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‘Esta política de produção de guerra para ter paz não faz sentido para mim’, diz Roger Machado

O treinador do Bahia conversou com exclusividade ao LANCE! e falou <br>sobre o momento vivido no Brasil e o futuro no clube baiano

Roger Machado - Observatório Racismo
Roger Machado está no Bahia há mais de um ano (Foto: Divulgação/Observatório Racismo)

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Além da qualidade indiscutível como treinador, Roger Machado também é conhecido por levantar as bandeiras de causas sociais. Ao LANCE!, o atual comandante do Bahia revelou que, para ele, o futebol serve como uma forma de mudança social.

- Entendo o futebol como ferramenta social de transformação e vejo o posicionamento, tanto de clubes como atletas, muito importante. Do lugar de onde se encontram e a com a visibilidade que tem, a possibilidade de ao se engajar, usar o futebol como instrumento de mudança, amplificando as ações contra problemas recorrentes em nossa sociedade. Principalmente neste e em outros casos em que são envolvidos a violação de direito e violência letal e promovidas pela mão do estado, que deveria zelar pela vida. Esta política de produção de guerra para ter paz não faz sentido para mim.

Desde cedo, Roger foi ensinado pelos pais como é o racismo no Brasil. De acordo com o treinador, aprendeu que não podia sair sem documentos ou colocar a mão no bolso dentro do supermercado.

- A tentativa de resgatar a antiga narrativa de que somos todos brasileiros desmorona quando o discurso não é compatível com a realidade. O futebol tem a capacidade e o poder de permitir que sejam rompidas barreiras sociais por conta do talento com a bola nos pés. Como não nasci famoso, fui ensinado pelos meus pais que, ao sair de casa, não podia esquecer o documento de identidade ou a carteira de trabalho, não podia andar com as mãos no bolso dentro do supermercado e sempre tinha que lembrar de entrar pelo elevador de serviço quando fosse entregar as roupas que minha mãe lavava. Isso me fazia lembrar do que é ser negro no Brasil.

Para o treinador, além das punições, também falta educação para a população brasileira.

- Tudo que é punitivo e não tem um caráter educativo junto, não tem o mesmo alcance. Ao cumprir sua pena, o infrator se sente livre para cometer outros atos na sequência.

Para ele, a cobrança por um posicionamento de pessoas do futebol é vista como necessária, mas afirma que existem pessoas que acham que o esporte não deve se misturar.

- De uma certa forma, o futebol é entendido como um lugar de refúgio, onde não haveria espaço para externar posições políticas e só pudesse entrar o que for permitido. Quando um agente deste processo ousa sair para além destas fronteiras, será julgado e cobrado tendo suas opiniões validadas pelos resultados do campo.

Confira outras respostas do treinador ao LANCE!

O Bahia vem montando um projeto há alguns anos. Agora, mais um programa de benefício aos sócios foi lançado. Como é participar desse projeto?
- O futebol chegou no Brasil pela elite e esta voltando para ela. Quando surgiu a televisão disseram que o rádio ia acabar, veio a internet e falaram o mesmo. Agora o jogo não passa mais em canal aberto e o torcedor está voltando a ficar agarrado no seu rádio para ouvir o seu time jogando. Ir ao estádio se tornou muito caro. O Bahia, em uma das suas campanhas de sócios, oferece ao torcedor de baixa renda a condição de ir ao campo. Mas não pra ficar naquele lugar que sobrou ou que fica sem a visão privilegiada do gramado. Desta forma, foi garantido o acesso ao estádio de torcedores com diferentes poderes aquisitivos. É uma bela iniciativa.

Como tem sido a pandemia na Bahia? Como espera que o futebol volte após tudo isso?
- O período na pandemia está sendo de muito cuidado e reflexão sobre os rumos que nossa sociedade vai trilhar posteriormente. No futebol é tudo novo e nós sabemos que os impactos nos clubes serão muito grandes e teremos que nos adaptar a uma nova realidade.

Como foi a passagem do Roger jogador para o treinador?
- Minha passagem de treinador para jogador foi muito tranquila. Sempre fui um atleta atento e interessado pelos aspectos táticos e de gestão do futebol. Exerci papel de liderança dentro e fora do campo, principalmente quando me tornei mais experiente. E isto, associado a minha formação acadêmica, me permitiu fazer a transição de jogador para treinador com bastante tranquilidade.

Vive o melhor momento da carreira no Bahia? Quais os planos e sonhos para o futuro?
- Meu objetivo imediato é gravar o nome na galeria dos profissionais que marcaram época no clube. Este grupo marcou a história do Bahia como campeão baiano de 2019, porém desejamos mais e o futuro a médio e longo prazo pertence à Deus.

Falta algo para o Bahia chegar no nível de visibilidade dos considerados “12 grandes?”
- Já vejo o clube neste patamar e pronto para romper esta barreira para objetivos maiores. A colocação do time nos últimos anos mostra isso. Porém, ainda não sabemos o impacto da pandemia na saúde financeira dos clubes.

Você gosta da posse de bola. Assim como Diniz, Jorge Jesus, entre outros do futebol brasileiro. Por que acha esse estilo forte? Como foi para implementá-lo no Bahia e por que acha que deu certo?
- Tenho preferência pelo controle do adversário pela posse da bola sim. Porém, no ano passado, a estrutura que montamos no Brasileiro e que nos deu protagonismo em grande parte do campeonato foi um jogo mais reativo, controlando o espaço. Tenho preferência porque ao ter mais a bola do que o adversário, você tanto ataca o adversário em busca do gol como também descansa com a posse de bola. Estar sem ela durante muito tempo pode minar sua confiança (se o objetivo e o modelo não são para isso) e pode sofrer mais risco do adversário pelo fato do oponente ter mais tempo com a bola.

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