Arouca supera morte do pai, retoma carreira e busca clube para 2020
Ao LANCE!, volante fala sobre sua trajetória, conta histórias e comenta a perda de seu pai, motivo que lhe afastou dos campos em 2019
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Por muitos anos, Arouca dominou o meio-campo de diversas equipes vitoriosas do futebol brasileiro. Sempre indicado como um dos melhores volantes do país, o habilidoso e experiente carioca sempre fez barulho dentro das quatro linhas de uma forma muito única: discreto e eficiente.
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Fluminense, São Paulo, Santos, Palmeiras, Atlético Mineiro e Vitória. Campeão do Brasileirão, Libertadores, Copa do Brasil e Estaduais. Passagens pela Seleção Brasileira desde o sub-15 até a principal. Superou o racismo, superou um caso falso de doping e superou até mesmo o capítulo mais triste de sua vida: a perda de seu pai, seu principal incentivador, e como o próprio afirma, seu herói. Foram muitos obstáculos, mas de fato, Arouca possui uma das histórias mais vitoriosas dos últimos anos no futebol brasileiro. E com a discrição de sempre.
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Arouca falou sobre toda sua carreira. E começou falando justamente sobre sua história que o trouxe até o estrelato. Nascido em Duas Barras, município carioca com pouco mais de 10 mil habitantes, o volante deu seus primeiros passos nas Laranjeiras, vestindo a camisa do Fluminense. A partir de 2000, quando passou em seu primeiro teste, o céu era o limite.
- Eu sou do interior do Rio, de Duas Barras. Eu fui fazer um teste no Fluminense em 2000 e passei. Foram nove anos de clube, juntando a parte profissional. Pude passar por todas as categorias de base da seleção sub-15, sub-17 onde fui campeão mundial e também disputei o mundial sub-20. Quando eu subi para o profissional em 2004, tive poucas oportunidades porque estava iniciando ainda. Foi em 2005 que eu tive mais oportunidades e me firmei de vez quando o Abel (Braga, treinador) me colocou pra jogar e fomos campeões cariocas -, afirmou.
Foi com a camisa do Fluminense que Arouca pode vivenciar um dos maiores momentos da história do clube: a heróica campanha da Libertadores de 2008. Um time recheado de grandes jogadores: Thiago Silva, Conca, Leandro Amaral, Thiago Neves, Washington, Cícero, Dodô... a lista era longa. Ao L!, Arouca relembrou a campanha e falou sobre a infelicidade do trauma do vice-campeonato para a LDU em pleno Maracanã.
- Foi uma campanha extraordinária que a gente estava fazendo. Passamos pelo Boca Juniors, pelo São Paulo que tinha um timaço com o Adriano. Perder aquela final foi muito traumático para o grupo, porque era um grupo muito unido. Tínhamos alguns jogadores como Washington, Dodô e Leandro Amaral que eram muito de grupo e sempre nos orientavam, principalmente aqueles que estavam começando. A gente sabia que era um momento único que estávamos passando, era uma oportunidade ser campeão da Libertadores pelo Fluminense e nós sabíamos que tínhamos uma chance.
'Perder aquela final foi muito traumático para o grupo, porque era um grupo muito unido'
Na final com a LDU, no primeiro jogo, a altitude foi muito determinante. Nós levamos dois gols muito rápidos. Quando a gente acordou para o jogo eles já tinham feito dois gols, mas mesmo assim ainda conseguimos diminuir um pouco a vantagem. No jogo de volta, conseguimos fazer o resultado que nos levasse para os pênaltis. Infelizmente, pênalti é aquilo, né. Nossos melhores batedores perderam naquele momento, e só perde quem bate. Mas foi uma campanha extraordinária. Era um grupo extraordinário só com amigos -, recordou.
Outro momento de grande destaque na carreira do volante foi sua ida para o Santos, em 2010, quando o São Paulo decide negociá-lo com o rival em troca do volante Rodrigo Souto. Mal sabia Arouca que, por mais que não estivesse interessado em acertar com o clube, ele faria história ao lado de jovens como Neymar e Paulo Henrique Ganso.
- Eu falo que foi Deus que me tirou do São Paulo e me colocou no Santos naquele momento. No primeiro momento eu não queria ir, mas o São Paulo queria muito o Rodrigo Souto e o Santos acabou me envolvendo nessa troca. Eu só estava começando, sabia que tinha muitos jovens, mas fui de coração aberto. Eu queria retomar o espaço, voltar a jogar em alto nível e acabei pegando uma geração extraordinária com garotos de muita qualidade, como o Neymar, Ganso, André e Wesley, mas que sabiam o que estavam fazendo.
