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Paes refuta dívida da Rio-2016 e diz que faltou ‘fazer política’ por legado

Ex-prefeito critica Carlos Arthur Nuzman por 'prioridades equivocadas' na Olimpíada e diz que, se eleito, buscará aproximação com presidente Jair Bolsonaro para retomar projetos

Eduardo Paes, prefeito do Rio (Foto: JM Coelho/RMC)
imagem cameraEduardo Paes foi prefeito do Rio de Janeiro na preparação e execução dos Jogos de 2016 (Foto: Divulgação)
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Rio de Janeiro (RJ)
Dia 16/06/2020
19:49
Atualizado em 17/06/2020
08:05

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Com uma trajetória política marcada pela entrega dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, Eduardo Paes (Democratas) acredita que pode contribuir para recolocar o esporte no radar dos governos municipal, estadual e federal após quatro anos ausente de cargos públicos.

Focado na pré-campanha para tentar derrotar Marcelo Crivella (Republicanos) nas eleições municipais previstas para este ano, o carioca hoje critica o modelo de administração do Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016. Durante anos, a entidade esteve nas mãos de Carlos Arthur Nuzman, enquanto o dirigente também ditava as regras no Comitê Olímpico do Brasil (COB), agora sob nova gestão.

Nuzman foi preso pela Polícia Federal em 2017, em investigação sobre suposta compra de votos para o Rio sediar a Olimpíada. Depois, acabou solto por habeas corpus. Paes refuta a dívida estimada pela entidade com os Jogos, que até o ano passado era calculada em R$ 420 milhões, e diz que houve "malandragem" na contabilidade do evento. 

Para ele, o legado não está perdido, e é possível recuperar o diálogo com os entes governamentais para tirar do papel planos de uso de estruturas olímpicas, como as que deveriam ter se tornado escolas no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, bem como solucionar outros imbróglios.

No início do ano, devido à ausência de laudos de segurança, o local chegou a ser interditado por decisão da Justiça Federal.

A responsabilidade sobre o legado é dividida. O EGLO (Escritório de Governança do Legado Olímpico), órgão do governo federal criado em 2019 para cuidar do assunto, atua na maior parte das instalações da Barra e tem prazo de extinção no dia 30 de junho. Já a Arena Carioca 3 e o Parque Radical de Deodoro são gerenciados pela prefeitura. Em meio à pandemia do COVID-19, as perspectivas não são nada animadoras. Paes, no entanto, vê luz no fim do túnel.

- Não tem nenhum "elefante branco" da Olimpíada - afirmou o ex-prefeito, em entrevista ao "De Casa com o L!".

Você deixou a prefeitura com a intenção de que as arena do Parque Olímpico fossem geridas por uma Parceria Público-Privada. Não houve interessados, sobrou para o poder público e o impasse segue. Você tinha alguma esperança de que houvesse condução daquele legado?
Não acho que o legado olímpico é tão mal usado como dizem. As Arenas Cariocas 1, 2 e 3 são constantemente utilizadas, mas não é divulgado. O Parque Olímpico recebe eventos grandes. Tem ali equipamentos importantes. Outro aspecto que acho interessante levar em consideração é que um estádio em Londres custou mais que o nosso Parque Olímpico, que foi construído sem dinheiro público, graças à Prefeitura. Mas não é o ideal ainda. Acho que o ideal seria uma PPP, mas com o atual momento do Brasil, não conseguimos arrumar um privado. Outras coisas deveriam ser dever do poder público, mas o Crivella não faz por birra. O BRT e outras coisas estão abandonadas. A cidade está abandonada.

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O Estádio Aquático e a Arena do Futuro (handebol) eram estruturas temporárias que deveriam ter virado escolas e equipamentos esportivos. O que você faria hoje com eles?
Isso é algo que me machuca. Mas estão lá. O prejuízo não está dado. Podem desmontar e, no futuro, fazer as escolas, criar equipamentos públicos de qualidade. Mas aí é que está o erro. Tinha dinheiro federal na época para usar. Nós deixamos convênios. Vá lá e negocie! (Crivella) não está amigo do presidente (Bolsonaro)? Como eu faria, se estivesse na Prefeitura? Levaria o Bolsonaro para ver o jogo do Flamengo, chamaria para jantar na Gávea Pequena, que é a casa do prefeito, como fiz como Cabral, Lula, Dilma e Michel Temer. Se eu foi eleito, vou levar Bolsonaro e (Wilson) Witzel, se ele ainda estiver por lá (no governo estadual). E falaria sobre o assunto. Isso é fazer política, isso é estabelecer parceria. Já vou deixar um pedido ao Bolsonaro. Adoraria que você me desse um recursinho do governo federal para montarmos as arenas. Não precisa nem ser no Rio. Uma das piscinas foi para a Bahia. Montar ginásios na Baixada, na Região Metropolitana do Rio. O Parque de Deodoro é um barato, tem uma estrutura muito boa. E do outro lado é utilizado pelos militares, que cuidam muito bem. Não tem nenhum ‘elefante branco’ da Olimpíada, é tudo utilizado. Toda Olimpíada tem uma obra arquitetônica. A nossa não tem. Acho que é melhor do que nós falamos que é, e tem a questão do ‘complexo de vira-lata’. Mas o ideal era conseguir uma PPP.

