Os direitos de transmissão adquiridos pelos canais de mídia contemplam a fatia mais generosa de faturamento na grande maioria das modalidades esportivas. Uma recente matéria do Lance! Biz mostrou que o Brasileirão gera cerca de R$ 2 bilhões por ano com as vendas destes direitos.
Além das elevadas cifras, outra característica do atual contexto é a pulverização dos detentores dos direitos. Antigamente, o Grupo Globo possuía a quase totalidade deles aqui no país, mas a entrada recente de novos competidores, especialmente as plataformas de streaming, mudou o panorama.
+ Coluna do Fábio Ritter: "O Brasileirão melhorou, e muito, como produto"
Diante deste cenário ultra pulverizado e competitivo, qual é a melhor estratégia para os canais de mídia se diferenciarem para os fãs do esporte?
O primeiro pilar estratégico é ser um provedor de conteúdos exclusivos. Tão cliché como desafiador nos dias de hoje, essa estratégia é o que vai levar o fã para o seu canal. Aqui não me refiro apenas às transmissões de jogos, mas tudo aquilo que é possível se criar ao redor do esporte.
Ontem mesmo vi que a ESPN está para lançar o documentário do Seu Waldemar, caso famoso do novo treinador anunciado em 2003 para comandar o Flamengo que gerou revolta imediata da torcida. Fizeram um documentário disso, pasmem! Isto porque, poucas indústrias geram tantas histórias como o esporte e talvez nenhuma engaje tanto como ele.
Além destes documentários, séries, podcasts e programas são outros integrantes importantes desta estratégia. Outra vertente recente, da qual sou fã de carteirinha, é a análise técnica dos jogos. Analistas especializados, muitos com certificado CBF, esmiuçam o jogo como nunca vimos aqui no país, levando o entendimento técnico e tático a um novo patamar.
Direitos de transmissão estão cada vez mais disputados no mercado (Foto: Alex Pantling/AFP)
Em segundo lugar, o esporte é um organismo vivo que pulsa sem parar, assim como os canais de mídia precisam ser. Informar o torcedor a cada segundo é um pilar fundamental. Nosso Lance! nasceu da demanda latente do torcedor em querer saber cada vez mais sobre seu time.
Informações de treinamentos, atletas lesionados, provável escalação, contratações, onde comprar ingressos, resultados, entre outros, são elementos do dia a dia que geram interesse ad aeternum do fã. Um exemplo disso são os aplicativos de esportes que são os dos poucos que o usuário deixa com todas as notificações ativadas no seu telefone para justamente não perder nada.
Outra estratégia importante para os canais de mídia é ser um facilitador para o torcedor em diversas frentes. Os canais devem ser um agregador de informação como muito bem executam perfis de twitter como o @futnatv que passa diariamente a grade de todos os jogos que terão transmissão no país e os respectivos canais.
+ Coluna do Fábio Ritter: "Como medir o retorno de patrocínios esportivos?"
Estas informações poderiam ser apresentadas de uma forma personalizada para cada usuário dos canais esportivos que ao logar no seu site ou aplicativo já teria os respectivos dados da sua operadora. A customização pode e deve ser aplicada também em outras áreas. Conteúdos específicos do seu time na landing page, agenda e resultados dos campeonatos de interesse, performance atualizada no fantasy game, notificação dos temas escolhidos e análises dos comentaristas preferidos poderiam ser apresentados em um dashboard personalizado para cada usuário.
Outra frente é facilitar a interação entre os fãs que desejam cada vez mais conversar durante as transmissões, compartilhar experiência e opiniões sobre os jogos. Quem não tem aquele grupo de WhatsApp só para comentar durante a partida do seu time? Conteúdos criados pelos próprios torcedores inclusive são outra importante estratégia que os canais podem lançar mão participando deste processo como intermediário e curador. Por fim, os canais podem atuar como plataformas de comércio eletrônico inserindo-as em seu conteúdo, levando ao torcedor ofertas de camisetas oficiais, artigos esportivos, ingressos da próxima partida ou pacotes de pay-per-view.
Fábio Ritter é colunista do Lance! Biz (Arte Lance!)
Estar presente em qualquer lugar a qualquer hora se tornou uma estratégia obrigatória para praticamente qualquer negócio, em especial após a pandemia do Covid-19. O esporte é ainda uma das indústrias que mais sustenta plataformas tradicionais como a TV linear e o rádio.
No entanto, foi ele também quem abriu frente para a popularização de novos meios de transmissão, como a TV fechada lá nos anos 90 e o streaming mais recentemente. Estar em multiplataformas como TV, telefone, notebook, videogames, smart tv e qualquer nova que venha por aí é fundamental para os canais se diferenciarem.
Estar atento às evoluções, aliás, é o que vai garantir a relevância da indústria para seus futuros consumidores. Aqui é importante destacar a importância crescente da geração Z. O esporte desfruta de ser cada vez mais uma atividade digital, característica fundamental para se conectar com uma geração nascida na era da Internet. O que mais as mídias podem fazer para influenciar esta geração?
+ Leia todas as colunas de Fábio Ritter no Lance! Biz
✔ Estar presente e participar das suas conversas através das redes sociais sem torná-las uma ferramenta de vendas;
✔ Integrar influenciadores independentes;
✔ Tornar divertida qualquer experiência com a marca do canal incluindo tecnologia de realidade aumentada, fantasy games, e outros jogos;
✔ Ser prontamente responsivo;
✔ Fornecer estatísticas detalhadas;
✔ Trazer odds e links para apostas;
✔ Criar conteúdos autênticos (às vezes quanto mais amadora a produção melhor);
✔ Ter apelo inclusivo e social;
✔ Destacar o esporte feminino;
✔ Possuir profissionais em sua equipe que representem o público que se busca atingir.
Buscar uma fatia da atenção do consumidor é um dos principais objetivos do profissional de marketing. Em um cenário de descentralização da produção de conteúdo, bem como da maior pulverização das transmissões, os canais esportivos precisam escolher e executar estratégias que os diferenciem na mente e comportamento do fã de esporte.
Os cinco pilares estratégicos sugeridos aqui – conteúdos exclusivos, conteúdos instantâneos, frentes facilitadoras, expansão para múltiplas plataformas e a implementação de ações para a geração Z – guiariam os canais a se transformarem em centrais digitais de conteúdo, atraindo os fãs com uma presença consistente e duradoura e tornando-se verdadeiros ecossistemas do esporte.
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Lance!