Ao L!, Parreira avalia futuro da Seleção e possibilidade de técnico estrangeiro após Tite
Treinador da Amarelinha na Copa do Mundo de 1994 comenta sobre o futuro da Seleção Brasileira após a saída de Tite e diz que escolha não será fácil: 'Temos bons nomes'
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A poucos meses do início da Copa do Mundo do Qatar, a Seleção Brasileira entra na contagem regressiva para o fim da era Tite. O técnico já afirmou que deixará o comando da Amarelinha após o torneio, e ainda não há definição sobre quem será seu substituto. Mas no que depender de Carlos Alberto Parreira, comandante na conquista do Mundial de 1994, o próximo treinador será um brasileiro, e não um estrangeiro.
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Parreira elogiou o trabalho que alguns treinadores estrangeiros têm feito no Brasil, mas disse que a pentacampeã mundial precisa ser treinada por um técnico nascido no país. Ele, porém, não apontou quem seria o seu favorito hoje.
- Acho que a Seleção Brasileira tem que ser dirigida por um técnico brasileiro. Ponto final. Hoje não teria esse nome, eu não sei quem seria. Se eu fosse o presidente da CBF, que tivesse que escolher um treinador pós-Tite, eu iria me debruçar em alguns nomes e ficaria na dúvida de qual seria. Mas com certeza tem gente habilitada e capacitada. Não é que a gente não precise (treinadores estrangeiros), esse intercâmbio é muito bom. Já tivemos no basquete, no vôlei e em várias áreas, mas a Seleção Brasileira é muito especial. Acho que tem que ser dirigida por um técnico brasileiro - disse antes de completar:
- Não teriam muitos nomes neste momento. Quando eu assumi para a Copa de 1994, tinham quatro ou cinco nomes, no final estreitou para três. Era Luxemburgo, Telê Santana e Parreira. Gente de peso no futebol. Para você escolher dois nomes com esse peso hoje está complicado, está difícil, mas tem. Eu acho que a Seleção Brasileira tem que ser dirigida por um técnico brasileiro. Não consigo ver um técnico estrangeiro aqui. Um dia pode acontecer, não vejo como algo grave. Guardiola? Sou um grande fã dele, pelo trabalho que ele fez no Barcelona, o tiki-taka, por tudo o que ele vem fazendo... sou fã do trabalho dele. Mas quero ver a Seleção dirigida por um brasileiro. Seria uma experiência interessante, mas eu quero ver um técnico brasileiro. Ninguém iria negar, faria um trabalho muito bom (Guardiola). Cuca? Não vou citar nomes. Mas temos bons nomes.
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Ainda sobre o trabalho de treinadores estrangeiros no Brasil, mas falando a nível de clubes, Parreira citou o que os portugueses estão conseguindo mostrar no futebol brasileiro e falou sobre a preparação no país lusitano. Segundo o ex-treinador, este é o modelo a "ser seguido e copiado".
- Eles estão se saindo muito bem. Muitos clubes brasileiros estão com técnicos estrangeiros. É uma boa pergunta, não sei se eu teria a resposta (por que brasileiros estão perdendo espaço). Com certeza a gente perdeu um pouco de terreno nessa batalha, que eu acho que é muito boa. Esse intercâmbio de ideias, de experiência. Vem um europeu para cá, um sul-americano argentino ou uruguaio, um inglês, um alemão... acho muito boa essa troca de experiência. Interessante é que são muitos portugueses, e Portugal é um país pequeno, mas que tem uma formação de treinadores muito boa. A escola portuguesa de formação é muito boa. É um modelo para ser seguido e copiado. Não é por acaso que eles estão tendo sucesso no futebol brasileiro e no mundo todo - declarou Parreira.
- De um modo geral, a imprensa e os torcedores são mais pacientes com os treinadores estrangeiros. Não existe paciência com treinador brasileiro. O Fábio Carille saiu do Athletico-PR com 21 dias, com sete jogos. Isso é uma covardia. Não tem paciência. Se um treinador estrangeiro vem aqui e perde um, dois, três, quatro jogos, existe uma margem de paciência bem maior. Eu acho que os brasileiros são tão bons quanto os estrangeiros que estão aqui. É uma questão de paciência e de dar tempo ao tempo. O Brasil ganhou cinco Copas do Mundo com técnicos brasileiros. Não precisamos importar técnicos estrangeiros para vencer - continuou.
