Mesmo com ouro de Thiago, atletismo deixa ponto de interrogação
Vitória heroica na final do salto com vara, com direito a recorde olímpico, além de um maior número de finais não diminuem as dúvidas sobre o futuro da modalidade
A noite de 15 de agosto ficará marcada na história da participação brasileira do atletismo nos Jogos Rio-2016. Naquela noite que começou com chuva no Estádio Olímpico do Engenhão, um garoto de 22 anos chamado Thiago Braz destronou um campeão olímpico e faturou a medalha de ouro no salto com vara, a primeira conquistada pelo Brasil desde a edição de Pequim-2008.
Mas se a vitória de Braz sobre o francês Renaud Lavillenie, que havia sido ouro em Londres-2012, devolveu parte da auto-estima ao atletismo do Brasil, a campanha encerrada neste domingo traz na bagagem também alguns bons resultados e muitos pontos de interrogação.
Os números demonstram que o atletismo brasileiro claramente evoluiu nos quatro anos que separaram os Jogos de Londres e do Rio. Há quatro anos, o desempenho foi pífio, com presença em apenas três finais: salto triplo masculino (Marcos Vinícius da Silva, o Duda), revezamento 4 x 100 m feminino e arremesso do peso feminino (Geisa Arcanjo), todos terminando em sétimo lugar. Na prática, o melhor resultado acabou sendo o quinto lugar de Marílson Gomes dos Santos na maratona.
Na comparação, o desempenho no Rio de Janeiro foi bem superior. Em provas com finais, foram oito participações: 3.000 m com obstáculos masculino (Altobeli da SIlva, em 9º); arremesso do peso (Darlan Romani, em 5º); lançamento do martelo (Wagner Domingos, em 12º), decatlo (Luiz Alberto de Araújo, em 10º); revezamento 4 x 100 m masculino (6º); revezamento 4 x 400 m masculino (8º); arremesso do peso feminino (9º) e salto com vara (Thiago Braz, ouro).
Também conseguiu bons resultados em provas pedestres, com destaque para o quarto lugar de Caio Bonfim na marcha atlética de 20 km ou o sétimo de Erica Sena na mesma prova, versão feminina. Ambos feitos inéditos na história olímpica brasileira. Todos estes resultados animaram a direção da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) ao final dos Jogos.
- Cumprimos nossas metas, o que significa que o planejamento estava correto. Agora é importante revisar o plano geral e adequá-lo para a preparação para os Jogos de Tóquio 2020 - disse José Antonio Fernandes, o Toninho, presidente da CBAt.
O problema é que apenas contabilizar números de finais parece ser muito pouco para um dos esportes que já rendeu ao Brasil outras quatro medalhas douradas, sem contar a que foi conquistada por Thiago Braz, sendo duas com Adhemar Ferreira da Silva (salto triplo), uma com Joaquim Cruz (800 m) e outra com Maurren Maggi (salto em distância).
Para uma delegação que contou com 67 atletas, recorde do país em Olimpíadas, oito participações em finais é algo muito modesto. Além disso, trata-se de uma equipe envelhecida, com média de idade de mais de 28 anos - e alguns nomes importantes estarão abandonando as competições depois da Rio-2016, como Fabiana Murer, no salto com vara, e Marílson dos Santos, na maratona.
Se o momento é de festejar a bela vitória de Thiago Braz, exige também uma reflexão a respeito do futuro do atletismo brasileiro após a Olimpíada do Rio de Janeiro