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Primeiro jogo de Pelé e Garrincha juntos na Seleção completa 60 anos

No dia 18 de maio de 1958, a dupla escreveu o primeiro capítulo de uma das histórias mais bonitas do futebol brasileiro. O LANCE! relembra a vitória sobre a Bulgária no Pacaembu 

Garrincha e Pelé formaram uma das duplas mais importantes de toda a história do futebol. Juntos, ganharam duas Copas do Mundo.
imagem camera(Foto: Reprodução/ Facebook / Arquivo Lance!)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 17/05/2018
21:11
Atualizado em 18/05/2018
12:35

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Há exatos 60 anos, uma das histórias mais ricas da Seleção Brasileira começava a ser escrita. No dia 18 de maio de 1958, no estádio do Pacaembu, Pelé e Garrincha atuaram juntos pela primeira vez com a Amarelinha. A vitória diante da Bulgária, por 3 a 1, marcava o pontapé inicial de uma parceria que rendeu a conquista de duas Copas do Mundo e a consolidação do Brasil como potência no esporte mais popular do planeta.

Juntos, Pelé e Garrincha jamais foram derrotados. Ao todo, a dupla fez 40 jogos (sete deles em edições do Mundial) , tendo 36 vitórias e quatro empates. Foram 55 gols da dupla: 44 marcados pelo camisa 10 do Santos, e 11 anotados pelo Anjo das Pernas Tortas, dono da camisa 7 do Botafogo.

Por meio da consulta de arquivos históricos, disponíveis no acervo do Museu do Futebol - curiosamente instalado no mesmo estádio onde a dupla iniciou sua jornada na Seleção -, o LANCE! relembra a primeira partida de Pelé e Garrincha com a camisa do Brasil.

Os alemães já sabiam

Dois dias antes da partida no Pacaembu, jornais alemães noticiavam a presença da dupla brasileira em campo pela primeira vez com certo entusiasmo. De acordo com a edição do dia 17 de maio de 1958 de 'A Gazeta Esportiva', a mídia europeia tratava Pelé como "um artista da categoria de Didi". Já Garrincha era visto como "um outro jogador interessante da seleção", comandada por Vicente Feola. Infelizmente, no entanto, o jornal brasileiro não cita quais periódicos alemães foram consultados.

Amistoso preparatório para a Copa do Mundo

O jogo contra a Bulgária fazia parte da preparação da Seleção para a Copa do Mundo de 1958, que seria realizada de 10 a 29 de julho daquele ano. Revelação do Santos, o jovem Pelé, de apenas 17 anos, já despontava como craque. Titular no ataque, o garoto fez dois gols contra os búlgaros e se consolidava como uma realidade no selecionado nacional.

Craque no Botafogo, Garrincha era visto pela imprensa paulista como um jogador descomprometido com o coletivo. Na época, disputava posição com Joel, destaque do Flamengo. O próprio jogador do Rubro-Negro temia a concorrência do Anjo das Pernas Tortas.

- Por enquanto, pelo menos, meu grande adversário é Garrincha. Até aqui, tenho jogado. Mas, no momento decisivo, quem sabe se o dono da posição será eu mesmo ou será Garrincha? Que seja porém Garrincha, se eu for mesmo, lá estarei para 'torcer', para bater palmas, para gritar gol certamente. De qualquer modo, lutarei pela posição, de corpo inteiro, pois conheço perfeitamente a força do futebol de Garrincha - disse o ponta à reportagem de 'A Manchete Esportiva', revista periódica da época.

Curiosamente, Joel fez os dois primeiros jogos com a Seleção na Copa de 1958. Após o empate sem gols com a Inglaterra na fase de classificação, o flamenguista se lesionou e Vicente Feola colocou Garrincha entre os titulares. 

Marca histórica por um fio

Juntos, os craques não perderam nenhuma partida. A marca, no entanto, poderia nem sequer ter existido. De acordo com os relatos daquela partida, o Brasil saiu perdendo para os búlgaros logo aos sete minutos, com gol de Todor Diev. Um minuto depois, o mesmo jogador acertou a trave do goleiro Gilmar dos Santos Neves, jogador do Corinthians, e poderia ter gerado uma vantagem de dois gols. Havia uma preocupação grande com o sistema defensivo da Seleção e, em caso de uma desvantagem de 2 a 0, o segundo tempo poderia ter sido diferente.

Brilha a estrela de Pelé

Se o desempenho do Brasil na etapa inicial deixou a desejar, o segundo tempo teve a assinatura ofensiva do futebol que consagrou a Seleção em cinco mundiais. Com apenas três minutos no relógio, Garrincha bateu escanteio e Pelé marcou. Na sequência, o jovem jogador do Santos, de novo, balançou a rede do time búlgaro. Para terminar, o atacante Pepe, outro astro do Peixe, fechou a conta no Pacaembu. Vitória do Brasil por 3 a 1. A Seleção ganhava corpo para o Mundial, que seria realizado na Suécia.

