Postura de Coronel Nunes na Rússia incomoda e pode atrapalhar CBF
Entrevista desastrosa, voto no Marrocos contrariando acordo com a Conmebol e até briga em bar reforçam isolamento do presidente em meio à imbróglios da entidade com a Fifa
A já conhecida postura do presidente Coronel Nunes, como era de esperar, está incomodando membros da cúpula da Confederação Brasileira de Futebol na Rússia. Nos últimos dias, o dirigente esteve envolvido em diversas polêmicas e vive em uma espécie de isolamento político em relação aos outros membros da entidade máxima do futebol brasileiro, algo que já acontecia no Brasil. Por orientação de seus assessores, o dirigente tem evitado ao máximo ter contato com o público. Na primeira semana do Mundial, esteve no treino da Seleção Brasileira em Sochi. E deu declarações desastrosa, cometendo gafes sobre o país da Copa e concorrentes da Seleção.
O problema é que as trapalhadas do Coronel vem em meio a um momento em que a CBF discute assuntos importantes com a Fifa e teme ter perda de representação diante da entidade que comanda a Copa. Depois do jogo contra a Suíça, a CBF enviou a Fifa uma representação pedindo explicações sobre o não uso do VAR na estreia em pelo menos dois lances, mas a entidade máxima deu de ombros. No jogo seguinte, contra a Costa Rica, o VAR entrou em ação contra o Brasil anulando pênalti marcado sobre Neymar. O árbitro, após consultar o auxílio de vídeo, considerou que o atacante se jogou.
A possível perda de força da CBF, que está mal vista na Rússia também por conta da atuação bizarra de Nunes, é algo que também preocupa a comissão técnica. Em entrevista coletiva, Tite disse que gostaria apenas de que o VAR fosse utilizado da mesma forma para todos.
A primeira grande polêmica do atual presidente da CBF foi o voto no Marrocos para sede da Copa de 2026, contrariando um apoio já combinado para a América do Norte, que acabou vencendo a disputa. O voto de Nunes gerou uma crise diplomática e incomodou bastante a Conmebol. O ato foi considerado uma traição. Questionados, mais de uma vez membros da CBF disseram que o voto do coronel representou apenas uma decisão pessoal.
Já em conversa com jornalistas no treino aberto da Seleção na primeira semana em Sochi, disse que espera que o Brasil quebre um tabu que, na verdade, não existe, de vencer como uma seleção sul-americana uma Copa na Europa. A própria Seleção Brasileira já conquistou tal objetivo em 1958, ganhando da Suécia na final na casa do rival. O dirigente confundiu também o Mar Vermelho com o Mar Negro, este último o que de fato banha Sochi. O primeiro fica no golfo do Oceano Índico, entre a África e a Ásia.
Na semana passada, enquanto estava com um de seus assessores em um restaurante de São Petersburgo, se envolveu em outra polêmica. Gilberto Barbosa quebrou um copo na cabeça de um torcedor. Alexandre Nazareno precisou enfaixar o local para conter o sangramento e Gilberto foi enviado de volta ao Brasil.
A atuação bizarra do Coronel Nunes é um reflexo maior da crise da CBF na Rússia. Em escala menor, houve outras falhas da entidade, entre organização e logística. Um exemplo foi o planejamento feito para o entorno da Seleção em Sochi. No inicio, a entidade tinha cuidado para a delegação ter total privacidade no hotel onde está hospedada, sem contato com jornalistas e até mesmo familiares, que ficariam em um outro hotel próximo. No entanto, houve brechas no plano e profissionais de imprensa acabaram conseguindo fazer base no local. Dos familiares, todo o pessoal de Neymar acabou ficando no Swissaotel Kamelia, a casa da Seleção. Pai, mãe, amigos e a namorada Bruna Marquezine dividem a concentração com a Seleção.
Os jogadores possuem uma parte isolada do hotel, o que mantém a privacidade pretendida pela comissão técnica, mas o local de entrada e saída é o mesmo de qualquer outro hóspede. Não há como evitar o contato com jornalistas. Depois do plano falhar, a CBF argumentou que não tinha como controlar o fluxo no hotel, que também está sob ordem da Fifa.