Iraniano de 2,46m tinha vergonha de sair antes de brilhar no vôlei sentado
Morteza Mehrzadselakjani tem 15cm de diferença entre as pernas em razão de queda de bicicleta, e é o homem mais alto do país asiático. Mas garante viver como qualquer pessoa
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A palavra gigante, em referência a um atleta de estatura elevada, nunca fez tanto sentido como nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Jogador de vôlei sentado mais famoso do torneio, o iraniano Morteza Mehrzadselakjani, de 2,46m, sentia vergonha de sair pelas ruas até seis anos atrás.
Na época, sentir-se no centro das atenções era algo negativo. Olhares assustados deram lugar à admiração. Ouvir seu nome gritado por uma plateia ou virar personagem de reportagens no mundo? O que parecia improvável se tornou realidade. Aos poucos, ele aprende a lidar com uma nova vida.
Descoberto por um dirigente após participar de um programa de televisão em 2011, o atleta de 28 anos tem uma trajetória recente no esporte. Só entrou na seleção iraniana no ano passado. Nos últimos meses, colocou o país, que já era potência, na condição de time a ser batido. Hoje, é esperança do técnico Hadi Rezaeigarkani de levar a equipe ao topo do pódio na capital fluminense.
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– Antes, eu não saía para lugar nenhum. Tinha vergonha. Tenho certeza de que pessoas como eu só precisam de uma oportunidade para mostrar do que são capazes. Acredito que todas as pessoas que têm algum tipo de deficiência podem obter até mais sucesso do que quem não tem – afirmou Morteza.
O jogador é o homem mais alto do Irã, e está no top-3 do mundo no quesito. Quem lidera a lista, segundo o Livro dos Recordes, é o turco Sultan Kosen, de 2,51m. A explicação para tanto tamanho é uma acromegalia, um distúrbio causado pelo aumento da secreção do hormônio de crescimento. Como comparação, a rede no vôlei sentado masculino fica a 1,16m do chão.
A característica poderia resultar em um perfil de vôlei convencional. Mas Morteza sofreu uma fratura na pélvis aos 16 anos, após cair de bicicleta. O acidente impediu o crescimento de sua perna direita, 15cm menor que a esquerda.
Em uma equipe na qual quase todos caminham normalmente (a maioria foi vítima de um surto de poliomielite no Irã), o gigante precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Para se deslocar nas quadras, utiliza apenas os braços.
"Meu primeiro contato com uma bola foi em 2009. Antes, eu nem sabia o que era vôlei. Foi difícil no começo. Mas, quando comecei a conhecer os jogadores, melhorei" - Morteza
– Meu primeiro contato com uma bola foi em 2009. Antes, eu nem sabia o que era vôlei. Foi difícil no começo. Mas, quando comecei a conhecer os jogadores, melhorei – diz Morteza, que abre o sorriso tímido ao ser questionado sobre seus hábitos fora das quadras de vôlei.
– Gosto de ler e ver filmes. Sou uma pessoa como qualquer outra.
Treinador tira foco do jogador e cobra visibilidade
O técnico da seleção iraniana, Hadi Rezaeigarkani, tem um zelo especial por Morteza. Ao lado do jogador, faz questão de completar as respostas para as perguntas que os jornalistas dirigem ao gigante.
Tenta, ao máximo, tirar o foco do atleta e de questões que não dizem respeito ao esporte. E faz uma cobrança às televisões pela falta de cobertura da modalidade.
– Existem muitas pessoas como Morteza no mundo, que poderiam jogar vôlei sentado. Talvez com diferentes alturas ou tipos físicos. Minha pergunta é: por que as televisões não cobrem este esporte, que é capaz de atrair tanta gente com deficiência, de torná-los campeões e pessoas mais felizes? Espero que nos próximos Jogos tenhamos uma cobertura como o vôlei convencional e o basquete – declarou o comandante, que não esconde o favoritismo:
– Somos considerados os melhores porque trabalhamos mais do que os outros. O Brasil também trabalhou. Há alguns anos, ninguém ouvia falar do país – lembrou Hadi.
O Irã já derrotou a China na estreia, por 3 a 0, e a Bósnia, por 3 a 2, em uma revanche pela final da Paralimpíada de Londres, em 2012.
Invicto após dois jogos, a equipe encara nesta quarta-feira a Ucrânia, às 20h30, para confirmar vaga na semifinal no Rio, no encerramento da primeira fase.
COM A PALAVRA
Preocupação é com o ‘chicote’ de cima a baixo
Fernando Guimarães
(Técnico da Seleção Brasileira)
Morteza surgiu no ano passado e nos impressionou. Foi uma aposta do técnico do Irã. No início, era reserva. Desengonçado na época, aparentemente não havia jogado vôlei. Mas o treinador é muito bom e fez um grande trabalho com ele.
Hoje, ficou difícil para os outros times, porque são 2,46m. Ele não tem uma mecânica de movimento tão correta, mas, quando para o braço no alto, é só chicote, de cima para baixo. Para jogarmos contra o time deles, não podemos dar contra-ataque. Senão, a bola vai toda hora na mão dele. Fica difícil bloquear. Não há ninguém no vôlei convencional que ataque 30 cm acima do Lucão, por exemplo. Não dá. É completamente fora de todos os padrões que já vimos.
Vamos ver o que armamos para ele quando nos enfrentarmos. Estamos apostando numa estratégia diferente.
QUEM É ELE
Nome
Morteza Mehrzadselakjani
Nascimento
17/10/1987, em Chalus (IRA)
Altura
2,46m
Alcance de bloqueio
1,96m
Alcance de ataque
2,30m
Conquista
Em seu segundo ano na seleção iraniana, foi medalhista de ouro na Copa Intercontinental da China, em março, quando o país derrotou o Brasil por 3 sets a 0 na decisão.
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