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Ex-promessa do São Paulo leva lições do futebol para vela na Paralimpíada

Referência do Brasil, Bruno Landgraf, ex-goleiro do Tricolor, usa aprendizados obtidos nos gramados para as águas, onde encontrou liberdade e independência após trágico acidente<br>

Bruno Landgraf é o velejador mais experiente do Brasil nos Jogos do Rio
imagem camera(Foto: Fred Hoffmann/Divulgação)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 17/09/2016
02:22
Atualizado em 17/09/2016
08:10

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O futebol pode ensinar muito à vela. Quem prova é Bruno Landgraf, “professor” mais experiente do Brasil nos Jogos Paralímpicos do Rio no esporte. Uma reviravolta na vida teve o poder de transformar um sujeito discreto, apaixonado pelos gramados, em referência na água, ambiente onde achou independência e liberdade.

Neste sábado, às 13h05, o atleta de 30 anos, que já foi apontado como sucessor de Rogério Ceni nas categorias de base do São Paulo, tenta melhorar o 11 lugar de Londres-2012 na classe Skud-18, com Marinalva de Almeida. A dupla terminou a sexta-feira na oitava colocação e não tem mais chances de medalha.

– Tento passar a experiência do futebol e de velejador. Mudamos a modalidade, mas continuo atleta. Não perdi hábitos, como cumprir horários e me cobrar. Não dá tempo para lamentar. No dia seguinte à regata ruim, há outra. Um dia depois de tomar gol, tinha treino. Dias depois, jogo de novo. É o que eu levo – contou Bruno, ao LANCE!.

Um acidente com o carro que dirigia em 11 de agosto de 2006, na rodovia Régis Bittencourt, limitou os movimentos do paulista de São Lourenço da Serra. O diagnóstico era lesão completa nas vértebras C3 e C4 da coluna.

Os médicos diziam que ele passaria a vida em estado vegetativo. Hoje, anda em cadeira de rodas, mas mexe os braços e já tem sensibilidade nas pernas.

Após a tragédia, que resultou nas mortes de Weverson, ex-goleiro do Tricolor, e Natália Manfrin, ex-jogadora de vôlei, Bruno foi apresentado à vela adaptada no Superação Clube Paradesportivo, na capital paulista.

No primeiro contato, sentiu que poderia ser muito mais do que um deficiente. Ali, viveria algumas das sensações que eram parte da rotina nos dias de goleiro.

Entre aparelhos para dar estímulos elétricos às pernas e academia em épocas da preparação, permaneceu um atleta profissional. Ele, que como tantos jogadores de futebol chamava seus técnicos de “professor”, agora se vê no papel.

– É preciso disciplina, senão seremos sempre os barcos lá de trás. Sei que podemos mais. Quero dar a chance a outras pessoas e divulgar a vela adaptada – disse o campeão da Copa do Mundo sub-17 de futebol com o Brasil, em 2003.

Bruno disputou os Jogos de Londres ao lado de Elaine Cunha e ficou em 11º.

BATE-BOLA
Bruno Landgraf Velejador, ao LANCE!

‘Rogério Ceni é um amigo e um ídolo até hoje’

LANCE!: Como foi a mudança do futebol para a vela após o seu acidente?
Bruno: Eu jogava futebol desde pequeno, mas vivi uma fase boa de aprendizado no São Paulo. Em São Lourenço da Serra, eu não tinha treinador de goleiro. Nos finais de semana, quando havia jogo, todo mundo se reunia. Mas eu não treinava no alto rendimento. Quando eu entrei para o São Paulo, passei muito perrengue, fiquei quase três anos só treinando, sem jogar. Mas foi bom, pois aprendi. É o que eu trago do futebol para a vela atualmente.

L!: Como ficou sua relação com o futebol? Ainda faz parte da vida?
B: Gosto muito. Não tenho acompanhado mais nos estádios, mas assisto. Falo com frequência com o Rogério (Ceni), que está fazendo curso para técnicos. É um amigo e ídolo até hoje. Também falo com Fábio Santos, (Diego) Tardelli, Edcarlos e outros daquele grupo (base do São Paulo que integrou a Seleção Sub 20 em 2005). E tenho bastante contato com o Renan, que estava na Portuguesa. Por internet, fica mais fácil. Sou são-paulino desde pequeno, e estou chateado pela fase do time. Precisa dar uma embalada. Mas assisto.

L!: Como foi sua evolução após o acidente até hoje? O que mudou?
B: Quando me acidentei, não conseguia ficar sentado em uma cadeira. Saí do hospital me mexendo pouco. Hoje, tenho movimentos em braço, tronco e falo melhor. Demorei para voltar a falar e a comer sozinho ou segurar um copo. Escrevo com letra feia ainda, mas consigo. Mexo no celular e dirijo em carro adaptado. Tenho de usar cadeira para o banho, mas faço muitas tarefas sozinho.

L!: Você é o único da equipe que já havia disputado Paralimpíada. Como é a relação com os atletas?
B: É um aprendizado constante. Eu sou muito na minha (risos). Quando alguém me procura, dou dicas do que sei. Mas fico na boa. Se precisar, ajudo.

NÚMEROS

1
Velejador do Brasil já havia
disputado Paralimpíada antes
do Rio: Bruno Landgraf, em 2012


8
Meses Bruno Landgraf
permaneceu no hospital após
sofrer o acidente, em São Paulo

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