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Saídas colocam em xeque modelo do Comitê de Gestão do Santos

Estatuto do clube diz que todas as decisões precisam ser aprovadas pelo colegiado, composto por nove membros. No momento, três cadeiras estão vagas

Andres Rueda - presidente do Santos
imagem cameraAndrés Rueda mudou de ideia sobre o Comitê de Gestão do Santos (FOTO: Ivan Storti/Santos FC)
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Lance!
SANTOS (SP)
Dia 30/07/2022
09:16
Atualizado em 30/07/2022
11:11

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O Santos perdeu, no dia 14 de julho, mais um membro do seu Comitê de Gestão: Vitor Sion anunciou sua saída do CG do clube nas redes sociais. Ele chegou a pedir licença e ficou afastado por compromissos profissionais entre os meses de abril e junho.

Esse foi o quinto membro do CG inicial do presidente Andres Rueda que se desligou do clube. Antes, saíram: Walter Schalka, José Berenguer, Ricardo Campanário, José Renato Quaresma, e, por último, Vitor Sion. Cada um alega motivos pessoais, mas, a instabilidade levanta a pergunta: o atual modelo é o ideal?

O colegiado santista agora conta apenas com quatro integrantes, além de Rueda e do vice José Carlos de Oliveira: Dagoberto Oliva, Rafael Leal, Renato Hagopian e Thomaz Côrte Real. Recentemente, Valéria Mendes foi reprovada pelos conselheiros após indicação do presidente. Há três vagas abertas.

O que é Comitê de Gestão?

O Comitê de Gestão é o órgão colegiado responsável pela administração e gestão executiva do Santos. Esse modelo passou a vigorar em 2012 após aprovação do estatuto atual em 2011. Nele, as principais decisões no clube são tomadas em reunião do Comitê, votadas pelos noves envolvidos. A ideia é que, dessa forma, as decisões sejam tomadas sem cunho pessoal. Antes, o trabalho era realizado de forma presidencialista.

O presidente do Santos, Andres Rueda, sempre foi um defensor deste modelo de avaliação. Recentemente, porém, o cartola santista mudou de ideia. Vale lembrar que ele foi um dos membros do CG do ex-presidente do clube, José Carlos Peres.

- Sempre fui um grande defensor do Comitê de Gestão e de decisões colegiadas. Mais cabeças pensando para uma decisão. Sempre achei que a assertividade seria muito maior. O primeiro CG na prática é o da nossa gestão. Os outros modelos não tinham a mesma transparência e a vontade do presidente era maior. Dentro do meu pensamento democrático, exercito o CG de acordo com o estatuto. Cada membro do CG tem direito e liberdade de opinar favoravelmente ou contra e votamos. Todas as votações são respeitadas. Já tive algumas opiniões divergentes, mas a maioria venceu e acatei. Todas as atas estão à disposição para quem quiser acompanhar. Eu percebi que é difícil colocar na mesa oito ou nove pessoas e pensar simplesmente como gestor. O viés torcedor está incrustado. Todos somos torcedores. É um modelo que, infelizmente, não é ideal, não. Ter um Conselho de Administração seria mais eficiente. Nem todos os membros do CG, em qualquer gestão, terão disponibilidade de dedicação de segunda a segunda. Ser dirigente do Santos requer 24 horas por 7 dias. É humanamente impossível ser ativo na vida profissional e ainda 100% ao clube. Hoje, se me perguntarem, mudei de ideia, sim. Presidente e vice tocando áreas profissionais e um Conselho de Administração fiscalizando seria melhor para o Santos - disse Rueda em entrevista recente à Rádio 365.

Conflitos com o Departamento de Futebol

Passagens recentes pelo clube, principalmente pelo Departamento de Futebol, causaram conflitos com o Comitê. No pensamento de quem era responsável pelo futebol, as decisões sendo tomadas pelo CG inviabiliza a figura do executivo de futebol. A falta de qualificação ou conhecimento do futebol de alguns membros também renderam críticas.