'Naquela época, todo mundo parava para ver o Santos jogar. Cada jogo era um show, um show à parte do Neymar e do time.'
Eles tinham uma certa responsabilidade quando começavam a jogar, jogavam com alegria. Tinha o extracampo, coisa de garoto que as vezes extrapolava um pouco (risos) e a gente tinha que acabar entrando na onda deles. Foi uma geração muito vitoriosa que ficou marcada para os santistas. Naquela época, todo mundo parava para ver o Santos jogar. Cada jogo era um show, um show à parte do Neymar e do time. Muitos falavam que jogar do lado do Neymar era fácil. Sem dúvidas, era fácil, mas tinha uma estrutura por trás que ajudava bastante.
Era um grupo muito forte com jogadores experientes, como o Edu Dracena, o Durval, Léo e Marquinhos com alguns jovens, então a gente tinha que dar uma freada em algumas situações que fugia do controle. Mas é uma geração inesquecível, conquistamos vários títulos. No primeiro ano foram o Paulista e a Copa do Brasil. No segundo, Paulista e Libertadores. No terceiro ano foi Paulista e Recopa. Com certeza, é um grupo que vai ficar marcado -, afirmou.
Um dos episódios mais marcantes da geração vencedora do Santos foi a derrota para o Barcelona na final do Mundial de Clubes, por 4 a 0 com um show de Messi e companhia. Entretanto, Arouca revelou uma história hilária de Pará, lateral direito titular do time que competiu na final. Por conta do constante toque de bola da equipe da Catalunha, o jogador julgou que a equipe adversária estava com medo e afirmou que a equipe paulista iria ganhar o jogo.
- Quando o jogo começa com o Barcelona, o time toca a bola para trás, a bola volta nos zagueiros. O Pará vira e fala: "Ih rapaz, ganhamos o jogo, os caras estão com medo, estão jogando para trás" (risos). A gente sacaneou muito ele depois. Lógico que muito depois, por conta do ocorrido. Mas a gente pegou muito no pé dele (risos) -, relembrou em meio a risadas.
No dia 6 de março de 2014, Arouca entrou para a infeliz lista de jogadores negros que sofreram casos de discriminação racial. Na ocasião, o Santos goleou o Mogi Mirim fora de casa por 5 a 2, mas o resultado pouco importou diante da triste situação. Ao sair de campo no fim do jogo, torcedores do Mogi Mirim o chamaram de 'macaco'. Cinco anos depois, o volante nos contou como foi passar pela situação e falou sobre a impunidade no futebol sobre casos de discriminação racial.
- No meu caso tinha sido uma coisa nova porque eu nunca tinha passado esse tipo de situação, constrangedora desse jeito. De fato, foi até em um jogo que eu fiz dos gols mais bonitos da minha carreira. Durante o jogo eu não tinha escutado vindo da arquibancada. Tanto é que no fim do jogo, eu fui dar uma entrevista e tinha alguns torcedores por perto. Eu fui questionado sobre a seleção e eu falei que eu ainda sonhava em voltar para a Seleção, aí eu escutei da arquibancada: "só se for a seleção da África do Sul". Eu olhei para a arquibancada mas não consegui identificar de onde veio, então deixei de lado.
Depois fui olhar na televisão e vi que eu tinha sido chamado de macaco.
'É até difícil tocar nesse assunto. Algumas pessoas falam que a gente está se vitimizando, mas não é. Enquanto não houver uma punição severa, rígida para essas pessoas, vai continuar acontecendo, porque se trata de um crime.'
É até difícil tocar nesse assunto. Algumas pessoas falam que a gente está se vitimizando, mas não é. Enquanto não houver uma punição severa, rígida para essas pessoas vai continuar acontecendo, porque se trata de um crime. Um exemplo é a questão do Taison. Ele foi vítima de racismo, mas acabou sendo expulso e levando punição da federação, então acabou que ele foi não foi a vítima. Jogaram para cima dele. Tem que juntar a federação, o clube e eles ficarem ao lado do jogador e dar apoio, além de achar essas pessoas e dar uma punição severa. Se não, vai continuar acontecendo - relembrou, indignado.