Garrincha criticado

Apesar de ter dado uma assistência e, segundo a crônica dos dois veículos consultados, ser muito participativo no ataque, o ponta do Botafogo foi criticado. Os jornalistas de 'A Manchete Esportiva' deram nota 6 para atuação de Garrincha. Já o jornal 'A Gazeta Esportiva' descreveu o desempenho de Garrincha da seguinte forma:

- Garrincha, que tantas críticas recebe pelo seu individualismo teimoso, nos primeiros minutos parecia corrigido desse seu mal, eis que no início seu jogo foi lúcido em colaborar nas jogadas. Mas desde que errou o primeiro tiro voltou à sua teimosia individual e arruinou quase todos os ataques. Tiros escancarados, fintas travadas e perda total de confiança.

Autor da biografia Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha (vencedor do Prêmio Jabuti de 1996 na categoria de Livro do Ano - Não Ficção), o jornalista Ruy Castro atendeu a reportagem e falou sobre a parceria entre os dois jogadores:

Essas críticas ao estilo de jogo do Garrincha eram comuns nos veículos de comunicação ou, naquela época, Garrincha já era tratado como um gênio?
As críticas se concentravam na imprensa paulista, então barbaramente provinciana. No Rio, o pessoal de o 'Globo', do 'Jornal dos Sports' e, principalmente, da 'Manchete Esportiva', já era louco por ele havia mais de dois anos. Não esquecer que o ataque do combinado Flamengo-Botafogo que enfrentou o húngaro Honved no Maracanã, no começo de 1957, foi Joel, Didi, Evaristo, Dida e Garrincha - com Garrincha na ponta esquerda porque não podia ficar de fora [e que ataque, hein?]. Não se usava a palavra gênio por qualquer motivo. Mas todos sabiam que Garrincha era um craque - e a final do Campeonato Carioca daquele ano, Botafogo 6 x 2 Fluminense, em que Paulo Valentim fez cinco gols, mas o maior jogador em campo foi Garrincha, era uma prova disso.

Naquele período, houve uma disputa entre Pelé e Garrincha por um protagonismo na seleção brasileira?
Não. Nenhum dos dois tinha cacife ou personalidade para isso. O "protagonismo", disparado, era de Didi, como craque; Nilton Santos, pela idade; e Bellini, pela liderança.

"O alcoolismo destruiu Garrincha não só na seleção, como na vida"

- É possível mensurar qual foi a importância do Pelé para o Garrincha e do Garrincha para o Pelé?
Os dois se tornaram símbolos dos seus clubes e da Seleção Brasileira. Quando Pelé se machucou em 1962, Garrincha teve de jogar por si próprio e por ele.

Fora dos campos, a relação deles era amistosa? Há algum relato ou curiosidade sobre este tema específico?
Era amistosa, mas acredito que, depois da Copa de 1966, eles pouco se viram. Garrincha já tinha emburacado e Pelé estava ainda a caminho de seu auge. Alguns se queixam de que, no fim, Pelé “não ajudou” Garrincha. Mas era possível “ajudar” Garrincha? Ele foi efetivamente ajudado por muitas pessoas e instituições [banqueiros, empresários, associações de ex-jogadores e dirigentes da CBF, do MEC e do Itamaraty, sem falar na própria Elza Soares], e de nada adiantou.

Garrincha atuou pela última vez com a camisa da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo aos 32 anos, na derrota para a Hungria na Copa de 1966. O conhecido problema dele com o alcoolismo foi determinante para que a permanência no selecionado nacional não fosse prolongada?
O alcoolismo destruiu Garrincha não só na Seleção, como na vida. Em 1966, ele já não tinha condições de ser convocado. Sua carreira acabara em dezembro de 1962, quando ele deu o bicampeonato carioca ao Botafogo em cima do Flamengo por 3 a 0, gols dele. Dali em diante, problemas de saúde, joelho, contrato e até de polícia abreviaram sua carreira. Quando o Botafogo o vendeu para o Corinthians em 1965, estava se livrando de um bonde. Incrivelmente, Garrincha ainda “jogaria” no Flamengo [seu time do coração] em 1968...

Invencibilidade de 40 jogos e duas conquistas de Copas do Mundo juntos. Há alguma dúvida de que Garrincha e Pelé formaram a maior dupla do futebol brasileiro?
Não há a menor dúvida. Com os dois em campo, o Brasil nunca perdeu uma partida. Isso quer dizer alguma coisa, não?

PELÉ E GARRINCHA JUNTOS EM COPAS DO MUNDO

Brasil 2 x 0 União Soviética (1958) 
Brasil 1 x 0 País de Gales (1958)
Brasil 5 x 2 França (1958) 
Brasil 5 x 2 Suécia (1958) 
​Brasil 2 x 0 México (1962) 
Brasil 0 x 0 Tchecoslováquia (1962) 
Brasil 2 x 0 Bulgária (1966) 

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