Hortência: ‘Tudo o que consegui na vida foi através do esporte’
Medalhista olímpica de prata foi a grande homenageada do Prêmio Sou do Esporte
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Grande homenageada na 9ª edição do Prêmio Sou do Esporte Foco Radical, Hortência Marcari viveu na noite desta terça-feira (10) uma noite célebre — como tantas que teve ao longo de uma carreira vitoriosa como jogadora de basquete. A cerimônia foi realizada no Campo Olímpico de Golfe, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
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Campeã Mundial em 1994 e medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996, Hortência concedeu entrevista exclusiva ao Lance! e se disse feliz pelo reconhecimento. O Prêmio Sou do Esporte é um dos mais importantes do País.
— Tudo o que consegui na minha vida, eu consegui através do esporte, e o que eu gostava de fazer na minha vida era essa coisa do esporte. Eu tenho um certo dever de continuar ajudando — afirmou Hortência. Confira os principais pontos da entrevista:
Lance! - Você teve uma longa carreira como atleta, está na história do esporte do País, e agora é homenageada no Prêmio Sou do Esporte também pelo que tem feito fora das quadras. Como você vê esse reconhecimento?
Hortência -Tudo na vida a gente constrói. Eu construí uma carreira, uma garota pobre que construiu uma carreira legal. Isso já é um exemplo para as pessoas, porque se eu consegui, as outras pessoas podem conseguir também. Eu faço questão de passar isso.
Quando você para, parece que o atleta relaxa, mas não é isso. Eu acho que o atleta tem que continuar. O ex-atleta tem que continuar dando exemplo, tem que continuar mostrando que existe o pós. E o pós é muito importante, porque você passa a fazer algo que você não nasceu para isso. Você vai ter que se reinventar.
Quando recebo uma homenagem como essa do Sou do Esporte, eu fico feliz, porque é um reconhecimento pelo trabalho. Você viaja, faz uma palestra, demonstra como era a mentalidade de um atleta, como a gente pensava, como a gente pode trazer isso para o nosso dia a dia. Essa força, a dedicação, essa coisa de você não desistir, o respeito que você tem que ter pelas pessoas.
Lance! - Você cita a importância de um ex-atleta entender como é a transição, e do seu exemplo de alguém que cresceu pobre e venceu na vida. Passar essas mensagens é o que mais lhe motiva a trabalhar pelo esporte brasileiro?
Hortência - Tudo que consegui na minha vida, eu consegui através do esporte, e o que eu gostava de fazer na minha vida era essa coisa do esporte. Eu tenho um certo dever de continuar ajudando. Hoje eu sou conselheira do Pacto pelo Esporte, eu sou do Atletas pelo Brasil, eu sou da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil (COB), eu sou da Comissão de Atletas do Ministério do Esporte. Tudo isso a gente briga por políticas públicas, para beneficiar o atleta, para o atleta também ter direito à voz. Hoje o atleta vota (nas entidades esportivas), ele sempre buscou essa voz e nunca ele teve. Qual era a única maneira do atleta se comunicar? Era através da imprensa, ele mostrava sua insatisfação através da imprensa. Hoje ele pode colocar a sua insatisfação através do voto, que foi conquistado pelos atletas, pelos ex-atletas.
Eu acho que eu tenho esse dever, eu gosto de fazer isso. Nunca faço isso para mim, porque eu não me beneficio, eu não tenho projeto social, eu não tenho nada. Eu trabalho com palestra, eu faço comentário na televisão, então eu faço isso porque eu quero ajudar as pessoas, que eu sei o tanto que eu sofri, o tanto que eu passei para poder conquistar o que nós conquistamos.
Hortência: 'É importante termos atletas capacitados na gestão'
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Lance! -Você considera que é fundamental para o esporte brasileiro ter ex-atletas em cargos de gestão ou em órgãos governamentais ligados à área?
Hortência - Sim, eu acho importante, mas desde que ele esteja capacitado para isso; não vamos colocar o atleta lá só porque ele é atleta. Hoje as pessoas que estão em postos de comando são pessoas que se capacitaram para aquilo. Nós temos uma vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil (a ex-pentatleta Yane Marques, eleita para o próximo quadriênio) que era da nossa Comissão de Atletas. Ela está lá como vice, porque ela se capacitou, ela ficou oito anos ali se capacitando para poder ter esse cargo de vice-presidente do COB. Acho, sim, que o atleta que viveu aquele momento sabe o que é bom, sabe o que tem que se fazer, desde que ele se prepare para isso.
