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Medalhista brasileiro no taekwondo recorre ao improviso por ouro no Pan

Bronze na Rio-2016, Maicon Andrade usa WhatsApp para receber orientações do técnico e apela para CBTKD a presença do profissional em viagens. Falta de verba prejudica planos

Maicon Andrade volta a competir após medalha no Rio por pontos no ranking de 2017
imagem cameraBronze na Rio-2016, Maicon Andrade é uma das esperanças de medalha do Brasil no Pan de Lima (Foto: Divulgação)<br>
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 25/07/2019
00:35
Atualizado em 16/08/2019
11:47

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O bronze nos Jogos Rio-2016, primeira medalha olímpica de um homem brasileiro no taekwondo, rendeu experiência, mas não o status de que Maicon Andrade gostaria. O mineiro, que estreia nos Jogos Pan-Americanos em Lima (PER), a partir de sábado, na categoria acima de 80kg, mostra insatisfação com a falta de maior apoio para alcançar os objetivos.

A grande reclamação do atleta é por não ter seu treinador, Rafael Valério, nas competições. Amigos há décadas, eles vêm construindo uma trajetória de sucesso há um ano, quando iniciaram um trabalho voltado para Tóquio-2020.

Em todos os torneios desde o início da parceria, Maicon não ficou fora de um pódio. Levou o bronze no Pan-Americano de Spokane (EUA) e no Mundial Militar do Rio, em 2018, venceu a única luta que fez no classificatório para o Pan, na República Dominicana, e foi bronze no Mundial deste ano. Em 20º no ranking, ele acredita que a falta de rodagem ainda o deixa atrás dos rivais.

A Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD), sem patrocínio e com verbas da Lei Agnelo/Piva bloqueadas, investe em uma pequena equipe multidisciplinar, com três treinadores para toda a Seleção, além de enviar os lutadores para as competições mais relevantes. Quem quer levar o técnico pessoal tem de pagar do próprio bolso, o que inviabiliza os planos de Maicon.

Em maio, o atleta, que considera a presença do comandante ao lado essencial, ajudou o Brasil a fazer a melhor campanha da história em Mundiais, em Manchester (ING). O país levou cinco medalhas (duas pratas e três bronzes, um do mineiro). Ele conta que ligava para Valério ao final de cada combate para receber orientações a ajustar seus golpes. Essa rotina será repetida no Pan.

– Estarei com o celular ligado direto. Acho muito ruim eu ter de falar com meu técnico por telefone no meio de uma grande competição. Por que não posso ter a presença dele ali, sentado na cadeira? Mas é briga política, que faz com que a confederação escolha quem eles querem que sente lá. Isso é muito chato. Mas tenho de fazer meu melhor – disse Maicon, ao LANCE!.

Não é de hoje que o medalhista vive relação conturbada com a entidade. Em 2017, reclamou do atraso no pagamento de uma bonificação de R$ 12.500 da Petrobras, que patrocinava a confederação e agora o apoia diretamente, pela medalha olímpica. O valor entrou, mas outras promessas feitas pela gestão antiga não foram cumpridas. Ele seguiu em frente.

O ex-presidente da CBTKD, Carlos Fernandes, foi afastado em 2016 e, dois anos depois, acabou condenado à prisão em regime semiaberto por peculato, associação criminosa e fraude de documentos. O diálogo, ao menos, melhorou de lá para cá, após uma série de mudanças na entidade. Atualmente, ela é presidida por Alberto Maciel Junior, eleito para um mandato até 2021.

– Agora, após muito tempo, liberaram os treinadores para se reunirem conosco nos Grand Prix, mas não custeiam nada. Nós nos apertamos aqui e ali para continuarmos a competir – afirma o lutador.

O treinador também se mostra incomodado com a situação. Diz que orienta Maicon a não perder o foco com questões que possam comprometer seu foco. Vê, inclusive, o mineiro mais maduro do que no passado. Tanto que, mesmo com a insatisfação, o atleta apresenta uma crescente desde 2018. Mas Valério não esconde a discordância com o modelo utilizado pela confederação.

– A situação do Maicon é complicada. Eu respeito quem está na Seleção. Os treinadores lá são os melhores que temos, sem dúvidas. Mas o trabalho, da forma como é feito, prejudica o atleta, pois esses técnicos não estão no dia a dia do lutador. Já o técnico pessoal monta uma estratégia em cima de cada adversário e tem mais informações a passar nos torneios – explicou Valério.

Além do treinador, o atleta conta com uma equipe multidisciplinar própria em São Caetano do Sul (SP), formada por Sandra Soldan (médica), Marcella Amar (nutricionista), e Elisa Pilarski (fisioterapeuta).