Dois anos depois, já com a camisa do Palmeiras, Arouca passa por uma situação inusitada que quase lhe rende sérios problemas. Ao tomar uma infiltração aplicada por um médico do Palmeiras após sentir dores no joelho, o jogador acabou sendo pego no doping por um erro de registro da medicação. Após uma breve investigação, sua inocência foi provada, mas a situação ficou marcada em sua memória.
- Na verdade até hoje eu não sei muito direito (o que aconteceu). Na época, o médico fez a infiltração porque eu estava sentindo dores no joelho, que é normal no futebol. Do nada, vieram me falar que eu tinha sido pego no doping. Eu logo disse 'Como assim, doping? Eu não tomo nenhum remédio sem falar com o médico, não faço nada' e me disseram que tinha sido a infiltração. Como foi a infiltração se o próprio médico do Palmeiras que aplicou em mim? Na hora dá aquele baque, você fica sem entender e sem saber como se defender. Eu jamais iria sujar minha carreira para levar vantagem ou alguma coisa assim.
Só me apeguei a minha família, porque eu fiquei alguns dias sem poder ir ao clube ou treinar até que esse mal entendido fosse resolvido, mas depois eu pude voltar a jogar. Eu não aceitava o meu nome estar rolando assim, sendo acusado de levar vantagem ou alguma coisa assim. Pelo contrário, sempre tive uma carreira limpa e jamais iria fazer alguma coisa para me prejudicar ou prejudicar o clube. -, contou.
Após passagens por Atlético Mineiro e Vitória, Arouca se viu obrigado a dar uma pausa em sua carreira por um motivo complicado. O jogador sofreu com alguns problemas pessoais, e, principalmente, a perda de seu pai.
Com os olhos cheios de lágrimas, o atleta se emociona ao falar daquele que não só era seu companheiro e maior fã, mas, principalmente, seu super-herói.
- Eu estava passando por problemas familiares, problemas pessoais e optei por dar um tempo. Eu precisava estar com a cabeça totalmente focada para poder aceitar qualquer tipo de desafio. Eu preferi optar por ficar mais com a família, resolver minhas questões pessoais. Depois, eu tive outro grande problema que foi a perda do meu pai, e como o campeonato já estava rolando, ficou mais difícil de voltar.
'Foi a pior (experiência) da minha vida. Meu pai era tudo para mim. Meu herói.'
Foi a pior (experiência) da minha vida. Meu pai era tudo para mim. Meu herói. O cara que me levava com meu irmão mais novo para as quadras quando ele ia jogar bola. Através dele que a gente começou a gostar de jogar futebol. Ele sempre estava me ligando, falando comigo e sempre se sentia orgulhoso da carreira que eu construí. Para mim foi um baque a perda dele, porque eu jamais esperaria perder ele assim tão novo -, conta Arouca, bastante emocionado.
Mas como o próprio jogador afirmou, o pior passou. Focado e dedicado, Arouca está pronto para retornar ao futebol. Hoje, aos 33 anos, já recebeu algumas sondagens de times brasileiros e espera poder concretizar o seu retorno para disputar a temporada de 2020.
- Sempre surgem algumas sondagens, algumas conversas. A gente vai conversando, analisando e eu espero poder voltar agora no começo do ano a fazer o que eu mais gosto. Tenho me dedicado bastante, não parei de treinar, estou com um preparador físico e venho treinando todos os dias e todas as semanas, para quando eu tiver a oportunidade de fechar com um clube, estar preparado. Eu tenho fé em Deus que eu vou voltar agora no começo do ano - finalizou.
Confira a entrevista completa de Arouca ao LANCE!:
Como você avalia sua passagem pelo Fluminense?
- Chegamos na final da Copa do Brasil em 2005 e perdemos para o Paulista. Na época, eu perdi os dois jogos da final justamente por estar no Mundial Sub-20 e por um descuido nosso, deixamos a vaga para a Libertadores escapar naquele ano. Foi um ano mágico no Fluminense, mesmo perdendo a Copa do Brasil. Dois anos depois, nós viemos a ganhar com o Renato Gaúcho. Acho que foi uma passagem muito boa pelo Fluminense. Também teve a Libertadores, que infelizmente perdemos aquela final que não tem como esquecer. Eu não esqueço daquela final. Até quando eu encontro alguns tricolores, eles falam sobre aquela final. Foi uma injustiça a gente não ter levado aquela Libertadores pela campanha que a gente fez, mas são coisas do futebol e graças a Deus depois eu pude ganhar uma Libertadores pelo Santos -.
