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Bandeira a ser levantada: Yane e a (des)igualdade de gênero no esporte

Yane Marques será, na noite desta sexta, a segunda mulher porta-bandeira do Brasil em 96 <br>anos de Jogos. Entenda a importância do feito na luta pela igualdade de gênero no esporte

yane marques
imagem cameraYane Marques, medalhista brasileira em Londres-2012, será porta-bandeira nesta sexta (Foto: Divulgação)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 04/08/2016
20:12
Atualizado em 05/08/2016
09:23

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A vitória da pernambucana Yane Marques em votação que a definiu como porta-bandeira do Brasil nos Jogos Olímpicos Rio-2016 vai além de uma simples escolha entre três opções disponíveis aos torcedores brasileiros. Trata-se de uma quebra de barreira de gênero no esporte nacional.

Yane será a segunda mulher a carregar a bandeira brasileira nos 96 anos de história do país nos Jogos. Ao longo das 21 edições de Olimpíadas nas quais o Brasil teve delegação, 19 homens diferentes foram porta-bandeira, enquanto apenas uma mulher havia conseguido o feito – Sandra Pires, do vôlei de praia, em Sydney-2000.

Mas, afinal, qual a importância da conquista de Yane antes mesmo da disputa por medalhas se iniciar?

De acordo com mulheres interessadas em esportes e especialistas em questões de gênero, a principal consequência do feito de Yane gira em torno da representatividade. Isso, por sua vez, encoraja mulheres e estimula meninas a adentrarem cada vez mais no ainda machista ambiente esportivo – a título de ilustração, no mês passado, os campeões da Liga Mundial de Vôlei receberam US$ 1 milhão em premiação; as campeãs do Grand Prix, US$ 200 mil.

– As barreiras que as mulheres enfrentam para se manter no esporte são tantas que tê-la como o estandarte da esperança brasileira nos Jogos é um verdadeiro presente. Uma mensagem poderosa para as mulheres que desejam chegar lá e se vêem desestimuladas ou impedidas de realizar seus sonhos, apenas porque são mulheres – argumentou Maíra Liguori, diretora da ONG Think Olga e criadora da campanha Olga Esporte Clube.

Premiação
Time masculino, em 2º, ganhou mais que o dobro da premiação do time feminino, que foi campeão (Foto: Divulgação/FIVB)

– Yane será porta-bandeira nos Jogos Olímpicos em casa, tem um peso maior. Ela estava competindo com o Serginho, um fenômeno, que talvez nunca vejamos igual no vôlei, que é um esporte popular no Brasil. Ela ganhou de pessoas, no caso homens, muito fortes em suas modalidades. Vi muitos coletivos feministas fazendo campanha por ela. Mostra a força que as mulheres têm no esporte independentemente de darem ou não o espaço a elas – completou Renata Mendonça, jornalista do portal Dibradoras.

Quando Yane, portanto, entrar no Maracanã, na noite desta sexta-feira, carregando a bandeira verde-amarela à frente da delegação de atletas homens e mulheres do Brasil, estará na verdade levantando uma bandeira simbólica imensuravelmente maior, conforme sintetizado por Renata:

– Esporte é inspiração. Isso é muito importante. As meninas, que sofrem muito preconceito quando vão praticar um esporte, vendo outras mulheres conseguindo feitos... É muito inspirador!

Quem são?

Think Olga: ONG dedicada ao empoderamento feminino, que tem no Olga Esporte Clube um
braço voltado à relação das mulheres com esportes.

Dibradoras: Portal jornalístico formado por mulheres que escrevem sobre modalidades e atletas femininas.

Cinco em uma

Principal atleta do país no pentatlo moderno – modalidade que engloba esgrima, natação, hipismo, atletismo e tiro esportivo – desde 2005 ininterruptamente e dona de um bronze olímpico e dois ouros e uma prata pan-americanos, Yane precisou ser "cinco em uma" para chamar atenção do torcedor brasileiro e ser eleita em votação popular, que contou com 961.562 votos.

Na visão de Maíra, a escolha de Yane é simbólica justamente pelo fato de o pentatlo englobar cinco diferentes modalidades. A impressão que fica é de que uma mulher, para alcançar um posto, tem de fazer sempre mais do que os homens.

– Em qualquer área da vida, a mulher precisa se provar muito mais para conseguir o mesmo reconhecimento. No mundo corporativo, por exemplo, uma pesquisa revelou que mulheres são promovidas de acordo com suas realizações, enquanto os homens são promovidos por seu potencial – disse.

– Somos treinadas desde muito cedo a performarmos e sermos perfeitas, porque só assim teremos algum reconhecimento – completou.

Evolução ano a ano e recorde à vista

As primeiras medalhas de mulheres brasileiras na história dos Jogos foram conquistadas em Atlanta, em 1996. Na última edição das Olimpíadas, em Londres, há quatro anos, as atletas do Brasil foram ao pódio seis vezes, com direito a dois ouros – uma a mais do que os homens.

Engana-se, no entanto, quem pensa que a "simples" conquista de medalhas implica em valorização das atletas. A conquista de vitórias é uma espécie de gatilho, que, se não for apertado pela mídia ou pelas autoridades responsáveis pelo esporte nacional, pouco irá interferir na valorização das modalidades femininas.

– Em 2012 elas já ganharam mais ouros que eles. Já estão mostrando a força há um tempo. Mas o incentivo ao esporte feminino é menor do que o masculino. E acho que isso não vai mudar com a questão das medalhas. O futebol feminino é a maior prova disso, ganha títulos, tem a melhor jogadora do mundo, e não evoluiu quase nada – argumenta Renata.

Infográfico Mulheres nas Olimpíadas
Arte/Lance!

– Como será a cobertura da mídia sobre estas medalhas e conquistas? Vamos continuar abordando nossas atletas de forma objetificada e frívola? Ou vamos valorizar as conquistas de fato? Se conseguirmos fazer esta mudança no olhar, teremos uma enorme evolução. Se não, vai ser mais um desperdício – acrescentou Maíra.

E para a edição de 2016 dos Jogos, a expectativa é de quebra de recorde de medalhas por parte das mulheres brasileiras.  Há chances reais de pódio para as atletas do país em: atletismo (Fabiana Murer), futebol, judô (Sarah Menezes,
Mayra Aguiar e Rafaela Silva), vôlei, vôlei de praia (Barbara e Agatha; Talita e Larissa), ginástica artística (Flavia Saraiva), handebol, maratona aquática (Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha) e pentatlo moderno (Yane Marques).

– Estas vitórias precisam se transformar em políticas públicas de incentivo ao esporte feminino. Se não, quando o assunto Olimpíadas esfriar, voltamos à estaca zero – finalizou María.

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