A 200 dias da abertura, Olimpíada do Rio tenta ‘sobreviver’ em meio à crise
Orçamento caro, projetos atrasados, evento-teste adiado, crise financeira... Organização tenta resolver problemas a 200 dias da abertura dos Jogos. Mas cenário não é bom
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A Olimpíada pode escapar da grave crise financeira que assola o país? Esse é o dilema que as diversas entidades que organizam os Jogos vivem atualmente. Diante de dificuldades financeiras do país e do estado do Rio de Janeiro, problemas na saúde, escândalos de corrupção, atrasos em obras e encarecimento no orçamento oficial, a Rio-2016 tenta recolher os cacos a 200 dias de sua abertura.
Até o momento, seis das 35 instalações que serão usadas no evento estão atrasadas, e outras diversas mostram situações preocupantes.
Um dos maiores problemas que a Olimpíada enfrenta são cortes, tanto de pessoal quanto de gastos. Nesse mês, 356 ex-operários demitidos da obra do Centro de Tênis protestaram contra a falta de pagamento de suas verbas rescisórias e o último salário devido, de dezembro.
E as demissões não devem parar por aí. Com a situação financeira do estado do Rio de Janeiro crítica, entrando em 2015 com um déficit total de R$ 13,5 bilhões, e mantendo boa parte dessa dívida pública ainda ativa, novos cortes devem acontecer.
Além do governo estadual, o Comitê Rio-2016, por exemplo, já começou a cortar diversas despesas.
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Atualmente, o orçamento da Olimpíada do Rio de Janeiro está na marca de R$ 38,67 bilhões
A Secretaria Estadual da Casa Civil do Rio confirmou ao LANCE! que novos trabalhadores podem ser demitidos para equilibrar essa balança orçamentária do estado, dependendo da evolução da crise econômica.
“Estão sendo tomadas medidas importantes no custeio, como redução de gastos em Secretarias e órgãos e a formulação de uma Lei de Responsabilidade Fiscal do Estado do Rio de Janeiro. A crise persiste em 2016, porque o petróleo prossegue com a cotação em queda e a crise econômica brasileira também se aprofundou. O Rio de Janeiro não é uma ilha e tem sido bastante afetado pela crise nacional”, disse o órgão, ao L!.
O Comitê Rio-2016, por sua vez, comemora o fato de poucas instalações estarem atrasadas, mas assume a culpa pelo aumento do prazo.
Em crise, o Estado do Rio está realizando cortes de gastos e pessoal. O Comitê também passa por isso
Para a entidade, o erro não foi só na construção, mas na elaboração das datas de entrega das obras.
– O erro ficou no prazo e não acabar. Mas para um período de crise, está bom. O evento-teste no velódromo é o primeiro e único atrasado. Foi um erro nosso, não nos demos conta de que teríamos um tempo para preparar a pista. O resto está mais ou menos em ordem. Temos um atraso relativo no Centro de Hipismo, em Deodoro. Mas nenhum atraso que possa comprometer a entrega dos Jogos. A preparação do evento tem seus problemas, mas não grandes – disse o comitê, por meio de seu diretor de comunicação Mário Andrada.
– Não é uma boa notícia (aumento do orçamento). O comitê tem uma preocupação, porque é mais dinheiro para juntar. Mas a gente também errou bastante no cálculo do custo de alimentação. Qualquer construção tem erro de cálculo. Não é ideal, mas também não é uma tragédia. E a gente errou. O orçamento não vai mais aumentar – completou.
Agora, a organização da Olimpíada tenta se mostrar “imune” à crise, ou, como o próprio Comitê imagina, um símbolo da mudança no país:
– Os Jogos vão gerar energia positiva para o país sair da crise.
AS OBRAS QUE PREOCUPAM:
Velódromo
O atraso no andamento das obras fez com que o Comitê Organizador Rio-2016 adiasse o evento-teste do ciclismo pista de março para abril. A obra deveria ter sido entregue em dezembro de 2015.
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Centro de Tênis
Deveria ter sido finalizado em setembro de 2015, mas segue em obras. Além disso, operários que trabalharam na instalação protestaram contra demissões e a falta de pagamento de direitos trabalhistas por parte do Consórcio ITD (da qual faz parte a empresa Ibeg). A prefeitura assumiu e pagou a dívida, mas ameaça quebrar o contrato com o consórcio.