Em um dos momentos de crise recentes do Santos, o ex-executivo de futebol do clube Edu Dracena, ex-executivo de futebol do clube, deixou claro que a chegada de novos nomes não depende exclusivamente dele ou do presidente, e sim da aprovação do Conselho Gestor. A declaração não agradou.

- Dentro disso, tivemos uma reunião nessa semana, mapeando o mercado. Temos alguns nomes postos na mesa do presidente, juntamente com o Conselho Gestor, para que a gente consiga fortalecer a nossa equipe, dar respaldo para esses garotos que estão vindo com muito talento.  Tomara que a diretoria, com o presidente, a comissão e nós aqui consigamos trazer o mais rápido possível esses reforços para que a gente não passe o sufoco que a gente passou - disse o ex-executivo.

Mudanças no Estatuto podem alterar o formato do CG

O Santos realizou, em março deste ano, uma primeira reunião para discutir a mudança do estatuto. Os conselheiros apresentaram 47 sugestões dentro dos parâmetros pedidos pelo clube, como a assinatura de ao menos 30 membros do colegiado.

Entre as sugestão, estão: diminuição do número de conselheiros, a redução do número de membros do Comitê de Gestão (atualmente são nove) e a diminuição do número de sócios necessário para a abertura de uma embaixada (hoje são 100). A colocação do futsal como finalidade do Santos foi sugerida por mais de um conselheiro.

Vitor Sion, em contato do DIÁRIO DO PEIXE, falou sobre possível reformulação no Comitê de Gestão, citada acima. O ex-membro não descartou uma reforma, mas pede uma reflexão completa de como pode acontecer e sugeriu a ideia da permissão de outras pessoas, além de conselheiros, no CG.

- Acho importante que o Conselho Deliberativo reflita profundamente sobre o assunto e façamos uma reforma para melhorar o Comitê de Gestão. Uma opção seria permitir que outras pessoas, além de conselheiros eleitos que estão envolvidos na política do clube, façam parte do Comitê de Gestão - afirma Sion.

Qual o pensamento de quem passou pelo Comitê de Gestão?

O empresário Ricardo Campanário pediu para se desligar do Comitê de Gestão do Santos em março deste ano. Ele ocupava a função desde o início da gestão do presidente Andres Rueda, em 2021. Por não conseguir acompanhar as decisões do clube por conta de compromissos pessoais, optou pela saída. Mas é a favor do modelo.

- Eu gosto muito do modelo do Comitê de Gestão. Eu acho que ele traz benefícios do ponto de vista de governança do clube muito grande. O primeiro ponto é o isolamento de decisões precipitas, o risco de uma decisão mal tomada, guiada por uma única cabeça. Isso é impossível dentro de um Comitê de Gestão que tem nove pessoas pensando e processos que são votados o tempo todo. Então, a chance de você ter uma decisão intempestiva fora de hora, absolutamente estapafúrdia, é pequena. Evidente que os nove podem errar, e muitas vezes erram mesmo. Mas o risco é muito menor. Obviamente com uma pessoa sozinha decidindo, o risco de você tomar uma decisão para um lado ou para o outro, ou uma decisão guiada por outros interesses, é muito maior. Portanto o isolamento de decisões ruins ao longo do tempo é muito grande. O segundo ponto é que você tem uma diversidade tremenda, no processo decisório, no raciocínio e decisão, o que é muito rico. Aí cabe a quem faz a convocação dos membros do Comitê de Gestão, trazer pessoas complementares. Você te a possibilidade de montar uma equipe diferente, de áreas distintas, com formações diferentes, o que é muto rico. Hoje, o Comitê com menos gente, tem pessoas que falam ‘poxa vida, estamos perdendo a possibilidade de ter pessoas diferentes aqui dentro’. Essa é uma possibilidade muito rica que eu valorizei demais. Eu vivi isso na pele por um ano e meio e isso era muito claro. A terceira coisa que é que você pode ter uma equipe técnica muito grande - disse Ricardo Campanário ao LANCE!/DIÁRIO DO PEIXE.

