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‘Cartolas não choram, cartolas agem’

Luiz Fernando Gomes descreve como os clubes argentinos desafiaram a AFA, se negaram a ceder jogadores para a seleção olímpica e levaram o técnico à demissão

Luis Segura, candidato à presidência da AFA (Foto: Juan Mabromata / AFP)
imagem cameraLuis Segura comandava a AFA (Foto: Juan Mabromata / AFP)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 06/07/2016
15:44
Atualizado em 06/07/2016
16:50

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Faturar o tricampeonato olímpico, repetindo 2004 e 2008, ainda mais com os Jogos no Brasil, e ainda mais com Neymar em campo buscando a conquista inédita de um ouro brasileiro, seria certamente um momento de glória do futebol argentino. Seria...

Mas do lado de baixo do rio da Prata há algo mais no ar do que os impulsos nacionalistas e ufanistas de sempre. A atitude dos dirigentes de Independiente, River Plate e Rosário Central, recusando-se a ceder jogadores para a seleção olímpica é um marco. Ao invés de ficar choramingando pelos cantos ou bufando ameaças vazias diante dos microfones, como os Bandeiras, Modestos e Andrades fazem por aqui - os hermanos foram à luta. E, ao menos por enquanto, tomara que isso perdure, parecem dispostos a arcar com as consequências de seus atos, dando um claro recado à cambaleante AFA e a seus interventores.

Ainda que isso possa custar um ouro olímpico.

Como se sabe, apesar de apoiado pela federação, o técnico Tata Martino entregou o boné. Segundo análise do diário Olé, cansou-se do caos que se instalou na administração da AFA, decepcionou-se com a aposentadoria de Messi da seleção e, a gota d`água, viu-se refém de 12 jogadores - há quem diga que são apenas seis - que até aqui aceitaram a convocação para a Rio-2016. "Inacreditável, tudo um desastre" reagiu o treinador. Depende do ponto de vista...

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Desastre, lá como cá, mesmo que por cá seja ainda pior, é a forma como as federações tratam os clubes, sempre em segundo plano, sempre sacrificados em nome de outros interesses nem sempre legítimos. Desastre é a forma submissa, condescendente e cúmplice com que os clubes sempre reagiram, lá como cá, às imposições e aos desmandos, legitimando os autores nas urnas ou nos conselhos de decisão das federações.

Já a reação do triuvirato porteño - o Boca ficou de fora, talvez por ter se tornado o clube do status quo com a chegada de Macri, seu ex-presidente, à Casa Rosada - está muito longe de ser um desastre. Com o esfacelamento da AFA, vislumbra-se a oportunidade real de, terminado o período de intervenção imposta pela Fifa, reconstruir-se o futebol argentino em novos parâmetros, com a formação de uma liga nacional e poder efetivo dos clubes nas decisões. O que se vê agora, com a pequena rebelião olímpica, é uma marola de esperança. Se isso vai virar uma onda, os próximos dias, os próximos meses dirão.


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