Saída conturbada do Fluminense em 2008:
- Muitos não entendem, somente alguns acabam entendendo. Nesse meio acontece muita coisa, então é preciso ver o lado do jogador, do atleta. Até porque a gente estava conversando (com a diretoria) para tentar uma renovação porque o contrato estava acabando, e as pessoas que estavam comandando o Fluminense naquela época não faziam muita questão de uma renovação de contrato.
Então, eu e com meu falecido empresário, tentamos várias vezes chegar para conversar e tentar resolver sobre um novo contrato para não esperar deixar faltar seis meses de contrato para acabar, mas eles falavam que era para deixar mais para frente. Foi quando meu empresário chegou para mim e disse que, já que eles não queriam renovar o contrato, nós precisávamos ver o nosso lado. Foi quando surgiu o interesse do São Paulo e eu acabei indo para o São Paulo -.
Chegada ao São Paulo e improvisação para atuar na lateral direita:
- Foi um fato novo, mesmo no começo de carreira, porque nem na base eu tinha atuado como lateral. Chegando no São Paulo, tinha um grande elenco que era tricampeão brasileiro e era recheado de volantes, como Hernanes, Richarlyson e outros que estavam super bem. Eles tinham acabado de contratar o Eduardo Costa também, então tinha muitos jogadores de qualidade na minha posição. Ele (Muricy) acabou optando por me utilizar como lateral-direito, porque na época tinha uma ausência de laterais no elenco e ele acabou me utilizando assim.
Eu, como sempre fui um jogador de grupo, de querer ajudar mesmo sem ter muita experiência naquela posição, me coloquei à disposição. Falei para ele que se ele precisasse poderia contar comigo. Eu estava chegando no clube que tinha acabado de ser tricampeão brasileiro e eu queria procurar o meu espaço, mas sabia que teria que ser aos poucos. No primeiro momento eu tive um pouco de dificuldade na lateral direita, depois acabei acostumando entre aspas porque era uma posição que eu não me sentia muito à vontade, mas estava ali para ajudar. Com o tempo, ele (Muricy) percebeu que eu estava ali para ajudar e chegou até me colocar como volante em algumas vezes também e eu me saí bem. Foi uma experiência bem única -.
Como era o vestiário do Santos com Neymar, Ganso e cia?
- Muitas das vezes você tinha que entrar na brincadeira porque se não você acabava sendo zoado (risos). Eram jogadores de muita qualidade, que sabiam o que estavam fazendo. Em um certo momento eles extrapolavam em alguns brincadeiras fora de campo, mas tinha uma alegria para jogar enorme, no vestiário, indo para o jogo, seja cantando ou botando música. Uma coisa que eu não tinha vivenciado era essa alegria que eles tinham.
Eles sabiam do compromisso de um jogo super difícil, mas era sempre a mesma disposição com um sonzinho no vestiário, fazendo as dancinhas e essas coisas. Eu, como sou mais contido, tentava me concentrar mais no jogo, mas eles sempre botavam aquela musiquinha que não tem como você não entrar no embalo. Foram anos mágicos, conquistando esses títulos. Mas sobre a garotada, não tinha como frear (risos) -.
O dia em que Neymar "roubou" seu carro e deixou no gramado da Vila Belmiro
- Eles gostavam às vezes de me sacanear porque eu não entrava na brincadeira. Eu fui deixar a chave do meu carro com o rapaz da recepção para que ele levasse para o jogo. Daqui a pouco, bateram no vestiário e me avisaram que meu carro estava dentro do campo. Neymar, André e Madson pegaram a chave do meu carro com o cara da recepção, não sei como, pegaram meu carro no estacionamento e deixaram dentro do campo. Na hora eu fiquei p***, mas não podia mostrar que estava assim porque seria até pior. Então eu fingi que nada tinha acontecido e coloquei o carro no lugar, mas fiquei com a chave na mão até entregar na mão do cara (risos).
A fatídica goleada para o Barcelona na final do Mundial
- A gente tinha um time muito bom, campeão da Libertadores com jogadores cascudos e alguns jovens, mas sabíamos do que a gente iria enfrentar no mundial. Em nenhum momento a gente deixou de acreditar, a gente colocava na cabeça que era possível. No primeiro jogo fomos super bem, ganhamos sem passar nenhum tipo de sufoco. Até assistimos o jogo do Barcelona, que teve dificuldades para passar do jogo da semifinal e isso nos empolgou ainda mais (risos), pois achamos que poderia dar certo. Na nossa opinião, a gente pegou o melhor time que o Barcelona teve na história. Se não for o melhor, é um dos três melhores.
