Projeto de lei sobre ‘Dia Contra o Racismo no Futebol’ avança no Rio; data relembra ‘Resposta Histórica’ do Vasco
A medida ainda depende de segunda discussão na Alerj para ser aprovada
O futebol brasileiro está avançando para ter o 'Dia da Resposta Histórica Contra o Racismo' em seu calendário. Na última quinta-feira (25), o projeto de autoria dos deputados Verônica Lima (PT), Felipinho Ravis (SDD) e Andrezinho Ceciliano (PT) foi aprovado em primeira discussão pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Se aprovada também em segunda discussão pela Assembleia, a 'Resposta Histórica Contra o Racismo no Futebol' será no dia 07 de abril. O projeto foi inserido na votação após o caso de racismo contra Vinicius Júnior, na Espanha, durante o jogo entre Valencia e Real Madrid.
A escolha pelo 07 de abril não foi por acaso. A data é em alusão a carta escrita por José Augusto Prestes, presidente do Vasco da Gama em 1924, para a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA) - reconhecida como "Reposta Histórica" e um marco na luta contra o racismo no futebol.
Criada por clubes da elite do Rio de Janeiro, a AMEA barrou, em abril de 1924, a inscrição do Vasco da Gama na Associação. A filiação dependeria da exclusão de todos os 12 jogadores, negros e operários, que não apresentavam "condições sociais para o convívio esportivo". Assim, no dia 07, José Augusto Prestes, presidente do clube, enviou a Resposta Histórica se recusando a dispensá-los.
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CONFIRA A CARTA
"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício No 261
Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle, M. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos. As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas deficiências do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções. Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923. São esses doze jogadores, jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles com tanta galhardia cobriram de glorias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A. Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever. De V. Exa. Atto Vnr.,
Obrigado."