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Coluna: ‘GP da Arábia Saudita – Money Talks’

Colunista de F1 do LANCE!, Luiz Gustavo Bichara analisa o segundo GP da temporada

Verstappen venceu GP da Arábia Saudita, a segunda etapa da temporada
Verstappen venceu o GP da Arábia Saudita, segunda etapa da temporada (FOTO: Oracle Red Bull Racing)

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Embora tenhamos visto um bom GP em Jeddah, principalmente nas voltas finais, o final de semana na Arábia Saudita ficou mais marcado pelos inusitados acontecimentos pré-corrida.

Na sexta, Max Verstappen disse pelo rádio que achava que havia fogo em seu carro. Não havia. O cheiro vinha do incêndio causado por um míssil que caiu em uma refinaria de petróleo nas cercanias do autódromo (a 11 km). A agressão foi causada pelos rebeldes houthis (do Iêmen), com quem a Arábia Saudita está em guerra desde 2015.

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Diante de um evento tão dramático, todo mundo pensou que a corrida seria cancelada. SQN. Prevaleceu a força da grana que ergue e destrói coisas belas, como diria Caetano. Money talks.

O dinheiro saudita hoje irriga generosamente o circo da F1. A Aramco (antiga Arabian-American Oil Company) é patrocinadora máster da categoria. A empresa tem hoje um market cap de US$ 2,2 trilhões de dólares (não é erro de digitação). Há investimento direto árabe em Ferrari, McLaren e Aston Martin.

É bom lembrar que a Arábia Saudita é, na prática, governada pelo Crown Prince Mohammed bin Salman (MBS para os íntimos). Esse é aquele rapaz que, dentre outras peraltices, colocou vários membros da família real em cárcere privado (tudo bem que era no Ritz...) e invadiu o celular do Jeff Bezos (com direito a nudes do bilionário). É também acusado de coisas ainda mais sérias, como o triste episódio do desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi.

Um outro MBS (Mohammed bin Sulayem), presidente da FIA, dirige hoje o automobilismo mundial. Este segundo MBS não é saudita (nasceu nos Emirados Árabes). Mas o fato é que com a pressão dos dois MBSs e os petrodólares que bancam o show, ia ser difícil não ter corrida.

Os pilotos até tentaram. Consta que alcançaram um veredito unânime para não correr. Mas esqueceram a velha máxima de que a guerra nunca é do soldado.
Se havia uma corrida que iria acontecer de qualquer jeito, era essa.

Batida Mick Schumacher - GP da Arábia Saudita
Mick Schumacher bate durante treino (Foto: reprodução/F1TV)

Os treinos foram marcados pela pancada de Mick Schumacher e pela surpreendente performance de Sergio Pérez. No domingo, largaram apenas 18 carros – Mick não tinha equipamento e Yuki Tsunoda também ficou a pé antes de a luz vermelha se apagar.

Verstappen largou bem, conseguindo superar a Ferrari de Carlos Sainz. Pérez também vinha muito forte, impondo bom ritmo à prova. Mas, como sempre em Jeddah, surgiu o safety car. E quando ele veio, em uma trapaça do destino, o mexicano tinha acabado de fazer seu pit stop. Deu muito azar, e a liderança caiu no colo de Charles Leclerc.

A corrida seguiu sem grandes emoções entre os ponteiros (embora animada com o pega caseiro das Alpine, além de outras disputas no pelotão do meio). Isso até a volta 42, quando Verstappen, como um crocodilo no Nilo, deu o bote em Leclerc. E o fez de maneira cirúrgica. A exemplo do Bahrein, vimos o passa e repassa (cortesia do DRS), mas ao final o holandês se impôs.

Aliás, não sei se é mérito dos incumbentes ou das mudanças na própria categoria, mas o comentário geral é de que as disputas de posições entre Verstappen e Leclerc estão bem mais civilizadas que as do ano passado com Lewis Hamilton. Credita-se isso a uma velha amizade. Sei não... A F1 é um lugar de benquerenças fingidas. Vamos ver até quando vai isso.

Falando em Hamilton, realmente as coisas não parecem estar fáceis para ele. Além de ter amargado apenas um décimo lugar, tomou pau de George Russel na classificação e na corrida. Até sua tradicional sorte de campeão desta vez não funcionou, quando no safety car virtual, a entrada dos boxes foi fechada, o que lhe fez perder muito tempo.

Enfim, será curioso ver como ele se portará guiando, pela primeira vez na vida, um carro ruim. O inglês não parece ter vocação para underdog. Malgrado a ótima performance de Leclerc, a vitória de Verstappen foi incontestável. Como disse Helmut Marko após a prova, “ele vale o seu salário”.

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