- Eu entro também em outro lado dos argumentos do Comitê de Gestão. O primeiro deles, que eu não acho nem que é um argumento, mas o problema é formá-lo de forma política. Acho que hoje, na gestão do Andres Rueda, não acontece, ou acontece menos. Mas nas anteriores, você tinha Comitês políticos. Você tinha fulano que ganha e chamava membros de outras chapas para ganhar governabilidade. Esse é péssimo caminho. Você compor o Comitê de maneira política, evidente você vai ter conflito e interesse político, e não técnico. Agora, a partir do momento que leva pessoas competentes para determinadas áreas, você monta um time bom, tecnicamente. Mas precisa executar de maneira técnica e não político. Por último, um argumento que todo mundo fala: ‘Ah, o Comitê é muito lento’. Não é. De novo, eu vivi isso um ano e meio. Tomávamos decisões pelo WhatsApp o tempo todo, fazíamos reuniões o tempo todo, virtuais ou não, e as decisões eram rápidas. O que você tem são processos complexos no mundo do futebol e que exigem discussões etc. Mas o fato de você ter sete, quatro, três ou um, não faz o processo lento. O que acontece se julga o Comitê de Gestão, e fazem isso há muito tempo porque o Santos está numa fase ruim, julgam pelo resultado no campo. Tudo no futebol gira em torno do resultado. Existe uma mistura de julgamento muito cruel. O Comitê do ponto de vista de governança, isolamento de risco e capacidade técnica, inclusive processo decisório, é muito bom. Eu gosto muito - completa.

Campanário citou outras grandes empresas fora do esporte que trabalham com sistemas parecidos e se diz contra a possível mudança no modelo.

- Eu acho que deveria ser mantido. Eu sei que existe uma linha grande de voltar atrás e ser como era antes. Se você for para o meio corporativo, do qual eu venho e faço parte por muitos anos, todas empresas, as melhores, com melhores práticas, têm um conselho de administração, das mais diversas, inclusive de fora, que definem o caminho estratégico. E depois isso é discutido com o CEO e levam para diretoria. Eu acho que deve ser mantido. Inclusive eu gosto da diversidade. Eu escuto até de diminuir, até porque o Andres não consegue completar, mas não sou a favor da ideia. Eu gosto de manter o mais diverso possível - explica.

Apesar dos elogios, Campanário vê o Comitê de Gestão sendo utilizado de maneira errada e deu exemplos de como uma nova adaptação pode tornar mais efeito e, de fato, fazer o clube 'andar'.

- O ponto é: acho que o Comitê está sendo utilizado de maneira equivocada. O CG precisa se preocupar com decisões estratégicas, como um conselho de administração. Tem muitas multinacionais que não são da empresa, são chamados conselheiros internos, que se reúnem e dão norte, estratégias, para onde iria a empresa, você projeta futuro. Pensa em como posicionar o clube ao longo do tempo. Eu acho que deveria pensar em SAF, estrutura de capital, Liga. Mas não. Hoje, o Comitê de Gestão olha para o dia a dia, para vestiário, pagamento de contas, burocracia. Esse não é o papel de Comitê. Ele precisa ser composto por pessoas que olham o futuro do clube. Em que lugar vamos estar no futuro, que vantagem competitiva, o que acontece na concorrência. Não no hoje. É a minha opinião. O Comitê de Gestão deveria ter abaixo dele, um CEO, conselheiros técnicos, essa turma toca o dia a dia. Esse não é o papel do CG que é olhar o futuro. É muito difícil a turma do Comitê de Gestão não estar no dia a dia, então aí não faz uma coisa e nem outra.

Em relação a Vitor Sion, ele deixou o clube alegando compromissos profissionais. Esse, inclusive, é um dos tabus do CG: conciliar a vida profissional com o cargo, que não é remunerado.

