‘Como eu vou dormir?’: símbolo de resistência do Vasco, Léo abre o jogo sobre os momentos delicados na vida
Capitão e zagueiro do Cruz-Maltino concede entrevista exclusiva ao LANCE!
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Se os negros têm espaço no futebol brasileiro é graças ao Vasco. E hoje, o maior símbolo dentro do clube é um jogador da pele preta. Muito prazer, Leonardo Pinheiro da Conceição, cria de São João de Meriti. Pelos vascaínos, este nome é popularmente conhecido como Léo. Com um sorriso de ponta a ponta no rosto e de coração aberto, o capitão e zagueiro do Cruz-Maltino recebeu a reportagem do LANCE! para uma entrevista exclusiva e falou sobre momentos mais delicados da sua vida.
O início da trajetória de Léo foi extremamente difícil. Infelizmente, como muitos negros no Brasil, o capitão do Vasco já passou por episódios de racismo. Antes de se destacar entre os profissionais, o zagueiro pensou em desistir da carreira. Mas foi por meio do futebol, que o jogador moldou o caráter para ter a chance de desfrutar tudo o que tem hoje em dia. Confira a íntegra da entrevista no player acima.
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- Minha adaptação aqui no Vasco foi muito forte e rápida. É nítida a identificação que eu tive com o clube. Primeiro, eu queria falar de um episódio que eu sofri na pele. Quando você é expulso de um shopping, aquilo me fez pensar duas vezes antes de desistir da minha carreira de jogador de futebol. Eu realmente fui mandado embora de um shopping com um cara perguntando se eu ia pedir dinheiro porque eu era negro. Depois que você vê os "Camisas Negras", a história dos pobres e operários e a história toda do Vasco você fala: "Esse clube eu me identifico muito rápido". Bate muito com a minha história de vida. Por isso que eu fui pesquisando mais a história do Vasco. Agora eu vi o porque a torcida é tão apaixonada. A música que fica na minha cabeça é quando falam: "Nunca vão entender esse amor". E realmente as pessoas de fora não entendem porque o torcedor tem tanto amor pelo Vasco - revelou.
Para Léo, a história do Vasco merece ser estudada independente do clube que o torcedor tem apreço. Com pouco tempo de casa, o capitão esteve frente a frente com a Resposta Histórica.
- Eu tive o prazer de ver a carta e conhecer a história um pouquinho mais de perto. Eu fiquei muito emocionado naquele momento. Até brinquei com alguns funcionários do clube: "Você já viu a carta original?". E falaram: "Não". E eu falei: "Eu já vi com três meses de clube (risos)". E aí começaram a me abraçar e isso é muito legal - contou o capitão.
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A vida de Léo é repleta de fortes personagens. Um deles se chama Abel Braga, que hoje é o diretor técnico do Vasco. O ex-treinador foi um dos grandes responsáveis por tornar o zagueiro o que ele é hoje. E quando se fala em Abel, o jogador não tem palavras para externar toda a gratidão que tem pelo dirigente.
- É engraçado por ter visto o Abel na beira do campo, cobrando e apoiando. Agora ele está numa outra posição. Mas a minha ligação com o Abel é muito profunda. Quando eu era bem novo, eu chegava com muito sono nos treinos. E o Abel viu que eu estava muito cansado e falava: "Tô sentindo você muito cansado". E eu falei: "Abel, eu não estou conseguindo dormir, porque eu e meus irmãos estamos só em um cômodo e chove muito. Tem ratos passando e tal". Eu me abri com ele. Era algo que eu tinha muita vergonha de falar com os meus amigos. E o Abel começou a saber mais da minha história. Foi uma infância muito sofrida, onde eu me esforçava, meus irmãos se esforçaram, minha família se esforçava. E o Abel começou a me ajudar também. Eu falei: "Abel, é difícil. Olha a minha situação. Como eu vou dormir? Chove e parece que molha mais dentro do que fora de casa e os ratos passando. Como eu vou dormir?" É por isso que a minha ligação com o Abel é muito profunda - relatou o zagueiro. Em seguida, disse os motivos pelo quais não pensou duas vezes antes de fechar com o Vasco:
- Quando eu estava viajando nas férias, ele me ligou para vir para o Vasco. Então, ele, o Paulo (Bracks), o Barbieri, que são pessoas que estão no meio do futebol e a gente sabe que tem uma linha e um caráter muito profundo e são caras de muita palavra. Eu falei para ele: "Professor, só me dá um dia e vou comunicar a minha família". Passou um dia e no outro eu liguei e falei: "Professor, eu quero ir e vou". Não adianta só ter um clube com uma marca muito forte se não tem pessoas também que saibam conduzir isso. O clube é muito forte e tem pessoas que sabem conduzir isso e o Abel é um deles.
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Apesar de ter chegado recentemente no Vasco, Léo tem todos as características e elementos necessários para se tornar um ídolo do clube. A vida do capitão do Cruz-Maltino é marcada pela simplicidade e humildade, que deve ser um exemplo para inspirar diversas pessoas.
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