Santos coleciona saídas no futebol e não consegue ter gerência estável
De polêmicas à propostas, Peixe 'perdeu' Gustavo Vieira e William Machado e agora está perto de perder Ricardo Gomes: nomes estão sendo discutidos, mas saída pode melar
A iminente saída de Ricardo Gomes para o Bordeaux, da França, se concretizada, será a terceira baixa no departamento de futebol do Santos em 2018. Antes dele, Gustavo Vieira ocupou o cargo de diretor executivo por apenas 45 dias antes de ser mandado embora, e William Machado foi gerente. Com polêmicas, pedidos de demissão e clima instável nos bastidores, especialmente na política, o Alvinegro não conseguiu ter estabilidade no setor.
Quando tudo caminhava para um período de calmaria, a tempestade voltou a rondar. Gomes gostou do que ouviu e aceitou a proposta do clube francês, o Santos, embora trate a saída como certa, ainda não anunciou. Embora tal anúncio seja tratado como "mera formalidade". A multa rescisória pode atrapalhar os planos do dirigente. A definição deve acontecer nesta terça-feira.
Se em campo Cuca parece estar dando conta do recado, com bons resultados, principalmente nos últimos jogos, fora dele a diretoria tem problemas. Ricardo Gomes é considerado ponto de equilíbrio no diálogo entre o técnico e o presidente José Carlos Peres. O posto que o executivo é primordial para a montagem do elenco para a próxima temporada, por exemplo.
Com Peres preocupado em se defender de dois processos de impeachment, cuja votação entre conselheiros está marcada para o próximo dia 10, na Vila Belmiro, o departamento de futebol ficará com uma lacuna até a nova contratação. Abaixo, o LANCE! destrincha os personagens.
Ricardo Gomes - Dor de cabeça com política
A iminente saída de Ricardo Gomes não chega a ser uma surpresa para pessoas ligadas ao Santos e ouvidas pela reportagem. Além da proposta do Bordeaux ser vantajosa em todos os aspectos em relação ao Alvinegro, Gomes já estava "saturado" com as inúmeras barreiras políticas encontradas durante os pouco mais de dois meses no cargo.
Foi assim, por exemplo, quando viu a contratação de um substituto para Jair Ventura virar uma novela - o carioca foi desligado do cargo em 23 de julho e Cuca só foi anunciado no dia 30 do mesmo mês. Nesse intervalo de tempo, muito se especulou sobre o substituto. Ricardo, inclusive, chegou a acertar os termos de contrato com Zé Ricardo, mas viu o vice Orlando Rollo detonar o treinador publicamente, melando a negociação. Só então Cuca foi procurado.
Assim foi também após a eliminação da Libertadores. No dia seguinte, no CT Rei Pelé, "caiu no colo" de Gomes a tarefa de conceder uma entrevista coletiva para colocar panos quentes no "climão" entre Peres e Cuca, que se tornou público depois de o comandante detonar o clube. Embora o Santos tenha anunciado que presidente e treinador falariam juntos, sobrou para o gerente.
Procurado, Gomes não respondeu ao contato da reportagem.
Gustavo Vieira - "Incompatibilidade de gestão"
O primeiro a expor os problemas e "abandonar o barco" foi Gustavo Vieira. Depois de demitido pelo Santos, deixou clara sua insatisfação com a gestão. De acordo com ele, os inúmeros interlocutores que fazem parte da rotina do clube travam a agilidade dos negócios e dificultam o trabalho - por estatuto, todas as decisões devem passar pela aprovação do Comitê de Gestão, por exemplo.
Na época de sua saída, já se desenhava a ruptura entre o presidente José Carlos Peres e seu vice, Orlando Rollo, que revelou ao LANCE!, em junho, o rompimento com o mandatário. Gustavo chegou a dizer que a própria diretoria não conseguia "se encontrar" para a tomada de decisões. Frustrado, não deu sequência ao seu trabalho no clube. Em nota, o Peixe tratou como uma "incompatibilidade de gestão".
William Machado - "Excelente proposta de trabalho"
Pouco mais de quatro meses depois da demissão de Gustavo Vieira, foi a vez de William Machado deixar o Santos. Neste caso, o gerente técnico pediu demissão. William chegou a herdar por um tempo as funções de Gustavo, embora tenha se mantido na gerência. Não costumava responder a perguntas sobre reforços do clube ou tratativas e chegou a dar uma entrevista coletiva para explicar quais eram suas reais funções.
Na época, o Peixe já havia contratado Ricardo Gomes. O Santos, então, passou a ter o gerente de logística Sérgio Dimas e o coordenador Diogo Castro no departamento de futebol. William migrou para o mercado financeiro e o gerenciamento da carreira de atletas.