Demos esse azar de pegar esse time de tanta qualidade. Nós tivemos muita dificuldade de marcar, até para jogar e deu naquilo. A gente lamentou bastante. Lógico que foi muito bom estar no Mundial, mas não queríamos sair daquele jeito. Nós colocamos na cabeça que seria possível, mas ao mesmo tempo, a gente sabia que iríamos ter muita dificuldade. A gente sabia que poderia surpreender, mas foi ao contrário. Foi uma coisa que nos chateou bastante do modo que foi, pois tivemos muita dificuldade e não oferecemos muita dificuldade ao Barcelona naquele momento. Serviu de aprendizado -.
Vestir a camisa da Seleção Brasileira pela primeira vez
- Foi um sonho realizado. Você sonha desde pequeno chegar ao profissional, depois chegar na Seleção Brasileira e representar o seu país. No momento da convocação, você é um dos melhores do país, em um país que tem tantos jogadores de qualidade. Demorou um pouco a cair a ficha. Eu estava até descansando na época, quando minha esposa me acordou dizendo que eu tinha sido convocado. Eu não acreditei. Por mais que já tivesse um tempo que eu estava buscando a oportunidade. Eu entreguei na mão de Deus e se tivesse que ser, aconteceria. Foi um momento de felicidade para mim, minha família e para todo mundo. É uma coisa que ficou marcado, sem dúvida.
A conturbada saída do Santos na justiça por conta de salários atrasados
Não foi uma decisão fácil. Muita gente não sabe porque eu evito ficar falando nesse assunto, mas a gente tentou por quase um ano resolver minha situação. Meu empresário marcava reunião, eu pedia para falar com o presidente e nada. Todo trabalhador merece receber o seu salário, pois você trabalha para receber. Eu entendia a situação do clube, mas eu queria uma posição do clube. Da carteira (de trabalho) eles nunca deixavam (chegar) em três meses porque isso daria o direito ao atleta rescindir o contrato, mas de imagem tinha mais de seis meses (atrasado), tinha mais de três meses de luvas atrasadas, fundo de garantia eles não pagavam... tinha muita coisa por trás.
A gente tentava conversar, marcava reunião para entender o que estava se passando e para ver se eles davam uma solução, mas eles desmarcavam reunião e faziam pouco caso. Não davam suporte. Querendo ou não, a gente está ali para receber, temos família para sustentar. Eu acho que o que pesou mais foi o pouco caso que fizeram sobre a minha situação, onde a gente tentou escutar o clube para entender a situação, mas em nenhum momento fizeram questão de parar para explicar a situação. Esperamos até mudar de presidente, tentamos marcar uma reunião para tentar entender o que estava se passando, mas ele não conseguiu se comunicar com o meu empresário. Nós tivemos essa oportunidade de sair naquele momento.
Lógico, não era da maneira que eu queria sair. Eu sou grato ao Santos por tudo que me proporcionou, que fez por mim no futebol. Me colocou novamente no cenário, me fez ganhar um dos títulos mais marcantes da minha carreira. Foi um momento mágico que eu passei lá. Eu passei cinco anos no Santos, não foi pouco tempo. Alguns torcedores entenderam, mas foram poucos. Muitos se revoltaram. Eu até entendo entre aspas, porque querendo ou não eu tinha muita identificação com eles, mas eu precisava ver o meu lado. Eu lamento ter saído daquele jeito, mas foi a única solução que eu tive. Foi muito tempo tentando conversar, tentando resolver as situações e nada aconteceu. Não foi só por causa do salário. Estava tudo atrasado, mas eles não queriam me dar uma explicação ou tentar resolver a situação. Eu tenho os torcedores do Santos no meu coração, tenho um carinho pelo clube, um respeito e sou muito grato por tudo -.
A história mais inusitada de sua carreira
- Acho que foi participar da gravação do filme do Pelé. Na época que eu estava no Fluminense, eu participei. O Toró era o Pelé e eu era o Coutinho. Pra mim foi uma coisa muito estranha. A gente ensaiava em Xerém. Treinava de manhã e as vezes tinha o ensaio a tarde. O ensaio era simular comemoração. O Toró pegava a bola, ia driblando os jogadores encenando aquele gol contra o Fluminense. Então o Pelé ia driblando os jogadores, os jogadores do Fluminense iam caindo, um deles era o Diego Souza. Aí iam caindo, ele fazia o gol e a gente tinha que comemorar com ele (risos) -.
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