O Brasil é um mercado estratégico para os negócios globais da WSL, a Liga Mundial de Surfe. Não só pelo histórico de títulos (são seis nos últimos oito anos), mas também por ser um dos países com maior crescimento de fãs ano a ano. É o que explica Ivan Martinho, CEO da WSL na América Latina, em entrevista ao Lance!.

Destaques:

> Sucesso esportivo se reflete fora das águas com o aumento do interesse de fãs e investidores no Brasil;

> Mais 45 milhões de brasileiros estão interessados no surfe atualmente;

> Patrocínios representam a maior fonte de receita da WSL no país.

O trabalho que a gente faz fora da água é garantir que não só as histórias das conquistas dos brasileiros possam chegar a cada vez mais pessoas, mas também ampliar as nossas narrativas e as formas de contar essas histórias para um público que vai além daquele interessado apenas nos resultados
—Ivan Martinho, CEO da WSL na América Latina

Crescimento da base de fãs

Uma pesquisa do Ibope Repucom aponta que 45 milhões de brasileiros estão interessados no surfe atualmente. De acordo com a WSL, esse número triplicou na última década. Uma prova deste crescimento é que o Brasil corresponde a cerca de 40% do público global que assiste às etapas do circuito mundial.

- O que a gente tem que entender é a forma de ser relevantes para cada um desses diversos tipos de fã, entregando conteúdo que eles gostam de consumir para fazer parte do dia a dia deles o ano inteiro. Qual a maneira que a gente conta essas histórias? Por meio dos canais próprios, dos canais parceiros e também dos canais dos nossos patrocinadores - explica Ivan Martinho.

Além do número crescente, outro atrativo é o perfil dos fãs que acompanham o surfe. Segundo o executivo, a WSL tem um público bem dividido entre homens e mulheres e bastante jovem. Não por acaso, muitas empresas que se associam à liga têm interesse de usar o surfe para rejuvenescer suas marcas. 

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- Vários dos nossos parceiros comerciais têm interesse em conquistar, por meio do surfe, o coração desses potenciais consumidores jovens. Um tipo de público tão difícil de conquistar hoje em dia, porque tem muita oferta. A gente concorre com e-sports, com esportes tradicionais, Netflix, redes sociais… A gente tem que ser muito efetivo para justificar o interesse da garotada. E a gente tem sido bom nisso, o que nos ajuda a dialogar com essas marcas que buscam rejuvenescer o público-alvo.

Ivan Martinho é o CEO da WSL na América Latina (Foto: Divulgação)

Como rentabilizar a operação?

Assim como as principais ligas esportivas ao redor do mundo, a WSL tem diversas fontes de receitas para rentabilizar a operação ao redor do mundo. Uma diferença para campeonatos de futebol, no entanto, é que os valores recebidos pelos contratos de patrocínio são mais relevantes que os valores da venda dos direitos de transmissão.

O crescimento da WSL na última década se deu com o apoio de marcas endêmicas, ou seja, aquelas que estão inseridas na indústria, como Rip Curl, Queeksilver e Billabong, por exemplo. O portfólio atual de parceiros comerciais, no entanto, tornou-se bem variado com empresas dos mais diversos setores.

- As empresas não-endêmicas estão patrocinando porque realmente o surfe alcançou o nível de grandeza, de alcance, de frequência relevante para elas. A gente não compete só com outros esportes. A verba publicitária é uma só, então a gente tá concorrendo com música, moda, televisão, redes sociais, influenciadores e outros tipos de mídia. O nosso nível de exigência e de qualidade precisa ser realmente muito relevante para justificar parcerias comerciais como essas - analisa o executivo.

Estratégia de transmissão

Apesar de não ser a linha mais rentável, a venda de direitos de transmissão é outro ponto crucial para os planos da WSL no Brasil. Desde 2022, a liga tem uma parceria com o Grupo Globo para a exibição das etapas do circuito mundial em diferentes plataformas. Ainda assim, os eventos seguem sendo transmitidos nas plataformas da própria WSL.

- Acho que a gente entendeu, com a parceria com a Globo, que uma audiência era complementar a outra - e não conflitante. Para nós, ter a chance de alimentar a nossa plataforma e continuar falando com o público diretamente é algo muito importante e fez parte da negociação com a Globo. Sem dúvida nenhuma, aumenta o nosso alcance - explica o presidente da WSL na América Latina.

Crescimento da indústria

De forma geral, o "boom" do surfe no Brasil foi alavancado, nos últimos anos, pelo sucesso dos surfistas brasileiros e por estratégias de business. O resultado é um aumento crescente no número de fãs e empresas interessadas em investir no esporte. Segundo Martinho, o desenvolvimento dos negócios beneficia todos os atores da indústria.

- À medida que a gente vai conseguindo desenvolver o esporte como negócio, isso vira um ecossistema muito mais frutífero para todos que participam, seja para a liga, atletas, agentes, produtores de eventos, etc. Assim, a gente aumenta a indústria do surfe, que se beneficia como um todo - afirma Martinho, antes de completar:

Ao mesmo tempo que traz uma oportunidade gigante para os negócios, traz também uma responsabilidade. Cria-se uma expectativa muito grande sobre o patamar que nós vamos conseguir levar esse esporte, considerando que essa geração brasileira é super vencedora. Então, o que a gente faz aqui é se esforçar para fazer um trabalho tão pouco bom fora da água como os atletas fazem dentro da água
—Ivan Martinho, CEO da WSL na América Latina

Única etapa do Circuito Mundial de Surfe na América do Sul, o VIVO Rio Pro reunirá a elite do esporte em Saquarema a partir desta sexta-feira (23). A segunda parte da entrevista do Lance! com Ivan Martinho aborda os negócios específicos do evento e será publicada ainda nesta semana.