O LANCE!Biz encerra, nesta quinta-feira, a publicação da pesquisa exclusiva sobre o que pensam os dirigentes do futebol brasileiro. Desenvolvida pela Pluri Consultoria, a Pesquisa de Expectativas dos Dirigentes Brasileiros (PEDB) entrevistou, por amostragem e com garantia de anonimato, representantes das três principais divisões do país entre 9 e 21 de janeiro. A quarta parte, sobre as expectativas financeiras para 2023, você pode ler neste link.
A pesquisa mostra o pensamento médio dos homens e mulheres que comandam o futebol do país. São pessoas que administram clubes que representam mais de 90% da torcida brasileira. O LANCE! publicou o estudo em cinco capítulos para facilitar a compreensão dos torcedores.
Nesta quinta e última parte, foram analisadas as opiniões dos dirigentes sobre os maiores problemas do futebol brasileiro. Como os dirigentes avaliam o calendário atual? Os Estaduais são vistos como um obstáculo? Confira abaixo.
Desequilíbrio na distribuição de receitas causa maior insatisfação
Mais de dois terços dos dirigentes entrevistados responderam que o desequilíbrio na distribuição dos recursos entre os clubes é o maior problema do futebol brasileiro. Foi a opção votada por 67% dos entrevistados. A segunda resposta mais comum foi a falta de união entre os clubes (19%), enquanto o calendário foi apontado como o maior problema por 9% dos dirigentes.
A distribuição desigual de receitas gera discussões, principalmente, em relação às cotas de TV no país. O tema, inclusive, é alvo de debate constante nas negociações atuais para a criação da liga única de clubes. Os dois blocos existentes, Libra e LFF, concordam que o novo modelo de divisão de recursos deve ser mais equilibrado.
Ambos os grupos trabalham com cálculos para reduzir a diferença de receita entre os clubes da Série A do Brasileirão. Atualmente, a diferença entre o que recebe mais e o que recebe menos gira em torno de 6 vezes. Se confirmada a criação da liga única de clubes, este número será menor do que 4 a partir de 2025.
Calendário do futebol brasileiro em xeque
O tema do calendário foi tratado de forma específica em outro ponto da pesquisa. Ao todo, 52% dos dirigentes questionados responderam acreditar que ele é desfavorável ou muito desfavorável para seus respectivos clubes. Apenas 10% são favoráveis ao atual calendário, enquanto 38% têm opinião neutra.
Estes números confirmam uma insatisfação antiga de times brasileiros em todas as divisões. Enquanto os grandes clubes do país sofrem com o alto número de partidas durante a temporada, os pequenos se queixam pela falta delas.
- O calendário do futebol brasileiro tem como origem um período em que o futebol era local, a imprensa era local, e isso levava a torcidas locais. Conforme vimos uma "nacionalização" da cobertura, as fronteiras sumiram e o resultado foi o crescimento do Campeonato Brasileiro. Ou seja, vivemos uma lógica em que quase quatro meses do calendário são ocupados com uma competição ultrapassada nos moldes atuais - disse César Grafietti, economista e sócio da consultoria Convocados, antes de completar:
- Isso faz com que os clubes que têm calendário nacional tenham dificuldades de gerir o fluxo de caixa, muito concentrado no 2º semestre. Sem contar que muitos clubes precisam ter dois elencos por ano, para disputar os estaduais e os nacionais. É muito ineficiente e custoso. O fato é que o calendário brasileiro é pesado, desgastante, inviabiliza os respiros necessários e precisa de uma mudança urgente - sublinhou.
CBF e Globo se posicionam sobre o calendário
A reportagem do LANCE! também procurou a CBF e a Globo, dois dos principais agentes do futebol brasileiro, para tratarem do tema "calendário". Ednaldo Rodrigues, presidente da confederação, destacou os ajustes feitos na temporada 2023 para pôr fim aos choques dos campeonatos nacionais com as datas Fifa (veja no vídeo acima).
- A CBF tem procurado fazer isso e nós não vamos ficar no faz de conta. Em 2023, em nenhuma Data Fifa tem jogo programado. Esse trabalho não é só da CBF. Os clubes têm que verificar também junto às suas federações estaduais para que deem tranquilidade e não atropelem competições nacionais e internacionais. A questão do calendário é complexa e não depende só da CBF, mas de todos os atores do futebol, principalmente clubes e atletas. O que for possível e estiver no alcance, a CBF vai fazer - comentou Ednaldo Rodrigues.
CBF se mostra aberta a mudanças no calendário (Arte Lance!)
A Globo, detentora dos direitos dos principais torneios do futebol brasileiro, tem uma visão mais transformadora. Diretor de direitos esportivos da emissora, Fernando Manuel Pinto defende a disputa do Campeonato Brasileiro ao longo de toda a temporada, como ocorre na Europa.
- Sempre acho que vale mencionar que há um defeito no calendário brasileiro, que afeta principalmente os clubes mais populares e o valor de sua competição com maior potencial: o fato de não se jogar o Brasileirão durante toda a temporada. Mobilizar a todos durante o tempo todo tem um valor enorme. Não é à toa que qualquer país desenvolvido em esporte, com exceção do Brasil, faz isso. E poderia e deveria ocorrer sem prejuízo dos Estaduais. Bastaria esticar o Brasileiro e jogar os Estaduais de forma concomitante nos meses em que fizer mais sentido, esportiva e comercialmente - disse Fernando Manuel Pinto, ao L!.
O que os dirigentes pensam sobre os Estaduais?
Em resposta à PEBD, quase metade dos dirigentes entrevistados (48%) considera o Campeonato Estadual de 2023 importante ou muito importante para o seu clube. Este percentual pode ser explicado por conta das rivalidades estaduais e por ser, talvez, o título mais possível no ano para algumas equipes.
Em contrapartida, 38% dos entrevistados acreditam que esses campeonatos não são tão relevantes para seus clubes. O número pode ser justificado pela parcela relevante de clubes que estão acostumados a disputar títulos e/ou têm objetivos mais relevantes em outras competições.
Apesar do interesse da maioria dos dirigentes pelos Estaduais, César Grafietti defende uma reformulação no sistema do futebol brasileiro. O economista explica que os torneios que abrem a temporada causam prejuízo à maioria dos clubes e deveriam ser transformados em divisões de acesso ao Campeonato Brasileiro - algo parecido ao que é feito na Inglaterra.
- Os campeonatos estaduais são o calcanhar-de-aquiles do futebol brasileiro. Geram bom resultado financeiro para alguns poucos - essencialmente os paulistas -, mas é deficitário para a maioria. Independentemente disso, precisamos lembrar que os Estaduais são fonte importante de formação de atletas, e assim deveriam ser vistos. Criar uma Série D nacional e longa, transformar os estaduais em Séries E, F e G, de entrada e regionais, poderia ser mais eficiente, ainda mais se fossem transformadas em semiprofissionais, reduzindo os custos dos clubes e permitindo a manutenção da formação - finalizou Grafietti, em entrevista ao L!.