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Carreira na Ásia, sonho por seleção e evolução do futebol brasileiro: Péricles Chamusca abre o jogo ao L!

Treinador está fora do Brasil desde 2013, fez carreira no Japão e agora comanda o Al-Faisaly na Arábia Saudita

Péricles Chamusca
Péricles Chamusca estava fora do Brasil desde 2013, quando comandou o Coritiba (Foto: Divulgação)

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O treinador Péricles Chamusca deixou o Brasil em 2013, quando comandava o Coritiba, para fazer sua segunda passagem na Ásia. Desde então, o brasileiro não voltou mais e segue fazendo seu nome no continente, acompanhando o crescimento do esporte em países que vem investindo, como a Arábia Saudita, onde trabalha desde 2018.

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, o treinador do Al-Faisaly explicou o ótimo momento para trabalhar na Arábia Saudita, que vem recebendo investimentos massivos do governo para o desenvolvimento do esporte.

- Agora eu estou na Arábia Saudita, e hoje é o melhor momento de se trabalhar hoje na Arábia Saudita. O País tem um projeto até 2030 e o futebol está envolvido nisso. Nesse projeto, a ideia é de aumentar o nível da liga. Hoje cada clube pode contratar sete jogadores estrangeiros com suporte financeiro do governo, porque clubes menores também tem acesso, não diria aos mesmos valores, mas com muito mais condições de contratar se não houvesse ajuda do governo. O nível da liga hoje é muito forte na Arábia Saudita. Esse ano é o segundo ano da liga com muitos estrangeiros, e quando vai jogar o primeiro colocado contra o último colocado, você não tem uma previsão de resultado. Isso criou um equilíbrio muito grande na liga e aumentou o nível da liga, que tem sido muito bom para o desenvolvimento da região - afirmou.

Um ponto negativo das mudanças recentes na liga, segundo o comandante, é o excesso de estrangeiros para cada time, que dificulta o desenvolvimento de jovens jogadores sauditas e deixa um pouco de lado o futuro do país no futebol.

- A única coisa negativa é que, como são muitos estrangeiros, isso tira muito espaço do jogador saudita, principalmente os jogadores mais jovens que tem pouco espaço de maturação. Eles estão sem o campeonato Sub 23, que é algo que eu já tenho conversado com o nosso presidente para estar tendo desenvolver junto a federação para criar o campeonato sub 23 para dar espaço ao desenvolvimento dos atletas mais jovens, já que com esse número de estrangeiros fica muito difícil. E isso vira reflexo até na própria seleção, que fica com poucos jogadores em atividade na liga. Tem esse lado negativo desse formato, mas o nível da liga cresceu bastante - completou.

O comandante também não escondeu o seu maior objetivo, ou melhor, seu maior sonho para a carreira: dirigir uma seleção. E mesmo na quinta colocação do campeonato saudita, uma proposta da seleção local seria irrecusável.

- Em todos os países que eu passei, meu nome também foi lembrado pelas federações locais para a seleção. Eu sempre procuro nos países que eu trabalho buscar esse cargo máximo, pois é um sonho meu dirigir uma seleção. No país que eu estou trabalhando, eu sempre estou buscando isso, porque é um objetivo já que a gente conhece a cultura local, os jogadores e temos a condição e a capacidade de desenvolver um trabalho com sucesso. Isso é um sonho que eu estou perseguindo e, na Arábia Saudita não é diferente. A gente está sempre buscando nessa segunda temporada cada vez mais firmar o nosso trabalho para que a gente, em algum futuro, ter o nosso nome lembrado para dirigir a seleção - revelou.

Já no Brasil, um dos pontos que podem melhorar no futebol brasileiro, segundo o comandante, é a gestão extracampo dos clubes. A cultura do imediatismo e resultadista, por exemplo, deveria ser trocada por projetos de longo prazo.

- Eu ainda acho que precisamos melhorar no Brasil é a parte extracampo de gestão. Ainda trabalhamos na zona do imediatismo, com o recorde de troca de treinadores, mudança de metodologia constante sem um rumo certo. Isso a gente precisa ainda, apesar de termos alguns exemplos de clubes que buscam esse formato, ainda é muito pequena a quantidade de clubes com essa mentalidade. Ainda, na sua maioria, não tem planejamento, não tem nenhum tipo de planejamento estratégico para direcionar o trabalho dentro do departamento de futebol. Isso acho que é o principal. Esse 100% de profissionalização do nosso futebol, para que também haja reflexo dentro do campo - encerrou.

