Rivais em briga, Aidar e Ataíde são expulsos do Conselho do São Paulo
Em reunião extraordinária na noite desta-segunda-feira, conselheiros do clube votaram pela cassação dos direitos da dupla que se envolveu em confusão no ano passado
O Conselho Deliberativo do São Paulo votou nesta segunda-feira pela exclusão do ex-presidente Carlos Miguel Aidar e do diretor de relações institucionais Ataíde Gil Guerreiro do quadro de conselheiros vitalícios do clube. A punição aos dois foi recomendada pelo Comitê de Ética, presidido por Ópice Blum, e aprovada pela maioria do conselho em reunião extraordinária. O voto era secreto.
A punição impede, por exemplo, que os dois se candidatem a presidente, exerçam cargos de qualquer vice-presidência ou votem nas eleições, bem como participem das reuniões do Conselho. Eles podem seguir como sócios do clube e até assumir alguma diretoria, como é o caso de Ataíde. Ele foi remanejado da vice-presidência de futebol para a diretoria de relações institucionais pelo presidente Carlos Augusto de Barros e Silva após pressão da torcida e conselheiros.
A reunião teve clima tenso. Ataíde se exaltou no microfone quando foi fazer sua defesa. Uma das acusações levadas pelo Comitê de Ética dizia que ele, Carlos Miguel Aidar e Cinira Maturana, namorada de Aidar, participaram de uma negociação que trouxe o advogado José Roberto Cortez para o clube, e dividiram comissão. Ataíde negou, disse apenas que assinou a contratação por recomendação de Cinira, nada de comissão. O advogado cobra cerca de R$ 8 milhões do São Paulo por honorários. Esse foi o episódio que mais surpreendeu os conselheiros ouvidos pela reportagem.
O dirigente também teve de explicar o episódio da briga com o ex-presidente, num hotel na capital de São Paulo. Disse que não deu um soco em Aidar, mas agarrou seu pescoço: "Falei que tive vontade de matar ele", afirmou Ataíde, no Conselho.
Já Carlos Miguel Aidar admitiu, pela primeira vez, que sua namorada participou das negociações de Rodrigo Caio na Espanha, quando o jogador tratou com Valencia e Atlético de Madrid, mas acabou não fechando com ninguém. O parecer do Comitê de Ética mostrou e-mail em que Cinira detalha o encontro na Espanha. Aidar disse que ela estava de folga no país e por isso a recomendou que acompanhasse as tratativas.
O ex-presidente renunciou ao cargo em outubro do ano passado após denúncias de irregularidades, muitas delas feitas pelo próprio Ataíde. Pagamento de comissão à namorada, negociações mal conduzidas e com acusações de desvio de dinheiro, como do zagueiro Iago Maidana, e o contrato com uma empresa situada em paraíso fiscal para intermediar o acordo com a Under Armour formaram o cartel de problemas do ex-mandatário.
Vale lembrar que as denúncias contra a administração de Aidar também estão sendo investigadas pelo Ministério Público de São Paulo. Os dois ex-amigos ainda podem ser expulsos totalmente do São Paulo, mas aí dependerá de outro processo que ainda não foi aberto.
O processo de expulsão de Ataíde e Aidar começou por volta das 20h, com apresentação de pareceres e defesas e se encerrou por volta das 23h30, com a apuração dos votos dos 177 conselheiros presentes.: 120 votaram a favor da expulsão de Ataíde e 152, da de Aidar.
Com a perda de seus direitos políticos, Carlos Miguel Castex Aidar de 69 anos, encerra de maneira melancólica sua histórica no clube, que contou com três mandatos de presidente, dois na década de 1980, e o último de abril de 2014 a outubro de 2015. O advogado ainda mancha o nome da família no São Paulo, já que seu pai, Henri Aidar também foi presidente do clube de 1972 a 1978.
Ataíde também sofre dura derrota. Após anos de atuação no Conselho do São Paulo e participação na diretoria, sai da maneira que menos gostaria. Nos últimos tempos, o dirigente se mostrava muito preocupado com o possível resultado do processo. Agora, a tendência é que ele peça afastamento da diretoria de relações institucionais do clube.