, do que valeu? Caminhamos para que lado? A comunidade do futebol ignorou todo esse debate, e segue ignorando. Porque os jogadores, os agentes do futebol, que estão envolvidos com casos de violência de gênero, seguem tendo segundas chances. Ontem, vimos o Jean (goleiro do Cerro Porteño acusado de violência doméstica contra a ex-mulher) no jogo (contra o Palmeiras, pela Libertadores). O futebol permite essa volta por cima para estes homens - disse.
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A jornalista ressaltou que os profissionais de comunicação não são juízes e não podem ditar o que é ou não é sobre os casos. Entretanto, segundo ela, é necessário trazer esses assuntos à tona, pois o esporte ainda é um espaço para debates sociais.
- Nós não somos juízes, não temos que falar se estuprou ou não, se bateu ou não. Não é a gente que tem que falar quem estuprou ou não, temos que falar o que significa aquela imagem de violência no ambiente de futebol. Estamos vivendo um processo de revisitar histórias na sociedade. Nós estamos revisitando a história do movimento negro, das mulheres, nós somos agora presença nos debates esportivos - disse Ana Thaís, que emendou:
- Ninguém quer que o Cuca seja preso, que ele vá para a Suíça, mas ele tem que revisitar essa história. Isso é uma opinião minha muito particular, como ele pode revisitar essa história: ele tem que sentar e falar “gente a sociedade em 1987 era de outra forma, tínhamos hábitos de outra forma, as coisas aconteceram, eu não tive controle sobre a minha carreira naquele ponto, não tive forças para dialogar com isso, não sabia como dialogar, e hoje, quase 40 anos depois, eu tenho recursos suficientes para falar sobre esse assunto”. Porque o futebol ainda é um espaço de debate sobre questões sociais e não podemos viver em um mundo alienado - completou.