O Lance!Biz dá sequência, nesta quarta-feira (28), à série especial sobre as finanças do futebol brasileiro. Em parceria com a Pluri Consultoria, o estudo se baseia nas demonstrações contábeis mais recentes, referentes a 2022. A quarta matéria analisa as contas do Atlético-MG.
Destaques:
> Endividamento líquido do Galo ultrapassa R$ 1,5 bilhão;
> Clube apresenta superávit contábil, mas sem efeito no caixa;
> Venda da SAF torna-se opção viável para Galo recuperar saúde financeira.
Panorama geral das finanças do Atlético-MG
O primeiro indicador da saúde financeira é a comparação entre receitas e dívidas. Pelo critério adotado pela Pluri Consultoria, o Atlético-MG terminou 2022 com uma proporção de 3,66 entre o endividamento líquido e o faturamento total - uma piora em relação ao ano anterior, no qual o número era de 2,46.
Ao mesmo tempo em que a dívida subiu, as receitas do Atlético-MG diminuíram na última temporada. O principal motivo foi o menor impacto das premiações por performance. As boas notícias foram o faturamento acima de 2019, indicando evolução, e a distribuição de receitas equilibrada.
Por que a dívida do Galo só aumenta?
Ao comparar o fim de 2021 e 2022, a dívida do Atlético-MG aumentou em R$ 259 milhões. Este crescimento pode ser explicado por três pontos principais: (1) investimento no futebol, (2) juros sobre dívidas e (3) andamento de ações judiciais.
O primeiro ponto acontece devido ao desequilíbrio no orçamento do departamento de futebol. Apesar de não investir em contratações, o custo com salários, luvas e comissões foi acima do esperado e a direção atleticana precisou de empréstimos bancários para cumprir os contratos estabelecidos.
+ Dívida do Atlético-MG: entenda perfil de endividamento e possíveis impactos na venda da SAF
Os juros são um problema comum para todas as pessoas, empresas e clubes. Com a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, todas as dívidas ficam mais caras e, no caso do Atlético-MG, o impacto nas contas é maior. No caso das ações judiciais, destaca-se o processo movido pela Construtora Épura, que aumentou o endividamento do clube em R$ 13 milhões.
Como o Galo terminou o ano com superávit?
Mesmo com uma dívida líquida de R$ 1,5 bilhão, o Atlético-MG terminou 2022 com superávit de R$ 71 milhões. O "segredo" da questão está na valorização patrimonial da Arena MRV.
No balanço financeiro, o Galo apresenta receitas totais de R$ 772 milhões, sendo que foram R$ 429 milhões de receitas "tradicionais" + R$ 343 milhões de ganho com valor justo na reavaliação patrimonial do novo estádio.
Trata-se de um procedimento padrão em demonstrações financeiras, mas é uma receita "meramente contábil", sem impacto no caixa do clube. Sem contabilizar a valorização patrimonial, o Atlético-MG terminaria 2022 com um déficit próximo a R$ 270 milhões.
Tem solução para a crise?
Com a dívida bilionária, aumenta a pressão dentro do Atlético-MG para fechar a venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) nos próximos meses. A entrada de capital de um investidor é vista como fundamental para pagar as dívidas de curto prazo e renovar a saúde financeira da instituição.
Desde janeiro, o clube negocia com um fundo de investimentos liderado pelo empresário Peter Grieve, que promete captar dinheiro no mercado para fazer a compra das ações da futura SAF e, assim, assumir parte da dívida. As negociações, no entanto, não têm prazo para terminar.
Além da venda da SAF, o Galo tem outro trunfo para pagar as dívidas. No início deste ano, o clube acertou a venda de 49,9% do shopping Diamond Mall por R$ 340 milhões. Metade das ações foi comprada pela Multiplan e a outra por um grupo de empresários mineiros.
Galo está próximo de inaugurar a Arena MRV (Foto: Divulgação/Atlético)
Análise do especialista
Apesar dos recordes com Matchday e marketing, as receitas do Atlético Mineiro caíram em comparação ao ano anterior, impactadas pela redução dos ganhos com transmissão. Mesmo com um superávit de R$ 71 milhões, o clube apresentou déficit operacional de R$ 102 milhões, o que indica que parte dos ganhos patrimoniais estão sendo consumidos na operação do clube, principalmente através de despesas com futebol desproporcionalmente elevadas. Tudo isso resultou em um endividamento líquido recorde, que superou R$ 1,5 bilhão e se coloca como o maior da história do futebol brasileiro.