Em dois domingos separados por três semanas, 124 mil pessoas no Maracanã. No primeiro deles, uma festa sinérgica da arquibancada com o time, que correspondeu com a vitória. No segundo, o apoio dos presentes no estádio foi reconhecido por jogadores e até pelo treinador rival. Tudo isso é apenas o símbolo: a torcida do Vasco se tornou o grande personagem do clube, e carrega a equipe na campanha rumo ao acesso à Série A.
É evidente que a força dos torcedores do Cruz-Maltino não foi descoberta agora. As demonstrações, viscerais e independentes do momento da equipe, vêm de longa data. Mas vem se destacando num momento de Série B do Campeonato Brasileiro de poucos personagens carismáticos e na defesa de causas ainda pouco abraçadas. É o destaque absoluto da temporada.
- Ver, hoje, a torcida do Vasco cantando até o final, mesmo o time com dificuldades... e eles não vaiaram nem um minuto. Só depois que terminou. É um exemplo para todas as torcidas, e eu convoco a nossa para ter essa mesma postura, porque muitas vezes ficamos frustrados e acabamos passando essa frustração para os nossos jogadores - analisou Lisca, técnico do Sport, após o jogo entre as equipes no último domingo. E completou:
- Podem não ser os jogadores que queríamos, mas podem se transformar com o apoio do nosso torcedor, porque você só adquire confiança quando você ganha confiança das pessoas. E aí você repete, ganha confiança, erra e recebe a bola de novo. Isso te dá confiança porque você sente que as pessoas confiam em você. Acho que, hoje, o time e a torcida do Vasco têm dado esse exemplo - ressaltou um dos três comandantes do Cruz-Maltino em 2021.
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A torcida vascaína já foi exaltada também por personagens como o apresentador e ex-jogador Neto; em diferentes vezes pelo jornalista Mauro Cezar Pereira; e até por Endrick, destaque da base do Palmeiras.
Os vascaínos e vascaínas têm abraçado. O time e as bandeiras. A do respeito, da igualdade e da inclusão foi utilizada também de forma institucional - polêmica com o Consórcio Maracanã à parte -, mas representa a história do clube: da luta contra o racismo que praticamente funda o sentimento cruz-maltino ao jogador que, literalmente, levanta a bandeira contra o preconceito.
Faz menos tempo ainda que instituição e torcidas organizadas se comprometeram a dar um passo além na luta contra preconceitos. Passo pequeno, mas importante. E que é apenas mais uma das faces da força do torcedor do Vasco.
Que vaia, que critica, sim. Mas é capaz de empurrar um time de operários a uma campanha positiva. De fazer poderosos e competentes os que poderiam ser limitados. Que começou 2022 machucada pelos últimos anos, e que agora batalha com a voz, de forma consciente, contra qualquer ferida.