Coleção de livros sobre futebol quer transformar crônica esportiva em gênero literário
Mário Filho é o primeiro autor a ter seu livro publicado pela coleção

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Por entre gramados, arquibancadas e manchetes de jornal, o futebol e a literatura brasileira mantêm, há décadas, uma relação de encantamento mútuo. Um jogo de passes entre a bola e a pena, onde o chute certeiro se transforma em metáfora e o apito final dá lugar à última linha de um parágrafo que vibra como torcida em gol de placa. É nesse espírito que nasce a coleção “Crônicas Eternas do Futebol”, um projeto editorial que pretende mais do que resgatar: ele quer consagrar a crônica esportiva como um verdadeiro gênero literário.
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A crônica esportiva nasceu no papel dos jornais, ecoou no rádio, ganhou imagem na televisão e voz nas redes sociais. Mas nunca perdeu sua essência: o olhar sensível que vê poesia no suor do vestiário, drama na cobrança de pênalti e lirismo na gambeta de um camisa 10 inspirado. Hoje, essa linguagem faz parte do patrimônio imaterial do Brasil, e a coleção vem reafirmar seu valor como expressão cultural de uma nação que se reconhece tanto nos versos quanto nos gramados.
A coleção é uma homenagem aos mestres que, com olhos atentos e alma de poeta, narraram o futebol como poucos poderiam. Mário Filho — o cronista que batizou o Maracanã e elevou o jogo ao patamar de epopéia nacional — inaugura a série com o primeiro volume. A cada mês, uma nova antologia trará textos de ícones como João Saldanha, Armando Nogueira, Tostão, José Trajano, Mauro Beting, Alberto Helena Jr., João Máximo e tantos outros que fizeram do ofício jornalístico uma arte. As capas, assinadas por Lula Palomanes, dão a cada edição o traço visual de sua alma escrita.
Curador da coleção, o jornalista Geraldo Mainenti conviveu de perto com alguns dos grandes nomes do jornalismo nacional, como Nelson Rodrigues, João Saldanha, João Máximo, Fernando Calazans, Juca Kfouri e José Trajano.
— A crônica esportiva, quando vista como gênero literário, revela um universo riquíssimo. Há textos tão formidáveis que se tornaram eternos. Nela, encontramos um novo gênero — ou melhor, um poligênero literário, onde cabem o épico, a poesia, o lirismo, o drama. Tudo isso pulsa nas entrelinhas dessas crônicas. É quase uma defesa de tese: por que não reconhecer a importância literária da crônica esportiva? O jornalismo esportivo, por muito tempo, foi tratado como uma editoria menor, mas suas palavras nos conduzem por emoções profundas, positivas e negativas, pelas mãos dos que sabem contar as histórias do futebol como ninguém. É hora de reconhecer esse valor e defender o espaço da crônica esportiva na literatura brasileira — argumenta Mainenti
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A proposta é ousada: transformar a leitura em ritual, como uma torcida que aguarda ansiosa pela próxima rodada. Os livros chegarão mensalmente aos assinantes do clube de leitura, que já está disponível pelo site www.cronicasdofutebol.com. Quem entrar em campo logo no início — assinando o plano anual em abril — receberá um presente à altura da história: o livro “Entrevistas Eternas do Futebol”, uma seleção de conversas marcantes com craques como Garrincha, Zico, Sócrates, Pelé, Afonsinho e outros personagens que pensaram o futebol com os pés e com a cabeça.
— Na pesquisa percebi que tinha em mãos a história do futebol brasileiro. O Mário Filho tem uma estrutura de texto que merece ser estudada, o lead dele é apresentação do caso principal que ele tá narrando, e vai amarrando com casos semelhantes de outras épocas, uma estrutura maravilhosa, que se interliga, uma coisa formidável, deliciosa de se ler — descreveu Mainenti.

O lançamento aconteceu nesta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, e reuniu em sua apresentação nomes que entendem como poucos a beleza do jogo e o poder da palavra: Juca Kfouri, Geraldo Mainenti, Martha Esteves, Sérgio Pugliese e Lucio de Castro.
— Como não vou querer fazer parte de uma coletânea que tem nomes como Mario Filho, e tantos outros. Eu sou só agradecimento por poder fazer parte desse projeto incrível! Minhas grandes referências no esporte são João Saldanha e Armando Nogueira, mas não temos como falar de crônicas do esporte sem falar de Nelson Rodrigues. O futebol da década de 70 era muito melhor que o de 2017. Aos 75 anos de idade eu confesso que perdi, mas vou virar o jogo e ganhar! Se eu não tivesse essa paixão que eu tenho pelo futebol eu não seria quem eu sou hoje — afirmou Juca Kfouri, após o evento que lançou a coleção.
O projeto é assinado pelo coletivo editorial internacional A Ponte Invisível, formado por editoras do Brasil, Europa e América do Norte. Em quatro idiomas — português, espanhol, francês e inglês —, a coleção pretende atravessar fronteiras e levar a crônica esportiva brasileira ao mundo, tocando também os corações dos brasileiros que vivem fora do país.
Mais do que uma coleção de livros, “Crônicas Eternas do Futebol” é um arquivo vivo da paixão nacional. Em suas páginas, reencontramos heróis e vilões, narrativas épicas, gírias que nasceram nas arquibancadas, histórias de bastidores e lances que não cabem apenas no replay. Um verdadeiro museu de palavras para o esporte que nunca se joga sozinho — sempre se joga com memória, emoção e alma.
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