Há muito tempo, o envolvimento de Marco Polo Del Nero nas falcatruas do chamado Fifagate deixou de ser apenas uma suspeita. É um fato desde que o FBI o investigou e a Justiça americana o indiciou por sete crimes entre fraudes, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A decisão da Fifa de bani-lo definitivamente do futebol, portanto, não chega a ser uma novidade.
Era o mínimo que a entidade poderia fazer. O que surpreende nesse caso é que, quatro anos depois de estourar o escândalo internacional de corrupção em que está metido até a raiz dos ralos cabelos que ainda possui, o ex-cartola-mor do Brasil continue a perambular livremente pelas ruas, no seu próprio país, sem que a Justiça brasileira ou o Ministério Público Federal se atentem para seus crimes?
O que mais é preciso para que ele seja processado aqui como está sendo lá fora? Que provas mais serão necessárias além dos contundentes depoimentos que o denunciam e as montanhas de documentos reunidos nos EUA, rastreando propinas e recebimentos de favores em troca de benesses na comercialização de direitos de TV?
É vergonhosa a inércia das autoridades brasileiras.
Certa vez, quando lhe perguntaram sobre os processos que também responde nos EUA, na Espanha e em Andorra, Ricardo Teixeira, como todos sabemos, uma espécie de chefão-honorário da trupe que se apossou da CBF nas últimas três décadas, explicou que eles eram a razão de ter voltado a morar por aqui. "Tem lugar mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não", disparou numa entrevista à Folha de S. Paulo. Triste realidade.
Del Nero e Teixeira são sujeitos de sorte. Infelizmente, não estavam no lugar certo na hora certa - aquela manhã de maio de 2015 quando a polícia suiça invadiu o hotel cinco estrelas de Zurique levando presa a cúpula da bandidagem do futebol mundial, o agora condenado José Maria Marin, entre eles. Desde então, Del Nero exilou-se no seu próprio país, com medo de viajar ao exterior e também acabar na cadeia. Para o futebol brasileiro, isso teve um custo alto: a perda de representatividade, de influência nas instâncias internacionais o que causou prejuízos à CBF e aos clubes em competições como a Libertadores. Para Del Nero, contudo, significou muito pouco.
Só a ação do MP e da Justiça brasileira podem aplicar ao ex-cartola a punição que merece. Inclusive o ressarcimento dos prejuízos que durante anos causou ao futebol brasileiro. É isso que a sociedade espera. É isso que já tarda demais a acontecer.
*Luiz Fernando Gomes é editor do L! Espresso e colunista do L!