Tem perspectiva de recuperar os projetos de legado dos Jogos que foram deixados de lado, caso seja eleito?
Em 2015 e 2016, quando fiz a Olimpíada, o Brasil já estava no chão. O Pezão não pagava salário do estado, a Dilma estava sofrendo impeachment em Brasília e eu tinha que rebolar para tocar aquela Olimpíada. O Crivella fala que não deixei dinheiro. Não só deixei como a União ficou me devendo. Emprestei dinheiro ao estado e ao governo federal. Não sei se o setor privado viria para uma PPP. Com Crivella de prefeito, os empresários olham para aquilo e falam: "não vou investir". Eles olham para a situação e desistem. O principal conceito do Parque Olímpico era tornar a Arena 1 uma escola municipal, o que custaria R$ 1 milhão. E ali tornaria o Centro Olímpico de Treinamento junto com o COB. Eles ficam ali com o Maria Lenk e poderiam ocupar tudo. O Rio poderia se consolidar como centro de esportes olímpicos. Eu procuraria isso. O Boulevard Olímpico e outros setores são obrigações do privado, não da prefeitura. Mas, como prefeito, procuraria resolver tudo isso.

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Em que ponto do processo você avalia que nós erramos, no sentido de deixarmos passar uma oportunidade única com os grande eventos?
Diferencio muito a Copa da Olimpíada. A Olimpíada deixou um legado para a cidade, mas a Copa não. A Fifa queria saber só de estádio. Mas o COI não. Teve metrô, VLT e tudo mais. Entregamos muito mais legados do que prometemos. Para a cidade, foi muito interessante e trouxe muita coisa para o Rio. O grande erro da Olimpíada foi descoberto depois, da compra de votos. Além de criminoso, era desnecessário. Sujou a imagem do negócio. Em determinado momento, o COI pediu para eu assumir o Comitê Organizador. Não era minha responsabilidade e, por isso, recusei, pois estava satisfeito com a gestão do Nuzman. A Dilma não sabia lidar com as pessoas, o Pezão nem sabia o que era Olimpíada e o (Francisco) Dornelles ainda assumiu a posição quando o Pezão ficou doente. A partir de 2014, deu tudo errado no Brasil. O presidente do país sofreu impeachment meses antes dos Jogos Olímpicos. Eu tive que rebolar para esses gringos para realizar as Olimpíadas. Ainda teve a crise de zika. Cada dia era um escândalo e toda vez recebia uma ligação dos organizadores.

O Comitê Rio-2016 até hoje tem pendências com fornecedores. O que aconteceu?
Eu não falava tão abertamente, porque eu estava ali para tocar uma Olimpíada e não tinha motivo para causar confusão. Mas é óbvio que o esporte olímpico foi muito mal conduzido. Era muita grana. Vi isso de perto. O déficit do Comitê Organizador é (fruto da) má gestão do COB, na época do Nuzman. Não estou falando que houve ilegalidade, mas sim de gestão, de prioridades equivocadas na minha opinião. Mas eu queria era fazer a Olimpíada acontecer.

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No ano passado, o Comitê calculou sua dívida em R$ 420 milhões, de em levantamento contábil feito pela entidade e apresentado a entidades.
É mentira. No começo da gestão do prefeito Crivella, na época ele ainda falava comigo, dizendo que recebeu uma carta do Nuzman, eu disse para ele não pagar. Informei ao COI sobre as dívidas. Tinha malandragem. O Comitê Organizador tinha uma história de comissão do COB. O dinheiro ficou à disposição para usar na Olimpíada e, depois, descobrimos que usaram para o COB. Ele aproveitou a situação ali estabelecida. Tenho tudo documentado. Eles estavam proibidos de retirar os recursos. O déficit é do COB, não da prefeitura. Não tem um estádio olímpico que não foi pago. Todos foram pagos e construídos com PPP, não com dinheiro da prefeitura.

Você foi secretário de Turismo, Esporte e Lazer do Sérgio Cabral Filho, em 2007. Como responde ao público que, indignado com as notícias de corrupção envolvendo o ex-governador, hoje preso, associa diretamente os grande eventos à corrupção?
Ele está preso sobre os crimes que ele cometeu e eu estou aqui. Respondo pelas coisas que aconteceram na prefeitura do Rio e lamento o que aconteceu com o governo do Estado. Todos os estádios das Olimpíadas foram construídos com PPP. Não há qualquer citação de envolvimento meu. Ninguém está imune as forças da lei. O estado nunca foi importante para a Olimpíada e Pan-Americano. César Maia que fez o Pan-Americano de 2007. É o prefeito que é o ‘protagonista’ desses eventos. Com a exceção do Maracanã, o restante dos Jogos Olímpicos foi a prefeitura.

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