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Complexo do Maracanã
As obras de adequações no Maracanãzinho (sede do vôlei na Rio-2016) e do Parque Aquático Julio de Lamare foram assumidas pelo Comitê Rio-2016, após a Concessionária Maracanã sinalizar que não faria as reformas necessárias. O custo assumido foi de R$ 40 milhões.
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Centro Nacional de Hipismo
Segundo o portal UOL, as obras de adequação em Deodoro estão praticamente paradas, tudo por conta do conflito entre a empresa Ibeg (a mesma que ergue o Centro de Tênis) e a prefeitura do Rio.
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Arena da Juventude
A instalação, que sediará duas modalidades olímpicas e uma paralímpica na Rio-2016, é outra candidata a estourar o prazo de entrega. A data limite é o fim de março, mas, até dezembro, estava apenas em 75% de sua execução.
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Estádio de Remo
Também teve sua obra de adequações interrompida. A empresa Giver Engenharia, responsável pela reforma, ordenou a paralisação de seus operários ao alegar que parou de receber repasses do governo estadual do Rio de Janeiro. Valores foram regularizados e as obras devem voltar até fevereiro.
PROBLEMAS SEM FIM
País em crise
Com a economia em recessão, o país teve redução em suas notas de crédito, uma contração do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,5% em 2016 (segundo o Banco Mundial), troca no Ministério da Fazenda (Joaquim Levy para Nelson Barbosa) e a desvalorização do real.
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Crise no Rio
Com a queda no valor do barril de petróleo (de cerca de US$ 100 para US$ 40), os cariocas vivem problemas na saúde (dívida pública de R$ 1,4 bi) e passam por cortes em diversas áreas públicas.
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Crise política
Atualmente, trâmita na Câmara dos Deputados um pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, acusada de pedaladas fiscais (atrasar pagamentos para aumentar o dinheiro em caixa).
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Escândalos de corrupção
Hoje, o Brasil conduz a maior investigação de sua história, com a operação “Lava Jato”, mirando o esquema de corrupção na Petrobras, envolvendo políticos de vários partidos e as maiores empreiteiras do país
Entidades fazem jogo de ‘empurra-empurra’
Em contatos para a realização dessa reportagem, o LANCE! procurou diversos órgãos e entidades que cuidam da organização dos Jogos do Rio de Janeiro, e constatou um jogo de ”empurra-empurra” entre elas.
A Secretaria de Esportes e Lazer do Rio repassou o contato para o governo, à Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop) e ao gabinete do prefeito, restringindo suas respostas, mesmo sobre a crise atual do Rio, às obras de legado social dos Jogos.
A Secretaria de Esportes do Governo, por sua vez, repassou o contato à Secretaria Estadual da Casa Civil, que respondeu duas das seis perguntas enviadas, afirmando que as outras diziam respeito à Secretaria Estadual da Fazenda, à Secretaria Estadual de Planejamento, à Prefeitura e a última ao Comitê Rio-2016.
Porém, nenhuma das entidades respondia às perguntas referentes à crise no Rio de Janeiro e à realização da Olimpíada em sua própria cidade.
Com relação às perguntas sobre turismo, o L! contatou a RioTur (prefeitura), que disse que a responsável pelas respostas seria a TurisRio (governo) que, por sua vez, disse que quem deveria responder é a RioTur.
Em meio à crise, turismo não deve sofrer queda
A crise financeira que aflige o Brasil e, mais precisamente, o Rio de Janeiro, não deve afetar o número de turistas que visitarão a Olimpíada.
Isso porque a alta do dólar torna a cidade carioca um destino mais barato para os visitantes estrangeiros.
Na cotação da última sexta-feira, um dólar americano valia R$ 4,0396.
“Com toda a crise financeira do país, tivemos um Réveillon (2015) com recorde de turistas, ocupação hoteleira e renda. O dólar alto favorece a vinda de estrangeiros e acaba atraindo para a cidade o turista nacional, que deixa de viajar para o exterior”, afirmou a secretaria municipal de Turismo do Rio de Janeiro (RioTur), em resposta oficial ao LANCE!.
Na virada do ano, segundo a agência de notícias espanhola EFE, o Rio de Janeiro recebeu cerca de 857 mil turistas, que gastaram cerca de US$ 670 milhões (cerca de R$ 2,7 bi). Quase 70% desse número diz respeito à visitantes de dentro do Brasil.
Esse número foi aproximadamente 12% maior do que a última virada de ano no Rio, de 2014 para 2015 que, à época, detinha o recorde de turistas.
Assim, a prefeitura do Rio espera que a crise “ajude” na Olimpíada.
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