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Para Martine e Kahena, ‘fator Robert Scheidt’ inibe a nova geração da vela

Favoritas ao ouro em Lima, campeãs olímpicas lamentam não ter concorrência interna e veem pouco interesse das jovens velejadoras no esporte. Pan é ‘treino’ para Tóquio-2020

Martine Grael e Kahena Kunze
imagem cameraMartine e Kahena conquistaram três títulos em 2019 e querem o ouro no Pan (Foto: Jesús Renedo/ Magic Marine)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 30/07/2019
19:29
Atualizado em 31/07/2019
14:32

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Uma das parcerias mais vitoriosas do esporte brasileiro na atualidade, Martine Grael e Kahena Kunze veem o futuro com preocupação. As velejadoras, que iniciam a caminhada nos Jogos Pan-Americanos de Lima neste sábado, em Paracas (PER), sede das competições de vela, não têm concorrentes na classe 49erFX no país e acreditam que há pouco interesse das novas gerações.

O diagnóstico não se restringe ao barco da dupla. É um problema para a vela olímpica de modo geral, relacionado, em partes, à longevidade de alguns astros do Brasil. As medalhistas de ouro na Rio-2016 acreditam que os jovens têm receio de fracassar, já que nomes de peso, como Robert Scheidt, de 46 anos, seguem na ativa. Ele tem índice para disputar sua sétima Olimpíada, em 2020.

– Não foi por falta de incentivo. Nós nos disponibilizamos para fazer clínicas, mas o interesse é reduzido. Tem a questão Robert Scheidt: o cara é tão acima da média, que as pessoas ficam um pouco inibidas de tentar vaga olímpica. Isso é ruim. Se não começarem agora, quando ele sair, não vai ter velejador no nível olímpico – afirmou Martine, ao LANCE!.

Para Kahena, a falta de apoio privado é um dos entraves, mas não justifica o quadro. Ela garante que há barcos e disposição para ajudar. E não perde a esperança de encontrar uma parceria de potencial que possa lutar por vaga em Paris-2024. Para Tóquio-2020, as campeãs olímpicas já garantiram a vaga do país, no ano passado. Sem concorrentes, elas têm o caminho livre para o megaevento.

– É muito ruim não ter concorrência interna. Temos tanta experiência para passar, né? Será uma pena se, daqui a quatro anos, uma dupla começar e perder o gancho por falta de referência. Mas seguimos na luta para encontrar uma dupla que possa vir. Barcos não faltam – diz Kahena.

As atletas, que fizeram história na cerimônia de abertura do Pan, como primeiras mulheres porta-bandeiras, disputam o evento pensando no Japão, onde treinavam até semana passada. Depois dos Jogos, elas retornam para Enoshima, onde será o evento-teste, na raia olímpica.

– O Pan continua sendo importante para desmistificarmos os grandes eventos, que só acontecem de quatro em quatro anos. Mas certamente viemos mais pensando em Tóquio-2020 – admite Martine.

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BATE-BOLA
Martine Grael Velejadora, ao LANCE!

‘Não viemos ao Pan para passear. As dominicanas estão bem fortes’

O ano de 2019 tem sido corrido. Como se sente para o Pan?
Viemos de uma temporada intensa na Europa e, em seguida, de um período corrido, com o evento-teste e o Pan. Estamos em um momento forte de trabalho. Fizemos um bate-volta entre o Japão e Lima. Teve a questão do fuso horário, o que é um desafio para chegarmos bem, mas decidimos que seria importante estarmos presentes em cada competição. O objetivo é tentarmos manter este bom momento e seguirmos firmes até Tóquio-2020.

A dupla passou um período afastada, quando você disputou a Volvo Ocean Race. Desde que retornaram, que lições tiraram para tentar o bi olímpico em 2020?
A principal lição é que temos muito o que trabalhar para velejarmos como queremos no Japão. Mas nós já conseguimos alguns bons resultados no local. Temos de nos adaptar às condições. Procuramos lugares parecidos para treinar, como Portugal. No Japão, são ondas oceânicas, ou seja, tem muita onda e bastante vento.

O que espera de suas principais adversárias no Pan de Lima?
As dominicanas estão bem fortes nas condições de vento que devemos pegar, e as argentinas sempre dão trabalho. Não viemos para passear. Tem pouca onda e bastante vento.
Por que há pouco interesse da nova geração em seguir na vela?
Tem de abrir mão de uma série de coisas, como relacionamento, família e estudos. É uma vida, e as pessoas ficam receosas. A competicao interna estimula a gente. No ciclo olímpico passado, tivemos mais. Outras meninas puxavam a gente. Agora, não.

Cogita voltar a disputar a Volta do Mundo depois de Tóquio-2020?
Não é uma ideia jogada fora. Seria interessante, se rolasse um barco brasileiro, mas o foco é todo em 2020.

BATE-BOLA
Kahena Kunze Velejadora, ao LANCE!

‘No Rio, mostramos que é possível sair do zero e vivenciar os Jogos’

Como avalia a temporada de vocês? Foram campeãs da etapa de Miami da Copa do Mundo, além do do Troféu Princesa Sofia e do Europeu. Esperavam todos os títulos?
É até mais do que gostaríamos. Nós nos preparamos bastante no começo do ano para atingirmos um bom nível. Foi super importante que chegamos cedo ao Princesa Sofiam, em Palma de Malorca (ESP). Fizemos um ótimo treino de materiais para Tóquio. Foram três meses que nem voltamos para o Brasil. Foram intensos, apesar da etapa de Gênova (ITA), que teve muito vento e mal velejamos (a dupla ficou em sexto). Foi mais uma folga. O Europeu estava difícil, com muitas regatas e frio, mas o resultado foi melhor do que esperávamos.

Como explica a falta de concorrência interna no Brasil para tentar uma campanha olímpica?
Falta um pouco interesse dos velejadores que estão começando. Abrimos as portas para quando quiserem estar conosco, mas não vemos iniciativa de chegarem.

Acha que o sonho olímpico já não é tão forte como antes?
Todos querem disputar uma Olimpíada, né? Acho que a garotada gostaria, sim. Viver da vela é difícil, mas com certeza vivenciar os Jogos é possível. No Rio, nós mostramos isso. Começamos do zero, compramos o barco e ficamos horas na água. No início, só precisamos disso. E falta na nova geração um pouco mais de vontade confiança neles mesmos. A receita é uma só: ter força de vontade. Mas falta apoio também.

A CBVela foi incluída em uma dívida da CBVM e ficou sem receber repasses. Houve impacto?
Eles não deixaram em momento algum de apoiar a gente. As instituições têm feito o papel deles para nos manter, mas quem mais sofre com isso são os atletas de base.

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