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Ao LANCE!, Vice do Vasco Sonia Andrade defende Campello e diretas: ‘Brigamos por uma política ética’

Em entrevista exclusiva, única mulher a ocupar um cargo na diretoria do Cruz-Maltino rebateu acusações de 'golpista' feitas ao presidente e se disse favorável ao voto direto 

Presidente Alexandre Campello e a 2ª Vice Geral do Clube, Sônia Andrade, durante a 1ª edição do Vasco Delas
imagem cameraCampello e Sônia são amigos de longa data (Foto: Paulo Fernandes /Vasco)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 03/09/2020
21:26
Atualizado em 04/09/2020
09:10

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Primeira mulher a sentar na cadeira de vice-presidente da história do Vasco, a registradora pública Sônia Andrade está no cargo desde janeiro de 2018, quando foi convidada pelo presidente Alexandre Campello, parceiro político e amigo de longa data, para a função. Em ano eleitoral no clube, ela se disse favorável à adoção de eleições diretas no clube, além de defender o mandatário das acusações de ser "golpista". 


– Sou muito a favor. Ao contrário do que muitos pensam, essa gestão brigou sim pelas eleições diretas. Lá atrás, quando ela foi discutida no Conselho Deliberativo foi aprovada de forma unânime. A gente precisa modificar um pouco mais o estatuto? Precisamos sim, mas acho que o que já aconteceu em apenas três anos no Vasco já foi um avanço muito grande. Em outra entrevista um jornalista chegou a falar para mim que sentia o Vasco mais leve. Existe a disputa eleitoral e como na política, de uma maneira geral, alguns candidatos preferem a política sem ética. Nós brigamos por uma política ética, pelas diretas, pela participação dos torcedores em todas as decisões do clube e acho que esse é o caminho que o Vasco deve tomar, independente do resultado das eleições no final do ano –afirmou Sonia.

Criadora de uma ONG voltada para a regularização habitacional, a dirigente tem uma carreira ligada às causas sociais. No Cruz-Maltino, foi a idealizadora do departamento psicossocial e tem promovido ações ligadas à causa feminina no esporte e fora dele. 

Para ela, são injustas as acusações de que Campello teria dado um golpe para chegar à presidência. Nas eleições de 2017, ele rompeu com o candidato vencedor entre sócios, Julio Brant, e foi eleito pelo Conselho Deliberativo com o apoio de grupos ligados ao ex-presidente Eurico Miranda.

– As redes sociais são muito complicadas. Posso produzir uma fake news e dizer que fulano é isso ou aquilo. Se isso se propaga, até você conseguir desmistificar o que foi dito é complicado. O que atribuíram ao Campello foi falso porque a chapa que ganhou foi a chapa dele com a do Brant. Eles divergiram em dado momento e o estatuto do Vasco previa que dentro do Conselho Deliberativo havia a liberalidade de montar outra chapa. Foi o que foi feito. Isso estava previsto no estatuto, não foi inventado por mim ou por ele. O estatuto do Vasco existe desde a fundação do clube. Quem ganhou a eleição foi Brant em primeiro e Campello em segundo, eles divergiram, separaram as chapas e a do Campello foi a vencedora. A diferença de votos de um para o outro quando resolveram se aliar era muito pequena. É muito fácil falar que ele foi golpista, mas a realidade mostra algo diferente. Ele usou daquilo que o estatuto previa – defendeu.

Veja outras respostas de Sônia Andrade ao LANCE!

Balanço da gestão. Que legado deixa no Vasco?

É uma experiência ímpar representar um clube como o Vasco da Gama, que é pioneiro em causas como o racismo e outras em prol de minorias. Para mim foi um presente conviver com essa torcida, discutir assuntos de extrema importância, ter ajudado a criar o departamento psicossocial do Vasco, que ampara atletas, famílias, funcionários e a própria torcida. Quando abrimos esse departamento vi nas minhas redes sociais uma menina dizendo que a vida não valia a pena. Pedi que o pessoal da área psicossocial entrasse em contato com ela. Descobrimos que na semana anterior ela havia tentado o suicídio. Essa menina foi tratada pelo departamento psicossocial do Vasco e conseguiu mudar a vida dela. Acho que usar o futebol para transformar vidas é imprescindível. Esse legado deixo no Vasco, mas levo também para mim. Digo que estou saindo quase formada em assistência social e psicologia porque aprendi muito nesse período. No próximo domingo, vamos aderir o projeto sinal vermelho (campanha contra a violência doméstica). O futebol vai participar porque a violência contra a mulher na pandemia aumentou muito. Será um movimento junto com as torcidas organizadas e vamos abraçar essa causa.

