Luiz Gomes: ‘Da promessa ao fracasso, a ilusão da geração belga’
Seleção de Lukaku, De Bruyne & Cia. caiu em mais uma competição que disputou
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Algumas seleções entraram para história mesmo sem ter ganho um título. A Itália de 82 aparece nas estatísticas da Copa do Mundo, mas o Brasil de Telê Santana, de Zico, Sócrates, Falcão e Júnior é muito mais lembrado do que aquele time de Paolo Rossi. A Hungria de Puskas na década de 1950, conhecida como o Time de Ouro, o carrossel holandês de Cruyff e Rinus Michels nas copas de 1974 e 1978, deixaram sua marca na história. Perdedores, sim, mas muito mais relevantes do que os vencedores.
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A década de 2010 foi marcada por uma promessa que está em vias de virar, tão somente, uma ilusão. A melhor seleção belga de todos os tempos estava pronta para conquistar o mundo. Duas Copas do Mundo, três Euros e duas Ligas das Nações Europeias depois, o time de Kevin De Bruyne, Eden Hazard e Romelu Lukaku só acumula fracassos. Sem nenhum título de peso conquistado, humilhados em momentos decisivos, como essa semana na derrota de virada contra a França, os Diabos Vermelhos ao que tudo indica passarão à história não por seus feitos, não pelo seu jogo, mas por meras derrotas.
Pode até ser um diagnóstico excessivamente cruel, lançar o futebol belga dessa forma na sarjeta da história. Pelo menos para nós, brasileiros, ficará a memória daquela sofrida eliminação na Copa da Rússia. Mas, se em termos de resultados, o legado é decepcionante, fora do campo há muita coisa boa para ser contada. Um trabalho consistente que pode ajudar a manter o país competitivo nessa e em décadas futuras.
Faz tempo, desde o início dos anos 2010, que a transformação belga começou. Todas as seleções, do sub-15 ao time principal, têm o mesmo esquema de jogo. O 3-4-3, ousado, ofensivo, implementado pelo espanhol Roberto Martinez, no comando dos Diabos desde 2016, começa a ser aplicada nos primórdios da base. Mais do que isso, clubes como o Anderlecht, o Brugge e o Liége, os principais do país, foram instados em algum momento a jogar da mesma forma. E isso tornou não apenas o futebol, mas o próprio país mais forte.
Numa sociedade profundamente dividida aquela seleção que nos despachou, chegou ao quarto lugar na Rússia, tinha 11 dos 23 jogadores originários do Sul e, por isso, falando francês, e outros 12, vindos do Norte, falando neerlandês. Para acabar com grupinhos regionalistas que dificultavam o trabalho dos treinadores, o inglês foi adotado como língua oficial. Uma decisão, aliás, não muito difícil já que 21 jogadores atuavam fora do país, 11 dos quais na Premier League.
Mas, se tem tudo isso, por que os belgas ainda fracassam?
Gestão eficiente e questões político-administrativas à parte, o fato é que no futebol globalizado de hoje não bastam o talento e a técnica, é preciso uma estabilidade emocional, um equilíbrio que seja capaz de transformar tudo isso em resultados. Talvez seja isso que falte aos belgas para entrar no seleto clube dos campeões do mundo. Ou, mesmo derrotados, para marcar a passagem dessa geração. A busca desesperada por resultados, a obrigação de vencer e erguer uma taça, pesam mais do que a camisa do adversário.
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