- Acho que esse intercâmbio com os estrangeiros é muito bom para o futebol brasileiro. A troca de ideias, de informações de treinamento, filosofia de jogo. Lembro quando o Jesus chegou no Flamengo que tinha o negócio de poupar na quarta para jogar no domingo e ele falou que jogaria todo mundo. Está preparado, ganhando bem e bem treinado para atuar domingo, quarta e domingo. Acabou com essa história de poupar. Essas ideias são boas. Quando temos portugueses, argentinos, uruguaios, acho interessante. Mas a Seleção Brasileira tem que ser dirigida por um técnico brasileiro. O Guardiola eu acho um dos melhores da história do futebol por tudo que fez e vem fazendo. Evidente que um técnico da expressão dele na Seleção não iria contestar nada, faria um trabalho excepcional. Só que eu acho que precisa ser brasileiro - finalizou o técnico do tetra.
"TEM QUE SER CAMPEÃO"
Ainda faltam alguns meses, mas Tite já começa a contar os dias para o fim da passagem que começou em junho de 2016. Agora vivendo o primeiro ciclo completo de uma Copa do Mundo, a Seleção Brasileira está mais pronta, na visão de Parreira. O campeão em 94 elogiou o ex-comandante do Corinthians e disse que ganhar o Mundial do Qatar vai coroar esta trajetória. Outro ponto abordado pelo ídolo da Seleção foi em relação ao grupo. O ex-treinador acredita que o elenco está praticamente fechado.
- Na Copa anterior ele pegou bem em cima, com o time muito mal. Agora ele teve tempo para pensar, raciocinar, formatar o time, escolher os jogadores que eles acham que deveriam ter sido escolhidos... Eu acho que o trabalho é bom e é positivo. Falta ganhar a Copa. Importante coroar este trabalho com a conquista porque para nós, brasileiros, tem que ser campeão, não tem jeito. O trabalho só é bem feito se for campeão, infelizmente esta cultura permanece até hoje e não vai mudar - afirmou.
- Eu acho que o Tite já tem 80%, 90% do grupo definido. São quatro anos de trabalho. Você tem que deixar um espaço de 10%, 15% para um fenômeno que acaba acontecendo no último momento. Por exemplo, o Rodrygo, não sei se estava no radar ou não, mas ele entrou. Não só pelos dois gols (contra o Manchester City), mas por tudo o que ele vem fazendo desde os 16 anos, no Santos. Isso agora só veio mostrar que ele é um jogador interessante. E aí de repente o treinador começa a pensar e isso é bom. Tem alternativas, tem que pensar e não definir muito cedo. Tem que deixar uma portinha aberta para o último momento. Em 1994 nós tivemos o Ronaldo. Até 1993 ele não era jogador de Seleção. Foi convocado duas vezes, jogou muito bem com 17 anos e ganhou uma vaga no último momento.
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Depois de uma nova convocação para a próxima Data-Fifa, Tite mais uma vez foi questionado pela ausência de Raphael Veiga, do Palmeiras. Parreira, porém, acredita que a missão de acomodar muitos jogadores de qualidade foi o principal fator pela não convocação do meia-atacante alviverde.
- Não acho que tenha faltado ninguém. O Tite aproveitou os melhores. Você nunca vai ser unanimidade, nunca vai ter 100% de acerto. Nosso futebol tem muita gente boa, na hora de convocar é complicado mesmo e vai ficar gente boa de fora. Eu acho que o Rodrygo (do Real Madrid) tem que ser chamado. Mas o problema é do Tite. Como vai acomodar Rodrygo, Vini Jr., Richarlison, Neymar? Tem que arrumar vaga para todo mundo nos 26 e depois nos 11. O nosso problema é esse: excesso de bons jogadores.
- Sempre tem alguém. O Raphael Veiga cresceu nesses últimos dois anos. Eu acho ele muito bom, acho ele ótimo. Mas o Tite não teve tempo de testá-lo. Não sei se seria oportuno pegar e levar para a Copa do Mundo. Não vou nem dar minha opinião, ele é que tem que resolver. Que é um bom jogador, é. Que está num momento excelente, também está. Tem resolvido para o Palmeiras, tem jogado muito bem, tenho acompanhado e acho ele ótimo.
A Seleção Brasileira entra em campo no próximo dia 2 de junho, contra a Coreia do Sul, em Seul. Quatro dias depois, o adversário será o Japão, em Tóquio. Depois, ainda tem mais uma Data Fifa antes da convocação final para a Copa do Mundo do Qatar no fim de novembro.
* Estagiário, sob a supervisão de Tadeu Rocha.
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