‘Muricy conhece os medos e tentou encará-los por paixão ao futebol’
Técnico repete há tempos que não quer 'terminar como Seu Telê' e agravar problemas de saúde devido ao estresse gerado pelo trabalho de treinador em grandes clubes
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Muricy Ramalho formou-se como técnico sob as asas de Telê Santana. Assim, aprendeu a ser campeão, perfeccionista e teimoso na mesma proporção. Foi campeão brasileiro, como o Mestre. Foi campeão da Libertadores, como o Mestre. Sagrou-se ídolo do São Paulo, como o Mestre. Mas sempre rejeitou terminar a carreira como o Mestre, combalido por problemas de saúde.
Não foram poucas as vezes em que o fim de Telê no futebol, causado por uma isquemia cerebral, foi citado por Muricy como razão para desejar uma carreira curta como treinador. Ainda durante o tricampeonato brasileiro pelo São Paulo, entre 2006 e 2008, as frases "isso aqui é muito duro" e "não quero terminar como o Seu Telê" foram repetidas dezenas de vezes.
Quando voltou ao Tricolor Paulista em 2013, com a missão desgastante de salvar o clube do rebaixamento, Muricy já falava em encerrar a carreira assim que o contrato com o clube terminasse. O plano era motivado pela primeira crise de diverticulite, que o abateu ainda nos tempos de Santos. A primeira missão foi cumprida, o contrato renovado, mas a saúda seguiu abalada.
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Em setembro de 2014, torcida e elenco viviam a expectativa por mais um título do Campeonato Brasileiro quando Muricy foi internado pela primeira vez com arritmia cardíaca. O então coordenador técnico Milton Cruz precisou assumir o time em algumas partidas, cujos resultados positivos foram dedicados ao treinador e ídolo dos são-paulinos.
Muricy não ganhou aquele Brasileirão, mas ganhou sobrevida com o vice. Talvez não esperasse tamanha pressão sobre o rendimento ruim de sua equipe nos primeiros jogos de 2015, muito menos o terror interno provocado por uma diretoria acusada de escândalos de corrupção e que teve um presidente renunciando diante das denúncias.
Em abril de 2015, quatro meses após mais uma internação por crise de diverticulite, Muricy prometia dar um tempo. Hora de descansar, finalmente. O técnico sempre conheceu seus medos, mas tentou encará-los por paixão ao futebol. Diminuiu a cerveja, aumentou os exercícios físicos e contou com a ajuda da mulher para levantar-se. Viajou, estudou e aceitou o desafio de dirigir o Flamengo, onde pouca pressão é bobagem.
Por mais que Telê seja um Mestre irretocável, talvez seja hora de contrariá-lo. Por mais que a nova arritmia seja mais branda do que a anterior, talvez seja hora de devolver o boné e cuidar da vida mais do que da história.
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