Papel hoje no Vasco:

Ainda estou à frente do departamento psicossocial e todas as vezes que preciso acessar o futebol profissional sou muito bem recebida por todos os jogadores. Eles sempre se colocam à disposição quando falo com eles. Eu entendo que os atletas querem vincular a imagem deles a essas ações e que eles através dessa comunicação podem ajudar e muito a sociedade. Conjugar esse trabalho com o Departamento de futebol para mim foi um presente. Ano passado fizemos a campanha do outubro rosa e foi um sucesso. Os jogadores gravaram com mulheres que tinham câncer de mama. Acho que através do futebol conseguimos potencializar essas ações.

Continua com o Campello em possível chapa de reeleição?

Eu continuo sempre com o Campello. Já coloquei o meu cargo de segunda vice geral à disposição dele, para que ele tenha a liberdade de escolher quem ele quiser. Estou apoiando ele. Acho que o trabalho do Campello foi muito bom. Ele implementou uma gestão muito boa no Vasco. Lógico que é preciso fazer muito mais, sem dúvidas. Isso foi apenas o pontapé inicial do que o Vasco pode ser em um futuro próximo, além do gigante que ele já é.

Planos para um eventual segundo mandato?

Se ele me escolher, acho que meu foco muito forte será no futebol feminino. Estou desenhando um projeto que acho que será inovador para dar condições a essas meninas de se tornarem autossuficientes. A realidade que a gente vê no Vasco hoje é de um amadorismo grande. Se houver uma reeleição do Campello, a gente vai trabalhar para esse projeto ser implementado no Vasco e, quem sabe, no futebol brasileiro para que todas as meninas tenham a possibilidade de jogar o futebol com tranquilidade. Além disso, penso sempre em ampliar os projetos sociais. Acho que temos que levar dignidade a esses torcedores, não importa onde. Ao lado do CT temos uma realidade triste de pessoas que vivem em condições precárias. Precisamos implementar para ontem um projeto que ajude a mudar a realidade dessas pessoas no entorno do Vasco. O projeto de reforma de São Januário também prevê isso. Não adianta melhorarmos a nossa casa, se no entorno há gente sem ter o que comer. VaI ficar um estádio lindíssimo com pessoas passando fome do lado. Tenho certeza que o Vasco vai pensar nisso.

Aceitaria um eventual convite de outro candidato para dar continuidade aos projetos sociais no Vasco?

O que gosto de fazer e acho que faço bem é trabalhar com a área humanitária. Não troco, mesmo já tendo recebido diversos convites para entrar para a política. Quero continuar trabalhando nessa área, é o que me dá prazer de fazer. Tenho um projeto chamado "a casa é nossa" do meu instituto que se chama "Novo Brasil". Quando entro nas comunidades para fazer a regularização fundiária, não pergunto para as pessoas o time de futebol delas. Atendo gente de todos os clubes. Acho que quando se fala da área social, não pode haver barreiras. Então para mim seria um prazer ajudar essas pessoas, independente de quem seja o presidente. Quero ajudar a modificar a realidade do entorno do Vasco. Estou disponível para ajudar no que for preciso. O Rio de Janeiro precisa muito disso.

Sobre o bom momento do Vasco dentro de campo. O fato dos jogos serem realizados sem torcida em ano eleitoral, sem clima bélico das arquibancadas tem ajudado?