Confira outros trechos da entrevista:

Sucesso no comando do Oita Trinita, no Japão:

- Realmente, desde a nossa passagem de cinco anos no Japão com bons resultados, com trabalho de quatro anos em um clube só, que é raro acontecer no nosso cenário do futebol brasileiro de um trabalho completo. Você assumir uma equipe prestes a cair de divisão e transformar numa equipe que conquista um título nacional. Esse é o melhor trabalho que eu tenho na minha carreira como treinador, porque é um trabalho com início, meio e fim que você consegue desenvolver tudo que você precisa desenvolver, inclusive por se tratar de uma cultura totalmente diferente e de buscar uma mescla de qual seria o melhor formato para aquela cultura. Nesse caso em específico do Japão, que a gente criou uma metodologia para esse cultura. Esse foi o trabalho mais completo que eu fiz pelo tempo de trabalho e pelas conquistas. A minha passagem no Catar eu trabalhei em três clubes grandes do Catar tendo também bons resultados. Todo esse contexto fez com que eu trabalhasse todos esses anos na Ásia -

O vice-campeonato da Copa do Brasil com o Brasiliense contra o Corinthians em 2002:

- No Brasiliense eu cheguei na época da Copa Verde e da Copa do Brasil, e não participei da Série C. Encontrei um grupo com quase 50 atletas que eu tive que fazer um remanejamento para eu ter um grupo com a quantidade de jogadores que pudesse treinar com qualidade. Era uma equipe muito bem qualificada. Nós conseguíamos jogar de igual para igual com todos os grandes com um futebol de muita qualidade, posse de bola e velocidade. A gente teve destaque e um dos jogadores que mais se destacaram naquele ano foi o Wellington Dias, que era um jogador muito acima da média. Tinha o Gil Baiano muito bem também, o Carioca que era um segundo volante de Natal diferenciado... A gente tinha um time muito bom. Essa equipe chegou com mérito na final da Copa do Brasil, inclusive jogando de igual para igual com o Corinthians nos jogos das finais, e até com alguns questionamentos, algumas coisas para a gente questionar em termos de arbitragem que aconteceram no primeiro jogo. Sem dúvida, chegamos com merecimento na decisão -

Passagem pelo São Caetano e a morte trágica de Serginho:

- Sem dúvida, essa passagem no São Caetano a gente teve coisas positivas, mas tivemos o momento mais triste da minha carreira como técnico de ver um atleta nosso morrer dentro do campo. Sem dúvida, isso foi a pior experiência que eu já tive no futebol. O contexto de ter chegado ao clube depois da saída de um grande treinador que era o Muricy (Ramalho) e com a equipe em 11° na tabela, mas uma equipe com muitos jogadores de qualidade e no processo de formação, então a gente teve também a sorte de ter pego um trabalho de um treinador de alto nível como o Muricy, então isso facilita o desenvolvimento do seu trabalho na sequência. Nós conseguimos colocar o São Caetano na briga pela Libertadores e pelo título, e levamos isso até o final da temporada, quando anunciaram que o São Caetano iria perder pontos em função daquela questão do Serginho.

É muito importante frisar que o São Caetano foi um dos primeiros clubes antes da regra da avaliação obrigatória de atletas, foi um dos primeiros clubes que já tinha esse nível de organização. Todos os atletas faziam os exames antes de começar a temporada, o clube fazia todo o processo bem feito. A questão do Serginho foi uma fatalidade. Nós, no momento dentro da competição em que ocorreu isso no jogo contra o São Paulo, até completar o jogo contra o São Paulo foi um período dos mais difíceis. A gente não teve condição nenhuma. Tentamos criar um cenário, chegamos em cima da hora ao jogo, não aquecemos dentro do vestiário e sim no campo tentando mudar todo o cenário. Na hora que o jogo começou, a gente não conseguiu tirá-los desse sentimento. Fizemos um jogo muito ruim e perdemos. O que aconteceu na sequência foi que todo o grupo, comissão técnica e diretoria nos fechamos numa ideia que esse seria o último título que Serginho poderia ganhar na vida dele, porque ali, se a gente conquista o título, ele também seria campeão. Isso foi uma ideia que se fechou e foi fundamental para dar forças ao grupo para continuar. Depois daquele momento do jogo contra o São Paulo, nós tivemos uma sequência de cinco jogos sem perder e alimentamos uma sequência positiva de novo na competição ao ponto de chegar faltando três rodadas para brigar pelo título. Mas quando anunciaram que a equipe iria perder os pontos, os três últimos jogos houve uma queda de performance e uma situação totalmente atípica do que a equipe vinha apresentando até o momento em que a gente estava brigando pelo título -

