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‘Esporte de drogados’? Surfe entra em nova fase com a Olimpíada

Requisitos para os Jogos Olímpicos atrapalham foco dos surfistas no Circuito Mundial, mas astros aceitam ‘sacrifícios’ e celebram avanços no esporte, que já tem antidoping surpresa

Montagem - Gabriel Medina, Italo Ferreira e Filipe Toledo
imagem cameraGabriel Medina, Italo Ferreira e Filipe Toledo estão na briga para Tóquio-2020. Um ficará fora (Fotos: Divulgação)<br>
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 19/06/2019
00:51
Atualizado em 19/06/2019
15:15

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Em tempos de conquistas, o surfe brasileiro não esquece do rótulo com o qual era identificado em uma época não muito distante: “esporte de drogados”. A entrada no programa olímpico para Tóquio-2020, se por um lado trouxe “sacrifícios” aos atletas, ao menos promete melhorar esta imagem.

A Associação Internacional de Surfe (ISA, em inglês), que gerencia o surfe olímpico, e a Liga Mundial de Surfe (WSL), organizadora do Circuito Mundial, anunciaram este mês um acordo que submete todos os competidores da elite aos padrões da Agência Mundial Antidoping (Wada), o que inclui exames surpresa fora do período de competições e uma relação de itens proibidos bem maior do que no passado.

Substâncias de maconha e cocaína, por exemplo, estão presentes na lista de proibições da Wada e são vetadas durante campeonatos. Mas no Circuito Mundial, até pouco tempo, só levavam à suspensão após a terceira vez que o surfista fosse flagrado, e os exames só aconteciam durante as etapas. Com o esporte no programa olímpico, esse tipo de tolerância não existe mais.

– Concordo totalmente com a medida. Não é justo você treinar semanas, enquanto outro cara toma algo que provoca ganho de força e energia e melhora o desempenho – disse Italo Ferreira, ao LANCE!, em evento da Oi, que patrocina um grupo de surfistas da elite do WCT.

A profissionalização é o que os brasileiros mais almejam na nova fase do surfe. Prestes a disputarem o Oi Rio Pro, que começa nesta quinta-feira, em Saquarema, Italo (3º do ranking), Filipe Toledo (6º) e o bicampeão mundial Gabriel Medina (12º) cederam a algumas imposições olímpicas, como um calendário ainda mais apertado, por uma causa maior.

– É o passo que o surfe precisava dar para se profissionalizar. Chegamos a um nível muito alto na WSL, mas a Olimpíada será a ponte para algo ainda maior. Todos os olímpicos seguem esta regra. Por que não o surfe? – opina Filipinho.

Em relação à maconha, existe um debate mundial sobre a sua possível retirada da lista de substâncias vetadas pela Wada, com forte participação de pessoas do skate, outro esporte que fará sua estreia olímpica em Tóquio-2020. Os defensores da causa alegam que não há aumento de performance com o uso.

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Agenda ainda mais cheia

Mas nem tudo são sorrisos. Em 2019, os surfistas terão de participar dos Jogos Mundiais da ISA, entre 7 e 15 de setembro, em Miyazaki, no Japão. A entidade estabeleceu como requisito a ida ao evento para ser elegível aos Jogos Olímpicos.

Fora o cansaço da viagem, desagrada o fato de eles perderem os treinos na piscina de ondas do americano Kelly Slater, palco da oitava etapa do WCT, em Leemore (EUA), entre os dias 19 a 21 de setembro.

– Fui pego de surpresa. Atrapalha. Esses deslocamentos longos te destorem, tem o fuso horário, musculatura fica toda dolorida e temos de passar por um processo de recuperação. É difícil viver isto no meio da temporada da WCT, que é o meu foco, mas estou preparado – diz Italo.

Mais entusiasmado do que o colega com a possibilidade de ir aos Jogos, Filipe, que foi campeão mundial da ISA no sub 16, em 2011, se anima com a união entre as principais entidades do surfe no planeta.

– Por sorte, já participei de eventos da ISA quando amador e fui campeão. Foi bem legal. Não acho ruim, pois é uma oportunidade preciosa e temos de valorizá-la. Para mim, só vai aumentar minha força de vontade de conseguir uma das vagas para a Olimpíada – declarou Toledo.