Eu acho que não. Acho que o Vasco durante esses dois anos se preparou muito. A gente estava lá embaixo da tabela, pagando dívidas, negociando com credores. A torcida enlouquecida porque a gente não conseguia contratar. Aos poucos fomos levando, calmamente e sofrendo. Fomos vítimas de muita discriminação, comentários sem propriedade. Com isso, o Vasco resgatou os seus sócio-torcedores. Vimos o movimento que essa torcida maravilhosa fez junto com o Vasco, não foi junto com o Campello. O que entendo e digo sempre é que os candidatos vão e voltam, mas quem fica são os torcedores. Foi um trabalho de muito tempo. O Ramon é um profissional que dispensa comentários . Esses jogadores entenderam a importância e a grandeza do Vasco, mesmo lá atrás com os salários atrasados. Eles bancaram e ajudaram e nós somos muito gratos. Acho que todo mundo deu alguma contribuição e hoje a gente consegue ver um Vasco diferente. Isso chama-se trabalho, comprometimento e gestão. A nossa gestão sempre teve por objeto a transparência e o diálogo. Sem isso, não se chega em lugar nenhum, não apenas no futebol, mas na vida.

Momentos de constrangimento por ser mulher:

Essas situações acontecem com frequência, em especial nas redes sociais. Eu costumo brincar que não estou nas redes sociais para arrumar namorado, mas sim para divulgar os nossos projetos. Aos poucos vamos conversando, mostrando e as pessoas vão entendendo. Ainda tem torcedor que pergunta "o que essa mulher está fazendo aí?". É uma cultura muito enraizada, que temos que trabalhar muito para mudar. É uma triste realidade as pessoas discriminarem a mulher em cargos de gestão e ainda não terem o trabalho de ler e procurar saber o que essa mulher tem feito, como tem trabalhado. O mais triste é isso, não querem nem se informar.

Receptividade dos jogadores:

Quando entrei pela primeira vez no CT alguns estranharam o fato de haver uma mulher. Perguntei se tinham alguma coisa contra e disseram que de forma alguma, apenas nunca tinham visto. Acho que as mulheres têm que se unir e fortalecer os diversos movimentos existentes para mudar essa realidade tão triste.

Decisão da CBF de equiparar as premiações para atletas das seleções masculina e feminina:

Acho que isso representa um avanço enorme. Inclusive, venho conversando com mulheres que trabalham dentro do futebol porque existe um projeto na Câmara do Deputados que agora está parado pela pandemia, para discutir cotas nas chapas de eleições para os clubes de futebol. Eu penso em encabeçar um movimento que faça esse projeto tramitar com uma rapidez maior para que a gente tenha a possibilidade de ver mais mulheres em cargos de comando no futebol, assim como vemos nos partidos políticos. Entendo que nos clubes de futebol tem que ter a mesma regra. O que a CBF fez está de acordo com aquilo que venho pensando há meses. Venho desenvolvendo todo esse raciocínio, conversei com alguns representantes da comissão do esporte da Câmara dos Deputados e me deparei com um deles, o Aliel, que é o autor desse projeto. Ele pretende fazer algumas audiências e reuniões para que a gente possa discutir esse projeto. Acho que foi algo de extrema importância o que fez a CBF. Abre um mercado para as mulheres. Eu entendo que o futebol pode modificar muitas realidades dentro desse país. Se a CBF começa esse movimento de equiparar os salários e abre dentro da gestão dela vagas para mulheres, vejo como iniciativa que vem para endossar esse movimento para que os clubes de futebol também venham a destinar uma cota dentro das chapas presidenciais. Esse ano tem eleições no Vasco. Não sei se o Campello vai ser candidato, mas todos os candidatos deveriam destinar vagas a mulheres para que o Conselho Deliberativo tenha mais mulheres

Recado aos torcedores:

No dia do aniversário do Vasco, conversei com o Fellipe Bastos e ele comentou que seria bom que o campeonato terminasse naquele dia, quando estávamos em primeiro lugar. Eu disse a ele que ele ainda faria mais cinco gols. Contra o Santos ele já fez mais um. Agora ele está me devendo mais quatro. Minha mensagem para todos os vascaínos e vascaínas é que eles acreditem sempre porque eles são o maior patrimônio que o Vasco tem.

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