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Conheça a história de superação de Nara Sant’Ana, QB campeã mineira de flag pelo Cherries Bomb

Jogadora nasceu sem parte do braço esquerdo, mas isso não a impede de ser uma atleta de alta performance

Nara é um exemplo de superação e conquistou neste ano o Campeonato Mineiro de flag football
imagem cameraFoto: (Tiago Munden) - Nara é um exemplo de superação e conquistou neste ano o Campeonato Mineiro de flag football
Dia 19/12/2022
08:01
Atualizado em 19/12/2022
11:00

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Quem assiste aos jogos do time feminino de flag football do Cherries Bomb, de Ouro Branco-MG, se encanta ao ver a quarterback Nara Sant'Ana atuando. A atleta nasceu com uma deficiência e não possui a mão esquerda, mas isso não a impede de praticar esporte de alto rendimento e ter uma vida normal. Prova disso é que neste mês de dezembro, a jogadora liderou o seu clube ao título do campeonato mineiro da modalidade disputado em Monte Santo, cidade localizada no Sudoeste de Minas Gerais.

Em entrevista a Valinor Conteúdo, Nara Sant'Ana destaca a emoção e os desafios de levar o Cherries Bomb ao título mineiro. A jogadora também destacou os percalços dias antes da competição e como isso levou o grupo a ficar ainda mais forte em busca deste sonho.

“Foi bem desafiador todo o processo antes da nossa ida. Resolvemos ir de última hora e tivemos o desfalque de várias atletas. Dois dias antes da competição ainda não tínhamos o transporte que nos levaria para o campeonato confirmado. Mas chegando lá, o clima da competição tomou conta do nosso time. Somos muito unidas, conversamos muito e resolvemos usar esses desafios como motivação. Após todos os jogos nos reuníamos e relembrávamos de todos esses desafios. Acho que a união da equipe e força de vontade foram os principais pontos que fizeram com que chegássemos ao título”, recordou.

Além dos desafios logísticos e desfalques de atletas, Nara Sant'Ana também teve que superar uma lesão no ombro direito, descoberta na semana do Campeonato Mineiro de flag football. Por isso, a atleta vai ter que iniciar um tratamento na próxima temporada para ficar 100%.

“Três dias antes do campeonato, recebi o resultado de uma ressonância do ombro e descobri várias lesões. Fui jogar, mas a base de remédios para dor e com meu ombro muito comprometido. Agora, pretendo fazer as sessões de fisioterapia e me recuperar dessa lesão. Mas assim que estiver recuperada pretendo treinar bastante para contribuir com o time do Cherries Bomb em tudo o que  puder”, afirmou.

Superação, família e amor ao esporte
Apesar de o flag football ser um esporte em que as mãos são essências, Nara Sant'Ana revela que como foi criada pelos seus pais a ajuda a superar as adversidades. Mesmo com a deficiência, a atleta salienta que sempre praticou esportes e outras atividades.

“Eu nasci com minha deficiência, então para mim meu corpo sempre foi normal. Meus pais me trataram da mesma forma que trataram meus irmãos, sem dar muita evidência à minha deficiência. Falávamos sobre, mas sempre com muita naturalidade e assim fomos vivendo. Quando criança fiz natação, balé, aula de dança, mas o que eu gostava mesmo era de esporte. Com 11 anos eu mesma tomei a iniciativa de começar a jogar handebol. Dentro do handebol eu participei de vários campeonatos, doa 11 aos 26 anos”, ressaltou.

“Jogar esportes praticados com as mãos, sem uma das mãos, parece algo difícil de imaginar, não é verdade? Mas se me vissem jogando futebol ou qualquer outro esporte com os pés entenderiam porque eu insisto em praticar esportes com as mãos”, completou Nara que também já foi campeã mineira de handebol.

Questionada sobre como o flag football entrou em sua vida, a atleta disse que a modalidade entrou meio por acaso e que também não tinha muito ideia da responsabilidade que uma quarterback tem para o time, quando escolheu a posição.

“Confesso que não conhecia o flag, nem o futebol americano eu tinha costume de acompanhar. Mas aí surgiu a ideia de formar um time feminino de flag aqui em Ouro Branco e começamos a treinar. Um dia, bem no começo dos treinos, um dos coaches disse ‘vamos escolher as posições’. Sem pensar muito, eu falei ‘quero ser aquela pessoa que lança a bola’, sem ter a menor ideia da responsabilidade que era ser QB de um time. E assim foi! Depois, os técnicos começaram a fazer os treinos específicos comigo”, explicou.

Discriminação e importância de ser exemplo para outras pessoas
Apesar de sempre ter levado uma vida normal, Nara Sant'Ana revela que em algumas situações já percebeu olhares diferentes de outras pessoas, mas acredita que o exemplo que ela passa é maior do que qualquer dissabor que ela possa receber no esporte.

“No meio esportivo, sempre percebia olhares diferentes, pessoas que vinham falar comigo após os jogos, mas isso nunca me incomodou, mesmo quando criança. Eu sempre fui muito dedicada e buscava o reconhecimento devido às minhas habilidades e não por conta da minha deficiência. Eu não me incomodo que as pessoas perguntem, comentem ou fiquem olhando. Sempre vejo isso como algo positivo. Imagina se em todos os campeonatos esportivos tivéssemos uma pessoa com o corpo fora do padrão tendo a oportunidade de jogar de igual para igual contra o seu adversário? Acho a mensagem que posso passar muito maior do que qualquer comentário ofensivo, então foco só nisso”, destacou.

Professora de educação física, Nara Sant'Ana também fala sobre a importância de criar uma cultura desde a infância sobre pessoas que não têm um corpo padrão definido pela sociedade. Ela também acredita que atuar com pessoas sem algum tipo de deficiência pode inspirar outros a fazerem o mesmo.
“Sou Professora de Educação Física Escolar e, sem querer ser prepotente, acho importantíssimo que crianças em idade de formação tenham uma Professora de Educação Física com o corpo totalmente fora do padrão que nossa sociedade prega para alguém do meio esportivo. Sei que pode parecer pequeno, mas essas crianças já vão crescer com o pensamento diferente e enxergando um corpo com deficiência como algo comum, e não limitante”, explica.

“Essas crianças vão difundir essa mensagem. Da mesma forma, alguém que tem alguma deficiência e está na arquibancada me vendo jogar pode começar a ver a possibilidade de um dia estar em campo também, entender que no campo, jogando, também pode ser o lugar dela. Ou alguém pode estar assistindo um jogo meu e tem um parente ou amigo que também tem uma deficiência e comentar com essa pessoa e chamar ela para praticar um esporte ou algo do tipo. Enfim, entendem como a questão da representatividade importa? Quero usar meu lugar de fala e difundir a mensagem de que as pessoas com deficiência podem fazer o que elas quiserem, podem e devem ocupar todos os lugares, só nossa mente é capaz de nos limitar”, finaliza.

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