O Brasil terá oito atletas de taewkondo no Pan. São quatro homens e quatro mulheres. Os demais são Paulo Ricardo (até 58kg), Edival Pontes “Netinho” (até 68kg), Ícaro Miguel (até 80kg), Talisca Reis (até 49kg), Rafaela Araújo (até 57kg), Milena Titoneli (até 67kg) e Raiany Fidelis (acima de 67kg).

A modalidade é uma das que mais dá valor ao Pan. O título garante 40 pontos no ranking olímpico, o que significa, de uma só vez, a caminhada de quase um ano inteiro em torneios Open e Grand Prix. Os cinco primeiros colocados de cada categoria ao fim da corrida por pontos garantem vaga em Tóquio-2020.

Em Toronto-2015, o Brasil levou dois bronzes, com Iris Tang Sing (49kg) e Raphaella Galacho (67kg). O masculino passou em branco.

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Medalhista olímpica defende modelo atual de treinadores

A grande mudança na CBTKD do último ciclo olímpico para este foi a chegada de Natália Falavigna, única mulher brasileira a ganhar uma medalha olímpica, com  bronze em Pequim-2008, à direção técnica. Em 2017, ela passou a comandar o trabalho das Seleções, treinadas pelos irmãos Clayton dos Santos e Reginaldo Santos, e por Diego Ribeiro. E defende o apoio aos técnicos gerais.

– O Maicon conversou conosco e faremos um teste em alguns eventos para que os atletas possam levar os técnicos pessoais, caso paguem seu custos. No Pan, não seria possível inscrevê-los, pois há limite de oficiais. Utilizamos esse modelo, porque procuramos não só resultados pontuais, mas de longo prazo. Temos uma equipe que pensa no todo, não em um só lutador. Mas tentamos encontrar o denominador comum – disse Falavigna, ao LANCE!.

Ela lamenta o quadro financeiro da entidade, impedida de receber verbas da Lei Agnelo/Piva, por falta de prestação de contas do passado. Os atletas não foram prejudicados, já que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) utiliza o dinheiro que não pode repassar à entidade para executar projetos dos quais os lutadores dependem, como a compra de passagens e alimentação. Mas as despesas administrativas ficam comprometidas. 

– Trabalhamos muito com pouco recurso. Eu queria poder atender mais, mas o momento não é favorável – afirmou a dirigente, campeã mundial em 2005 e medalhista de prata no Pan do Rio, em 2007.

BATE-BOLA
Maicon Andrade
Atleta do taekwondo, ao LANCE!

‘Recebo mensagens de rivais, que dizem que sou um novo atleta hoje’

O que espera deste Pan?
Eu não vejo a hora de lutar no Pan! Serão os meus primeiros. É um sonho meu pegar essa medalha. Lutei Jogos Olímpicos e Mundiais, mas falta este evento. Estou treinando demais para representar bem o país. Estou focado.

O que a campanha histórica do Brasil no Mundial deste ano diz sobre sua fase e da equipe?
Foi incrível. Mostrei aos atletas que todos nós somos capazes de ser medalhistas olímpicos e mundiais. Eles fizeram algo simples: passaram a confiar mais neles. Eu, que vinha de um Mundial no qual havia perdido na disputa por medalha, tinha mais vontade ainda de ganhar e ajudei a trazer um resultado histórico. O Brasil está mais confiante agora.

O que mudou para você depois do bronze na Rio-2016?
Não tive o apoio que gostaria, mas levo a experiência. Recebo mensagens de adversários, que dizem que sou um novo atleta, que está difícil para eles. Realmente, estou espertinho mesmo (risos).

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Com a palavra

Comunicação com atleta fica prejudicada

Rafael Valério
Técnico de Maicon Andrade

Nosso dia a dia é diferente de um treino geral, com vários lutadores. Como não estou junto, a comunicação fica prejudicada. No Mundial, a sorte foi ter wi fi no ginásio! Senão, eu não poderia orientá-lo pelo WhatsApp. Hoje, poucas seleções usam esse modelo do Brasil, de equipe. A Rússia leva 12 técnicos para 16 atletas. Mas sabemos da situação econômica por aqui. E não se pode passar por cima da hierarquia da CBTKD.

O Maicon teve um ano pós-olímpico conturbado, devido às lesões (ele sofreu três hérnias de disco). Em 2017, foi quarto no Mundial e vice na Universíade, e não conseguiu dar continuidade. Ficou parado até metade de 2018, voltou, foi campeão dos Jogos Sul-Americanos, e medalhou no Grand Prix de Roma e no Mundial Militar. Ele é um atleta ímpar. Quando coloca um objetivo na cabeça, se dedica. O calendário é complicado, mas ele está super bem preparado. 

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