Julgados por doping, Nilton e Wellington Martins são suspensos por mais quatro meses
Volantes do Internacional foram punidos com cinco meses, mas já cumpriram um. Procuradoria do STJD e Colorado podem recorrer da decisão, que foi em primeira instância
Foram mais de cinco horas de julgamento na sede do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), no Rio de Janeiro. Denunciados por terem sido flagrados no exame antidoping, os volantes Nilton e Wellington Martins, ambos do Internacional, corriam o risco de serem suspensos por até quatro anos, o que motivou a preocupação de ambos durante um julgamento repleto de depoimentos e indagações. A punição veio, mas ficou em cinco meses retroativos. Como já cumpriram um – por conta da suspensão preventiva –, eles ficaram afastados do futebol mais quatro meses: até abril de 2016.
A defesa colorada tentou diminuir a punição imposta para três meses, mas a justificativa apresentada foi que já havia acontecido uma flexibilização muito grande no caso. Wellington deixou o Tribunal chorando e não quis falar com a imprensa presente, assim como Nilton.
Como o julgamento foi em primeira instância, a Procuradoria e o Internacional podem recorrer da decisão desta sexta. Segundo os advogados colorados, a tendência é que a Procuradoria faça tal opção.
A DENÚNCIA CONTRA A DUPLA
A Procuradoria ofereceu denúncia, no dia 26 de novembro, contra os atletas por infração ao artigo 6, itens 1, 2 e 3, do Regulamento de Controle de Doping da Fifa. Nilton e Wellington Martins testaram positivo para as substâncias hidroclorotiazida e clorotiazida – Nilton em jogos contra Corinthians, no Brasileiro, e Palmeiras, na Copa do Brasil, nos dias 16 e 30 de setembro, respectivamente. Já Wellington Martins foi flagrado no dia 23 de setembro, no jogo de ida contra o Palmeiras, na Copa do Brasil.
Desde que nenhum outro atleta do Internacional teste positivo em um novo exame antidoping, o clube não corre risco de ser punido. Tal risco existe, pois foi realizado um exame surpresa no elenco colorado também no último dia 26. A tendência é que o resultado seja divulgado na próxima terça-feira.
O advogado André Ribeiro foi o responsável pela defesa dos jogadores. Além dele, os advogados Daniel Cravo e Rogério Pastl, ambos do Internacional, estiveram presentes no julgamento. Fernando Solera, médico e presidente da CNCD (Comissão Nacional de Controle de Doping) da CBF, Cristiane Caldas, representante da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem)e o Dr. Luís Horta, especialista em doping e membro da UNESCO, e o bioquímico Marco Aurélio Dorneles, convocado pelo Inter, também participaram e foram ouvidos pelos auditores do STJD.
No início do julgamento, Nilton, em depoimento emocionado, afirmou que sempre consumiu o suplemento que causou o doping por todos clubes que passou. O volante ainda afirmou que o produto foi uma recomendação de sua esposa, que é profissional de educação física e que o Internacional fornece ao elenco outra marca de proteína. Já Wellington, que conheceu a proteína por meio de Nilton, afirmou que só fez uso do suplemento "duas ou três vezes".
– Não estava tendo tanto desgaste, pois não estava jogando tanto. Quando chegou a nova comissão, passei a ter mais sequência. Passei a ter desgaste muscular. Minha mulher passou a ver que chegava cansado em casa. Aí passei a ingerir a proteína – justificou Nilton, em depoimento ao auditores do STJD.
O médico Fernando Solera, presidente da CNCD, afirmou que costuma dar palestras para clubes de todas as divisões do futebol brasileiro. No caso do Internacional, Solera declarou que se ofereceu para palestrar, mas o clube recusou. Tanto Nilton quanto Wellington Martins disseram que nunca receberam instruções sobre o doping, como palestras e reuniões. Solera também admitiu que suplementos podem ser contaminados. O bioquímico Marco Aurélio Dorneles, por sua vez, garantiu que o atleta não teria ganho ao utilizar um diurético.
ACUSAÇÃO, DEFESA E VOTAÇÃO
Após André Ribeiro, advogado dos volantes, fazer a defesa da dupla e Cristiane Caldas, da ABCD, fazer a explanação da acusação, teve início a votação. O relator Leonardo Andreotti foi o primeiro. Ele destacou a gravidade do caso, lamentou o fato de os atletas não terem se informado sobre os suplementos e decidiu por uma punição de cinco meses.
– Está muito claro que houve violação à regra antidoping. Mas estou afastando a intencionalidade. O que afasta a aplicação de quatro anos (de pena). Caso de dopagem não é brincadeira. Por isso quero que os atletas entendam a gravidade da situação e a passem para colegas e amigos – destacou.
Na sequência, foi a vez do relator Marcelo Coelho, que, após breve discurso, acompanhou o voto do de Leonardo Andreotti: Cinco meses retroativos de punição.
O terceiro e último voto foi de Wanderley Godoy Júnior, presidente da Quarta Comissão Disciplinar. Ele também votou por cinco meses de punição:
– Eu realmente pensava em dar os quatro anos, mas vou acompanhar o voto dos relatores por tudo o que foi exposto aqui.
A SITUAÇÃO CONTRATUAL DE NILTON E WELLINGTON
Contrato nesta temporada após boa passagem pelo Cruzeiro, Nilton, que firmou contrato de três temporadas com o Colorado, disputou 41 jogos pelo Inter nesta temporada, tendo marcado dois gols. Ele vinha sendo titular desde a chegada de Argel Fucks.
Já Wellington chegou ao Internacional no ano passado, emprestado pelo São Paulo por uma temporada. Como sofreu grave lesão, o que prejudicou seu desempenho no Colorado, seu empréstimo foi renovado até o fim deste ano. A tendência é que o Inter não renove tal vínculo.