O Oi Rio Pro, quinta etapa da temporada de 2019, terá início nesta quinta-feira e sua janela vai até 28 de junho, em Saquarema. O evento marcará o retorno de Adriano de Souza, o Mineirinho, após uma cirurgia no joelho direito. O havaiano John John Florence lidera o ranking até o momento. 

Um cenário diferente no feminino

Com uma disputa interna bem menos acirrada do que a dos homens, as mulheres do Brasil que irão aos Jogos de Tóquio-2020 já estão praticamente certas, embora suas vagas ainda precisem ser conquistadas.

A gaúcha Tatiana Weston-Webb, que cresceu no Havaí, mas decidiu representar o país natal, onde tem mais chances, e a cearense Silvana Lima são as únicas com experiência no WCT e estão à frente das demais. 

Tatiana é a melhor colocada no ranking de 2019, em nono. Silvana, que perdeu as duas primeiras etapas do ano, devido a uma lesão no joelho direito, está em 14º. Ela precisou passar por cirurgia no ano passado.

Como o WCT feminino é dominado por americanas e australianas, e cada nação só poderá ter dois atletas em cada gênero em Tóquio, com as oito primeiras do ranking garantidas, o caminho é favorável para as brazucas.

Hoje, Silvana entraria pela última vaga. Até o fim do ano, ela travará uma briga particular por esta posição com a neozelandesa Paige Hareb, atual 16ª.

No surfe olímpico, diferentemente do Circuito Mundial, não existe a bandeira do Havaí. Os atletas de lá brigarão pelas vagas dos Estados Unidos.

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Italo Ferreira
Italo venceu a etapa de Gold Coast (Foto: Reprodução/Instagram)

COM A PALAVRA 

Distância dos remédios e alerta em festas

Italo Ferreira
Surfista

Tento ser o mais natural possível. Se tenho dor de cabeça, não tomo remédio. Odeio. Fico com a dor até ela passar. Após saber que aconteceria a adoção do código antidoping, qualquer medicação eu pergunto ao meu médico, pois não quero manchar meu nome por usar uma substância que adquiri sem saber. Em festas, nunca pego bebida de ninguém. Tento me blindar da melhor maneira, pois não sabemos o que pode acontecer e tem pessoas muito ruins que podem acabar com a sua carreira por inveja. Até já fiz um exame fora do período de competições, em novembro, no Havaí. Recebi mensagem avisando que teria de estar no local e horário determinado e fiz, sem problemas. Para o surfe, que no passado era visto como esporte de drogados, isto é muito bom. Ajudará a atrair mais pessoas.

O SURFE EM TÓQUIO

As entidades
Neste esporte, a Liga Mundial de Surfe (WSL) só organiza o Circuito Mundial, enquanto a Associação Internacional de Surfe (ISA) responde ao Comitê Olímpico Internacional (COI). Com a inclusão da modalidade no programa olímpico, as duas tiveram de entrar em um acordo para permitir que os melhores astros compitam em Tóquio-2020. E uma das exigências é que eles disputem os Jogos Mundiais da ISA, em 2019 e 2020. O evento é importante para os atletas que não conseguem se classificar pelo ranking da WSL. Para o Brasil, não.

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Brasil convocado
Foram chamados para os Jogos da ISA os três melhores de cada país, por naipe, após a quarta etapa do WCT, em Margaret River (AUS). O Brasil terá Ítalo Ferreira, Filipe Toledo e Gabriel Medina, Tatiana Weston-Webb, Silvana Lima e uma atleta a ser definida em uma seletiva no Brasil. Já na Olimpíada, são só dois nomes por nação em cada naipe.

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Critérios de seleção
Os dez melhores homens e oito mulheres elegíveis (no máximo dois por país em cada gênero) pelo ranking da WSL de 2019 garantirão vagas para os Tóquio-2020. Se isto acontecesse hoje, o Brasil seria representado por Italo Ferreira (3) e Filipe Toledo (6). O bicampeão mundial Gabriel Medina, que ocupa a 12 posição, estaria fora. Já entre as mulheres, Tati Weston-Webb (9) e Silvana Lima (14) estariam garantidas, já que a maior parte de suas rivais acima são americanas e australianas.

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Pan de Lima
Os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, dão ao campeão vaga em Tóquio-2020, desde que o país já não tenha dois surfistas se classificando pelo WCT no final de 2019. Robson Santos e Karol Ribeiro irão ao Pan.

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