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Em coletiva, Roger Machado fala abertamente sobre sua visão do racismo no Brasil

Treinador atribui situação a questões estruturais e culturais além de pontuar a constante necessidade de discussão sobre o tema: 'A gente precisa falar sobre isso'

Roger Machado e Marcão na ação do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
Foto: Divulgação/EC Bahia

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Apesar da derrota por 2 a 0 como visitante frente ao Fluminense no Rio de Janeiro, o técnico Roger Machado deu declarações dignas de um verdadeiro vencedor não apenas dentro das quatro linhas, mas também fora delas abordando um assunto de interesse social como o racismo no Brasil.

Participando da campanha de conscientização realizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol que frisou o fato de que apenas Roger e Marcão são técnicos negros presentes na Série A do Brasileirão, o comandante do Esquadrão de Aço foi taxativo ao explanar que o fato dos dois serem os únicos negros chamar tanto a atenção é uma clara demonstração da existência do problema:

- Com relação à campanha, não deveria chamar atenção ter repercussão grande dois treinadores negros na área técnica, depois de ser protagonistas dentro do campo. Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção. A medida que a gente tenha mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual. A gente tem que refletir e se questionar. Se não é há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Por que que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras? Há diversos tipos de preconceito. Nas conquistas pelas mulheres, por exemplo, hoje nós vemos mulheres no esporte, como você, mas quantas mulheres negras têm comentando esporte? Nós temos que nos perguntar. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado

- Quando eu respondo para as pessoas dizendo que eu não sofri preconceito diretamente, a ofensa, a injúria, ela é só o sintoma dessa grande causa social que nós temos. Porque a responsabilidade é de todos nós, mas a culpa desse atraso, depois de 388 anos de escravidão, é do Estado, porque é através dele que as políticas públicas, que nos últimos 15 anos foram instruídas, que resgataram a autoestima dessas populações, que ao longo de muitos anos tiveram negadas essas assistências básicas, elas estão sendo retiradas nesse momento. Na verdade, esses casos que vêm aumentado agora, de aumento de feminicídio, homofobia, os casos diretos de preconceito racial, é o sintoma. Porque a estrutura social, ela é racista. Ela sempre foi racista - agregou Roger.

A abordagem do tema, na análise de Roger Machado, é algo que não passa pelo campo do opcional, mas sim como algo obrigatório para não transmitir a ideia de que o problema não existe:

- A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Nós negamos. “Ah, não fala sobre isso”. Porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial. Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol, é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: “Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui”. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui.

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