Lance! - Este ano tivemos a eleição no COB e a participação da Comissão de Atletas foi fundamental. Qual a mensagem que deixou aquele episódio?
Hortência - Nós fizemos dois workshops na semana passada com todos os presidentes e atletas que fazem parte de comissões de atletas de todas as confederações brasileiras. A gente está se preparando. A gente está mostrando para eles como fazer, aonde fazer, o curso que eles têm que fazer da comissão que tem no Comitê Olímpico do Brasil. A gente está capacitando esses atletas para quando eles forem falar, falar com propriedade, saber o que eles estão fazendo.
Eu fiz esse curso, todo mundo fez esse curso da Comissão de Atletas do COB, porque fomos nós que pedimos para ter esse curso. A comissão não é para ser contra ninguém e nem a favor de ninguém. A comissão, já diz o nome, representa os atletas. Nós estamos do lado dos atletas. E nós temos voz hoje, nós temos voto, nós podemos votar. Então, a gente tem que entender direito da política esportiva para poder votar certo.
A nossa comissão foi contra a reeleição do Paulo Wanderley, mas ela foi contra por quê? Porque ele fez uma má gestão? Não, porque existe uma lei que nós construímos (que veda a reeleição por mais de dois mandatos), e não podemos votar em alguém que quer passar por cima dessa lei, só foi por causa disso.
Lance! - Você se vê um dia à frente da Confederação Brasileira de Basquete ou do próprio COB?
Hortência - Me ligaram outro dia perguntando se eu ia ter algum cargo dentro do COB, porque a Comissão esteve presente muito nessa eleição. Eu falei que não. Eu disse a você no começo da nossa entrevista que eu não tenho absolutamente nenhum interesse particular, nenhum. Eu não quero ser presidente de nada, eu não quero ser diretora de nada, eu não estou ajudando porque eu tenho interesses pessoais. Eu estou ajudando porque eu quero ajudar o esporte.
Lance! - Mas nem me refiro no curto prazo. Você um dia sonhou em presidir alguma dessas entidades?
Hortência - Eu não vou falar que dessa água eu nunca vou beber, porque não sabemos. Mas, neste momento, não. Zero interesse.
Lance! - Como você vê o momento do basquete brasileiro, em especial o feminino?
Hortência - Não está bem, né? Não está legal. Eu não estou lá dentro, então não posso falar com detalhes, mas o que eu vejo pelos comentários, e pelo que eu observo aqui fora, quando não tem resultado — e não tem faz tempo —, algumas coisas aconteceram. A gestão, principalmente do feminino, não está legal. Eu não vou falar das meninas porque eu acho que elas são as que menos são culpadas, eu acho que o problema é do planejamento. Quando eu entrei, eu fiz um planejamento para dez anos, agora eu acho que tem que ser um planejamento para daqui 15 anos. Começar forte na base, esquecer o resultado e trabalhar na base, para lá na frente nós termos uma equipe bacana.
Agora, para isso tem que ter dinheiro, e para ter dinheiro precisa de um projeto bacana. Se eu sou presidente de uma empresa, eu não vou comprar um projeto que eu não acredito. Tem que ter projeto.
Lance! - A última pergunta é sobre a Kamilla Cardoso: você considera que ela tem potencial para liderar a nova geração?
Hortência - Sim, ela tem potencial, mas ela sozinha não vai fazer nada. Eu fiz alguma coisa sozinha? Não, eu comecei a ganhar título quando entrou junto a Paula, quando entrou a Janeth, quando entrou a Alessandra. É assim que funciona, você não faz sozinha.
A Kamilla é uma grande jogadora, mas temos que tomar cuidado para não desperdiçar. Ela sozinha não vai fazer nada, tem que ter alguém para passar a bola pra ela, tem que ter a jogadora para defender, tem que ter a que ajuda a pegar rebote, tem que ter a que ajuda a fazer cesta. Ela sozinha não vai fazer nada. Espero que tenha um projeto que não perca essa grande jogadora que está vindo por aí.
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