- Como o cargo de CG do Santos é voluntário, cada membro acaba conciliando como pode, dependendo da demanda de trabalho em determinada época. Para a profissionalização completa do clube, entendo que a direção deve ser formada por uma mescla entre associados eleitos, como o CG de hoje, e profissionais do mercado remunerados - disse Vitor Sion.

O ex-membro comentou sobre a importância de um Comitê de Gestão para a liderança e a transparência de um clube. Porém, citou "outras gestões" que não cumpriam com a divulgação das atas do Comitê de Gestão, que é obrigatório e previsto no Estatuto.

- O Comitê de Gestão surgiu para tentar melhorar a governança do clube e diminuir a concentração de poder do presidente. Durante o tempo em que estive no CG de Rueda, isso, de fato, ocorreu. No entanto, isso não significa que o modelo seja bom. Em outras gestões, não havia transparência com as atas do Comitê de Gestão, por exemplo. Isso poderia levantar dúvidas se os membros estavam cientes e de acordo com as principais questões do clube, o que é preocupante e de alto risco para a instituição. Dada a competitividade do mercado do futebol, não me parece adequado que o clube seja dirigido por pessoas que não se dedicam integralmente ao Santos. Como decidir a demissão de um treinador sem acompanhar os treinos, as preleções e o relacionamento diário no CT? Entendo que o julgamento pode ficar prejudicado - afirma Sion.

Sem o Comitê, como avaliar e controlar as gestões que passam pelo clube? 

Ernani Thiotsu, membro do Conselho Deliberativo do Santos, em contato do LANCE!/DIÁRIO DO PEIXE, vê dois lados do uso do Comitê: o teórico e o prático. Ele citou exemplos de outros presidentes que passaram pelo clube recentemente. Ele ainda firmou que há outras formas de julgar em caso de corrupção.

- O Comitê de Gestão, na teoria, é muito válido. Ele descentraliza o poder do presidente e compartilha com os demais membros para que tenha uma forma democrática para evitar corrupção e uma série de irregularidades. Mas, na prática isso não funcionou desde sua criação no modelo atual até essa última gestão. Temos como exemplo o Peres, com o desmando. Então, independente do que a maioria achasse no Comitê, se o Peres não concordasse, ele passaria por cima da opinião unilateral. Em contrapartida, esse modelo, na gestão do Rueda, atrasou diversos processos, principalmente em contratações. Se você precisa de uma contratação pontual, de maneira rápida, você tem a morosidade de colocar isso para reunião do CG e seja feita a votação e ter uma resposta. Então, é um modelo que não funciona na prática. A minha opinião, com o mecanismo que temos hoje, com a condução do modelo presidencialista, apenas com o Presidente e Vice-presidente, se torna mais prático, viável. Mas aí você fala, poxa, e na parte de investigação, corrupção. Hoje, o Estatuto do clube ele é adequado a Lei do Profut, principalmente no que tange a gestão temerária. É um gatilho para coibir esse tipo de situação. E existe também a reformulação do estatuto social, que o próprio presidente do conselho gestor, que é o Andres Rueda, vai colocar algumas propostas de mecanismos que coíbem atos de corrupção e assim existira a punição e as medidas cabíveis com quem praticar. Esse tramite já está para ser votado ao Conselho Deliberativo e esperamos que seja feita na prática para que o Estatuto esteja mais munido de ferramentas para se houver algum ato temerário, a punição ocorra de fato e de maneira rápida - disse Thiotsu.

Em caso de sinal positivo para alteração do Estatuto do Clube, o Conselho Deliberativo será chamado para votar o parecer da Comissão do Estatuto. Em seguida, uma assembleia de sócios será convocado também para votar sobre o tema.

O LANCE!/DIÁRIO DO PEIXE entrou em contato com o Santos solicitando posicionamento do presidente Andres Rueda e os atuais membros do CG, mas, até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.

Walter Shalka preferiu não se posicionar, mas afirmou: - Apenas deixo registrado a posição colegiada adotada pelo presidente Rueda. José Quaresma e José Berenger não se manifestaram.

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