Luiz Gomes: ‘O martírio sem fim de Vasco, Botafogo e Cruzeiro na Série B’
'O equilíbrio da Série B é impressionante – a rodada começou com uma diferença de apenas seis pontos entre o décimo e o quarto lugar que fecha a zona de acesso'
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Um dia, em 2003, quando Botafogo e Palmeiras rebaixados disputaram juntos a segunda divisão do Brasileirão, o inesquecível Luciano do Valle cunhou uma frase que virou uma espécie de assinatura daquela Segundona: “Como é gostosa essa Série B!”.
Sabe-se lá, vivo fosse, se Luciano ainda repetiria a mesma frase. Mas uma coisa é certa: a mais disputada Série B de todos os tempos pode até ser gostosa – e de fato é - para quem está assistindo de fora. Mas para botafoguenses, vascaínos e principalmente cruzeirenses, não tem absolutamente nada de gostosa. Muito pelo contrário, é um martírio.
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O torneio tornou-se uma verdadeira montanha russa, um perde ganha com variações de resultados que beiram o inexplicável. A semana que termina foi um exemplo disso. Quando tudo parecia estar entrando nos eixos para Vasco e Botafogo, surgiram tropeços inesperados. E comprometedores.
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A boa fase do alvinegro, com a chegada de Enderson Moreira ao comando, foi surpreendentemente interrompida com a derrota que fechou a 17ª rodada, para um Operário paranaense desfalcado de nada mais, nada menos, dez de seus jogadores. E o Bota ainda teve um pênalti que não foi dado pela arbitragem - um erro que, aliás, não é a primeira vez que acontece prejudicando o time carioca, numa Série B sem VAR – e que poderia ter garantido o empate, mantendo a invencibilidade e a sequência de três vitórias com o novo treinador.
Com o Vasco não foi muito diferente. A derrota para o Remo, na abertura da 18ª rodada, na sexta-feira, fez com que o cruz-maltino interrompesse uma promissora ascensão desde a chegada do técnico Lisca, perdesse a chance de chegar ao G4 e caísse de novo na tabela. E também foi uma derrota com requintes de crueldade, com o goleiro Vanderlei expulso por cortar uma bola fora da área, um lance inusitado e raríssimo de acontecer. É a bruxa de faro anda perseguindo os dois grandes do Rio.
O equilíbrio da Série B é impressionante – a rodada deste fim de semana, que só termina neste domingo, começou com uma diferença de apenas seis pontos entre o décimo e o quarto lugar que fecha a zona de acesso. Tão impressionante quanto a instabilidade que se vê em boa parte dos times. A começar pelo Náutico.
O campeão pernambucano teve um início avassalador, o melhor da história do torneio, permaneceu na ponta durante 14 rodadas, abriu uma vantagem significativa, o trabalho de Hélio dos Anjos foi enaltecido e, não mais que de repente tudo isso foi por água abaixo, com uma sequência de cinco jogos sem vencer, quatro derrotas consecutivas – incluindo uma goleada vexatória para o Confiança de Sergipe, lanterna e que luta para escapar da zona de rebaixamento.
Com o primeiro turno próximo do fim, é impossível fazer previsões de quem vai ser campeão e quem vai subir para a elite em 2022. Mas é fácil prever que o inferno do Cruzeiro, longe do fim, tem tudo para continuar, mesmo com Vanderlei Luxemburgo tendo a missão de salvá-lo. O time sofre para alcançar, ao menos, o meio da tabela de classificação, tropeça nas próprias pernas como mais uma vez no empate de ontem com o Sampaio Corrêa. E flerta com a zona de rebaixamento.
Com cinco campeões brasileiros – além de Vasco, Botafogo e Cruzeiro, o Coritiba e o Guarani – muito se esperava dessa Série B. Mas nem os mais otimistas imaginavam o tamanho da emoção – e do sofrimento! A Segundona tem força, mobiliza o país de Norte a Sul, revelando um futebol de viés regionalista, bairrista, que passa ao largo da elite. Cada vez mais ganha espaço e audiência na TV. Precisa, portanto, ter um tratamento de primeira. A chegada do VAR, a partir do segundo turno, vai nessa direção. A CBF reconhece, enfim, o produto que tem nas mãos. Antes tarde do que nunca!
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