Criada em 2021, as Sociedades Anônimas de Futebol (SAF) foram adotadas por diversos times da Série A. Na maioria dos casos, a promessa era salvar as agremiações de graves crises financeiras e torná-las competitivas.
Mas, afinal, até que ponto o novo modelo de gestão influencia os resultados em campo? A classificação final do Brasileirão 2023 mostra que não há uma regra: enquanto alguns clubes-empresas realmente apresentaram resultados melhores, outros seguem cometendo erros do passado.
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Dos 20 clubes que disputaram a Série A desta temporada, cinco deles iniciaram a edição já no modelo empresarial: Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Cuiabá e Vasco. Outros fizeram a migração durante o torneio: Coritiba, Atlético-MG e Fortaleza.
Cabe destacar que os dois últimos, no entanto, ainda não passaram por mudanças estruturais no departamento de futebol. Já o América-MG aprovou a SAF em 2022, mas ainda não tirou do papel por falta de parcerias. Por isso, estes clubes não foram considerados na análise.
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✅ As SAFs que surpreenderam positivamente
Apesar de perder um título praticamente ganho e ficar fora do G4, o Botafogo pode dizer que teve uma participação surpreendente no Brasileirão. Sob comando de John Textor, o Alvinegro liderou o campeonato por mais de 30 rodadas e voltará a disputar uma Libertadores depois de muito tempo.
Outra SAF que teve desempenho satisfatório foi o Cuiabá. Mesmo com faturamento e folha salarial modestos, o Dourado nunca flertou com o rebaixamento, terminou o Brasileirão em 12º e disputará a Sul-Americana em 2024. Pode ser considerado um exemplo de sucesso em 2023.
Já o Red Bull Bragantino, que chegou a brigar pelo título e garantiu vaga na Libertadores, é um caso especial. O Massa Bruta é clube-empresa estruturado como uma limitada (LTDA) e não como uma SAF.
⛔ As SAFs que decepcionaram
Por outro lado, quatro SAFs passaram o Brasileirão na parte de baixo da tabela. Cruzeiro, Vasco e Bahia conseguiram se salvar no fim e vão disputar a Série A em 2024. Já o Coritiba, que migrou de modelo durante o torneio, foi rebaixado com algumas rodadas de antecedência.
Para entender o tamanho da influência das SAFs na classificação final do Brasileirão, o Lance! Biz buscou a opinião de especialistas no assunto. Confira abaixo:
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Guilherme Gomes Pereira, sócio do escritório HRSA Sociedade de Advogados
"Não há uma explicação única, cada time tem sua própria situação. O modelo jurídico de um clube não é garantia de sucesso. Se tivermos 20 SAFs disputando a série A, quatro irão cair. Tão ou mais importante que o modelo jurídico é a gestão que se adota, como é o caso de Palmeiras, Flamengo e outros times, com trabalhos de longo prazo e gestões consolidadas.
A SAF pode de fato ser a única saída para alguns, mas não para todos. A classificação do Brasileiro não reflete os modelos jurídicos adotados, mas as práticas de gestão implementadas, além de fatores subjetivos do próprio futebol. Ter uma boa gestão não significa que você irá ganhar, mas não ter uma boa gestão significará que sua chance de ganhar é menor."
Aarão Miranda, Igor Gabriel Krüger Poteriko e Fernando Bonilha, coordenador e membros do Grupo de Estudos Direito e Desporto da USJ
"Primeiramente, há vários fatores que ditam o resultado desportivo, fatores esses que vêm desde o planejamento, a estruturação, a montagem de elenco, a boa aplicação do modelo de jogo e até mesmo o imponderável. Como as SAFs no Brasil ainda são muito recentes, todas estão passando por período de transição, reformulando departamentos, começando a implementar seu modelo de negócio, e, por vezes, tudo isso divide atenção com o campo.
Toda essa construção demanda tempo, e acelerar o processo, às vezes, pode ser prejudicial. Sabe-se que no futebol o resultado precisa aparecer durante o processo, e isso por vezes, força os administradores a tomarem decisões de forma emergencial, abrindo uma maior margem para erro.
Assim como o sucesso de uma empresa não demanda exclusivamente do modelo societário adotado, o sucesso de um clube de futebol não está necessariamente ligado ao tipo de organização escolhido, seja ele SAF, associação civil ou até mesmo Sociedade Limitada como o caso Red Bull Bragantino. Por exemplo, no "Brasileirão Assaí 2023", apenas um dos quatro clubes mais bem colocados está em transição para a SAF, sendo os demais, associações civis que demonstraram uma gestão profissional e competente para cada cargo necessário no clube."
Cuiabá e Coritiba viveram realidades diferentes no Brasileirão 2023 (Foto: Divulgação/Cuiabá)