Uma possível volta ao Brasil:

- Eu tenho vontade de voltar a trabalhar no Brasil. Na verdade, eu não retornei ao Brasil depois desse momento porque sempre tive boas propostas para trabalhar na Ásia, e do Brasil não chegavam propostas que me interessavam de clubes com condições de disputar o Campeonato Brasileiro ou brigar por uma Libertadores. Esses convites eu não recebi. Então, sempre fiz a opção de continuar fora do país por conta disso, mas sem dúvidas tenho vontade de voltar ao Brasil, mas nessa condição de um clube estruturado que tenha como meta a classificação para a Libertadores e que a gente possa buscar esse cenário para retornar ao Brasil. Seria um cenário muito positivo. Outra coisa importante é voltar ao Brasil para iniciar um trabalho, com montagem (de elenco) e com pré-temporada, não como esse último trabalho que eu fiz no Coritiba que a gente chegou para salvar a equipe do rebaixamento, ajudamos no processo mas sempre é muito difícil gerir uma coisa que você não participou da montagem. É um cenário muito mais difícil no futebol brasileiro. É chegar no cenário de montagem, de pré-temporada para que você possa fazer um trabalho planejado -

A evolução dos treinadores brasileiros:

- O Brasil sempre teve grandes profissionais e o todo país tem bons profissionais que são treinadores do futebol mundial hoje. Essa é uma questão que eu acho que se cria uma polêmica sem muita necessidade. Jorge Jesus chegou ao Flamengo, eu inclusive trabalhei e o enfrentei aqui na Arábia Saudita quando ele estava no Al-Hilal, e sem dúvidas é um grande treinador com destaque em Portugal. Assim como no Brasil tem vários treinadores de excelente qualidade como ele. Ele chegou num momento muito bom no Flamengo, um momento em que o Flamengo fez um planejamento a nível administrativo, um planejamento a longo prazo e veio pouco a pouco para tornar o Flamengo uma potência em estrutura, em organização em relação a parte administrativa e financeira. Ele chegou em momento muito bom no Flamengo, sendo um bom profissional num bom momento em um grupo clube grande como o Flamengo, as coisas aconteceram da melhor maneira possível. Os resultados vieram e ele conseguiu mostrar suas capacidades como treinador, mas tudo também em função de um cenário que ele encontrou muito positivo, que não tira a valorização dele como treinador. É um treinador de muita qualidade, é destaque em Portugal e todos sabem da sua qualidade como treinador. Mas nós temos treinadores brasileiros no mesmo nível que ele, e como em todo mundo, existem grandes profissionais -

A demora da profissionalização do treinador brasileiro no Brasil:

- Uma das coisas que no decorrer dos anos atrapalhou um pouco os treinadores brasileiros, principalmente no exterior, é que vários países se organizaram para as licenças dos treinadores com muito mais tempo. O Brasil demorou muito a criar um curso, uma licença com credibilidade, com muitas horas de curso e conteúdo qualificado. Isso é coisa recente do Brasil. Isso aí, além de nós brasileiros não termos também produzido material, a gente não tem muito material produzido por nós brasileiro, e isso foi uma coisa que outros treinadores de outras nacionalidades terminaram pegando essa vertente e se organizaram melhor em relação às licenças e criaram mais material. Tudo isso fez a gente perder um certo tempo para a retomada do espaço do treinador brasileiro em função desse delay nas licenças, que era uma coisa que no mundo inteiro todo mundo já estava bem organizado. Hoje, nós temos um curso da CBF Academy, que é um curso nos padrões da UEFA, que tecnicamente seria o melhor curso de treinadores. O nosso curso tem o mesmo padrão de qualidade, inclusive algumas coisas até a mais. Isso agora nos coloca em igualdade de novo, porque era isso que faltava para estar de novo nessa concorrência com o mercado externo -

*Estagiário sob supervisão de Tadeu Rocha.

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