Presença de astros nos Jogos divide o boxe e esbarra em cifras milionárias
Prata em Londres-2012, Esquiva Falcão elogia proposta de inclusão de profissionais na Olimpíada, mas diz que Rio-2016 não é foco. Robson Conceição vê mudança precipitada
Não é tão simples quanto parece o interesse da Associação Internacional de Boxe (Aiba, na sigla em inglês) de liberar a participação de lutadores profissionais (aqueles que recebem bolsas a cada combate) nos Jogos Rio-2016.
A um passo de ser oficializada, a ideia esbarra na falta de interesse de muitos astros do esporte e em multas que podem chegar a R$ 16 milhões pelo rompimento de contratos já firmados entre atletas e apoiadores, segundo o LANCE! apurou.
Desde que o taiwanês Ching-Kuo Wu, presidente da entidade, tornou pública a intenção de flexibilizar as regras da modalidade (veja mais no quadro abaixo), as opiniões se dividiram. Medalhista de prata na Olimpíada de Londres (ING), em 2012, Esquiva Falcão vê benefícios para o boxe mundial, mas diz que essa não é a sua prioridade.
"Não me prejudicaria ir à Olimpíada, mas não estou pensando na possibilidade. Meu time e eu ainda não paramos para conversar. Meu foco é outro e estou treinando com força para ser campeão mundial" - Esquiva Falcão, ao LANCE!
– Não me prejudicaria ir à Olimpíada, mas não estou pensando na possibilidade. Meu time e eu ainda não paramos para conversar. Meu foco é outro e estou treinando com força para ser campeão mundial – disse o brasileiro, que tem um cartel de 12 lutas, sendo nove por nocaute, desde a profissionalização.
– Dá vontade de lutar em casa, mas terei essa chance para brigar pelo título mundial – completou.
Um dos entraves é a diferença de estilos entre o boxe profissional e o olímpico. A avaliação de pugilistas e treinadores é de que seriam necessários pelo menos seis meses de adaptação para que os não amadores chegassem em condições aos Jogos. Para empresários, pesa ainda o temor de que uma mudança de programação afaste investidores.
– O nome profissional diz: o cara investe dinheiro para ter retorno. Olimpíada é interessante para os que não têm carreira bem encaminhada – avaliou Sérgio Batarelli, ex-lutador e promotor de Esquiva.
Até agora, o único classificado do país é Robson Conceição (60kg). Ele tem garantias da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) de que competirá nos Jogos, mas contesta a novidade e prevê baixa adesão.
– Acho que se precipitaram um pouco. Não considero certo, pois o boxe olímpico é a base para o profissional. É injusto, mas nós estaremos preparados para enfrentar os melhores – declarou Robson.
– Seja o que eles querem. Só acho difícil as organizações profissionais liberarem os atletas, e os próprios aceitarem as regras e lutas sem bolsa. Também já está em cima, e eles teriam de ir ao pré-olímpico – seguiu.
A alteração nas regras deve ser sacramentada pela Aiba até abril, durante reunião do Comitê Executivo da entidade. O pré-olímpico mundial, no qual os profissionais poderão obter suas vagas na Rio-2016, será disputado entre 7 e 19 de junho, em Baku (AZE).
Ainda não há definição se a CBBoxe ou o Comitê Olímpico do Brasil (COB) arcariam tanto com o pagamento de multas quanto com bolsas para levar profissionais aos Jogos.
Aspirante apoia medida da Aiba
Apesar do receio de Robson Conceição, há amadores que aprovam a iniciativa da Aiba de liberar profissionais na Olimpíada. É o caso de Patrick Lourenço (49kg). Aos 22 anos, ele ainda compete no boxe amador, mas vê com bons olhos uma mudança.
– Acho que muitos não irão, mas gosto da ideia, até por poder me testar entre os melhores. Espero me profissionalizar um dia também, então já seria uma experiência bacana. Mas tenho muitas Olimpíadas pela frente ainda (risos) – disse.
BATE-BOLA
Esquiva Falcão
Boxeador, ao LANCE!
‘Sei que teremos ótimos feras nos representando’
LANCE!: O que achou da possibilidade de a Aiba liberar lutadores profissionais já na Olimpíada do Rio?
Esquiva Falcão.: É algo muito bom para o boxe olímpico e profissional. O sonho de todos os atletas é ganhar uma medalha olímpica ou disputar uma Olimpíada. Temos muitos campeões que não tiveram essa chance, ou até disputaram, mas não conquistaram uma medalha para o seu país. Foi onde minha carreira deslanchou.
L!: Você foi consultado pela Confederação Brasileira ou alguma entidade sobre competir no Rio?
E.F.: Ainda não entraram em contato diretamente. Mas tenho recebido mensagens nas redes sociais pedindo para que eu participe e conquiste a medalha de ouro para o Brasil. Mas sei também que teremos ótimos feras para nos representar.
L!: Pensando no boxe, quais seriam as vantagens e as desvantagens da mudança, se aprovada?
E.F.: Confesso que não vejo desvantagem. Cada um treina com um objetivo, que é conquistar uma medalha, seja amador ou profissional. Cada um tem de saber fazer o seu papel.
L!: Você se sente valorizado pelo seu passado olímpico?
E.F.: Muito. Graças a ele, oportunidades começaram a surgir. Inclusive a oportunidade na qual me encontro agora, de ser contratado pela Top Rank. Conquistei a medalha de prata em Londres, mas para mim ela vale ouro.
REGRAS FLEXÍVEIS
Fim do capacete
Obrigatório até Londres-2012, o equipamento não será mais utilizado a partir da Rio-2016.
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Limite de idade
Para a Rio-2016, o torneio de boxe terá limite de idade de 40 anos. Até 2012, era de 34.
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Objetivo
O intuito da Aiba é tornar o boxe mais atrativo em termos midiáticos. Na Agenda 2020, o COI pede que os “melhores” atletas estejam nos Jogos.
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Decisão
A liberação de profissionais deve ser sacramentada até abril pelo Comitê Executivo da Aiba.