Luiz Gomes: ‘Abel dá a volta por cima e já é vencedor no Brasileirão’
Queimou a língua quem considerava o técnico ultrapassado. É verdade que não foram boas as passagens por Cruzeiro e Vasco, mas Abelão vai escrevendo uma nova história no Inter
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O Internacional pode não ser o campeão brasileiro. Esse é um campeonato absolutamente imprevisível, nivelado, e arriscar um palpite de quem vai levantar o caneco em fevereiro é um mero exercício de achismo. O Colorado? Atlético, Flamengo, Grêmio? Santos e Palmeiras correndo por fora, até o São Paulo, apesar da crise, tudo isso é possível, embora mais ou menos provável.
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Mas a campanha do Inter nessa reta final indica que ao menos um vencedor já se conhece no Brasileirão da pandemia: Abel Braga. E poucos treinadores merecem tanto quanto ele não apenas o sucesso em campo, mas o reconhecimento de seu trabalho pela crítica e pelo público.
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Abel precisava acertar, dar a volta por cima. Desde a passagem bem-sucedida pelo Fluminense, ainda que marcada pela tragédia pessoal da perda do filho, não vinha encaixando um trabalho legal. No Flamengo, foi vítima das práticas inescrupulosas e "bolsonarolandilescas" do presidente Rodolfo Landim, do primeiro-ministro Bap e sua trupe. Foi apunhalado pelas costas, com sorrisos e promessas de apoio pela frente enquanto o clube negociava com Jorge Jesus nos bastidores. "Não suporto traição", declarou ao despedir-se.
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Não se trata de comparar seu trabalho com o do português. É óbvio que não. Mas pouca gente se lembra que Abelão deixou o Rubro-Negro com um aproveitamento de 62,4%, conquistado mesmo antes da chegada de reforços como Rafinha, Gerson, Pablo Mari e Filipe Luís, que mudaram a cara do time e foram fundamentais na histórica e mágica campanha de 2919.
Trata-se de lidar com um profissional com a dignidade que ele merece. Qualquer profissional que seja, ainda mais um profissional como Abel, justo, bom caráter e quase uma unanimidade de boas lembranças por onde passa. Coisa que, se não chega a ser rara, certamente não é a tônica no universo de egos aguçados do futebol tupiniquim.
Queimou a língua quem considerava Abel ultrapassado, acabado – é verdade que não foram boas as passagens por Cruzeiro e Vasco. Ele mudou o jeito do Inter jogar, pegou um time muito bem armado pelo argentino Eduardo Coudet, mas não abriu mão de colocar em prática sua própria filosofia de trabalho. O Inter - e o jogo com o São Paulo mostrou isso claramente - tem intensidade, mobilidade, marca alto, gosta da posse de bola, tem linhas bem plantadas e aproximadas, uma transição rápida que tem gerado bons resultados. Tudo o que se convencionou chamar de "futebol moderno" se vê hoje no Colorado.
Abelão tem história no Internacional. A Libertadores, o Mundial de Clubes. Não é de hoje, muita gente defende que se erga uma estátua em sua homenagem à porta do Beira-Rio, como Renato ganhou a sua na Arena do Grêmio. A conquista desse Brasileirão, se vier, seria, de novo, uma consagração.
O título deixaria em maus lençóis a diretoria do Inter, apalavrada que está com o espanhol Miguel Ángel Ramirez que já deixou o Independiente Del Valle. O contrato de Abel foi prorrogado até o final do Brasileirão - uma atitude correta do novo presidente Alessandro Barcellos. Mas será que haveria uma explicação para dispensar um treinador depois de ser o campeão do Brasil?
O futuro dirá. Haja o que houver, é emocionante ver os olhos de Abel voltarem a brilhar ali na beira do gramado. Mais do que o Inter, o torcedor colorado, ganhamos todos, todos nós que gostamos do futebol.
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