L! Opina: ‘O mau legado dos Jogos Olímpicos de 2016’
'A investigação internacional sobre a escolha do Rio de Janeiro para sede da Olimpíada de 2016 precisa ir até o fim. Doa a quem doer'
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A investigação internacional sobre a escolha do Rio para sede da Olimpíada de 2016 precisa ir até o fim. Doa a quem doer. As denúncias não são novas. O diário Le Monde, como se sabe, já em março deste ano, levantou o assunto ao afirmar que autoridades francesas tinham indícios concretos de um esquema de compra de votos de delegados africanos, envolvendo o governo do Rio e o Comitê Organizador dos Jogos.
A novidade nesse caso é a cooperação entre diversos países para elucidar o que pode ser um novo escândalo a denegrir o mundo do esporte. É algo que, até aqui, só havia sido visto no mundo do futebol com a ação de autoridades suíças e americanas contra a cúpula corrupta da Fifa. Investigações que, no Brasil, ainda não chegaram a Marco Polo Del Nero – o homem
que não sai do país com medo de ser preso - e seu mentor Ricardo Teixeira, na mira da Justiça lá fora, mas ainda ilesos por aqui.
A investigação de contas secretas em paraísos fiscais com certeza ainda tem muito a revelar sobre os bastidores da escolha do Rio. O ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo Lamine Diack e seu filho, Papa, únicos nomes que aparecem até agora nos relatórios do Ministério Público francês, obviamente, comprovado o esquema, não serão os únicos beneficiários do propinoduto olímpico.
Caso comprovada mais esta manipulação da eleição de uma cidade sede, será um baque e tanto para o COI. Há 18 anos, depois do escândalo de corrupção na escolha de Salt Lake City para sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, o comitê mudou suas regras, e criou barreiras de controle para moralizar o processo eleitoral. Vê-se, agora, que a engenhosidade dos corruptos pode ter sido efetivo, apesar das regras do comitê.
Por aqui, há muito o que ser esclarecido. Ao que tudo indica, a teia de corrupção do governo Sergio Cabral, que tantos prejuízos causou ao Estado, também contaminou o processo olímpico. O papel de Carlos Arthur Nuzman nesse processo precisa ser esclarecido. Mas o fato de o presidente do COB ter sido alvo de busca e apreensão e obrigado a depor, por si só já é um revés para o olimpismo brasileiro.
Um ano depois dos jogos, as árvores plantadas pelos atletas continuam armazenadas, o uso do parque olímpico continua indefinido, a piscina olímpica não chegou ao destino, a escola que sairia da Arena do Futuro continua uma promessa. A cidade, que encantou o mundo por 17 dias, num espetáculo de confraternização, alegria e competitividade deveria se esforçar para entregar um legado de verdade, ainda que com atraso. Bem mais nobre do que saltar das páginas de esporte para o noticiário policial.
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