Coluna: ‘GP da Espanha – Indesejável previsibilidade’
'Embora a F1 esteja realmente um pouco mais equilibrada, as coisas estão se tornando um pouco previsíveis ...'
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Apesar de todas as mudanças no regulamento (a maioria já devidamente esmiuçada aqui na coluna), e embora a F1 esteja realmente um pouco mais equilibrada, as coisas estão se tornando um tanto previsíveis: nos últimos três finais de semana vimos a Ferrari dar show no treino e a Red Bull receber a bandeira quadriculada em primeiro lugar. Neste final de semana, na ensolarada região da Catalunha, na Espanha, não foi diferente.
+ Narrador se declarou ao vivo! Veja aqui para quais times torcem os jornalistas esportivos
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No treino de sexta, novidade: dois jovens pilotaram pela vez primeira um F1: o holandês Nick de Vries (atual campeão da Fórmula Ecom a Mercedes), pela Williams, e o estoniano Juri Vips, pela Redbull. O primeiro teve uma boa performance, inclusive superando o incumbente Nicolas Latifi. Já o outro calouro não foi bem, tomando mais de 4 segundos de Max Verstappen.
No sábado a classificação transcorreu sem surpresas, com Charles Leclerc cravando a pole, mesmo após rodar nos minutos finais, seguido por Verstappen e Carlos Sainz (um grid que começa a se tornar tradicional). O espanhol era depositário de veementes esperanças da torcida local, tendo em vista a ótima fase da Ferrari. O resto do carinho da torcida da casa ficava, como sempre, para Fernando Alonso, que infelizmente amargou apenas a 17ª posição no grid, optando inclusive por trocar o motor e largar em último por conta das penalidades respectivas.
No domingo, Leclerc sustentou bem a 1ª posição na largada, fazendo um inteligente movimento para a linha de dentro, se protegendo na tangência correta da curva inaugural. George Russel, que largou numa ótima 4ª posição, ultrapassou Sainz, mostrando que estava com fome de pódio. Já na 5ª volta, Lewis Hamilton foi abalroado por Kevin Magnussen e teve um pneu furado, caindo para último (uma pena, pois era o único piloto a largar com pneus amarelos e uma agressiva tática diferenciada).
Aqui uma curiosidade, que diz muito sobre a motivação do heptacampeão esse ano: em duas transmissões de rádio de conversas com a equipe (somente a segunda foi ao ar na transmissão da TV), Hamilton insistiu para abandonar a prova, pretextando que seria melhor poupar o motor (lembrando que cada piloto pode, pelo regulamento, usar 5 unidades de potência por ano). Mas a equipe Mercedes, claro, assim não permitiu, informando que pelos modelos preditivos era possível antever que ele tinha chance concreta de chegar em 8º lugar.
Ali pela 7ª volta a coisa ficou agitada para os pilotos da casa: Sainz escapou e rodou sozinho, perdendo muitas posições, enquanto Alonso, o príncipe das Astúrias, mesmo tendo largado em último, já estava se aproximando da zona de pontuação. Tenho a impressão que, além dos espanhóis, muita gente torce por Alonso, um piloto talentosíssimo. Mas é preciso reconhecer que os planos dele de retornar da aposentadoria para buscar um 3º título são como o 9º casamento da Elizabeth Taylor: todo mundo torce para dar certo, mas sabe que vai dar errado.
Logo em seguida, na volta 9, Verstappen rodou sozinho exatamente no mesmo local que Sainz. Tudo indica que a extrema temperatura da pista (50 graus), aliada a um forte vento, realmente desestabilizou ambos os carros – até porque o holandês não é muito de errar...Na sequência deu-se a mais animada disputa da corrida, entre o atual campeão e o fenomenal George Russel (que assumiu a segunda posição em função da bobeada de Verstappen). Com problemas no DRS (o sistema que “abre” o aerofólio para reduzir a resistência ao vento, facilitando de forma até por vezes meio sem graça as ultrapassagens) desde a classificação, ele teve muita dificuldade para superar Russel, que mostrou incrível talento defensivo, mesmo com um carro inferior.
Aliás, é preciso que se diga: embora Verstappen esteja protagonizando disputas acirradíssimas com Leclerc (e ontem com Russel), o que se vê são refregas leais, muito diferentes daquelas vividas com Hamilton ano passado – onde os choques e acusações mútuas eram frequentes. Estarão os adversários lutando com menos afinco? Ou terá o campeão amadurecido e compreendido que as batalhas devem ser limpas? Afinal o homem não é o mesmo em todos os instantes, como ensinou Machado de Assis.
Na volta 27, Leclerc, que vinha liderando com alguma folga (seguido por Sergio Perez), teve um súbito corte de motor, abandonando a prova, que caiu então no colo de Verstappen, inclusive porque a Red Bull (após executar bem um undercut em Russel) não hesitou um segundo em dar a ordem áspera e inapelável para que Perez cedesse a posição. Houve choro e ranger de dentes: o mexicano se mostrou contrariado (“it’s very unfair”) e prometeu uma DR posterior (“we will speak latter”). Como orelha não tem pálpebra, o pessoal da equipe ouviu calado. Foi tão escancarado que Verstappen até o agradeceu pelo rádio. Não tem muito jeito: vida de 2º piloto é assim.
Daí em diante a corrida não teve lá grandes emoções, transcorrendo mais ou menos sem alterações dignas de registro. Hamilton, contrariado no seu estranho intento de desistir,retomou o primado do sentido do dever e chegou em 5º (quase 4º, posto que só perdeu na última volta em função de um mal explicado superaquecimento em sua Mercedes). Apesar disso, o inglês novamente chegou atrás de seu compatriota Russel, que confirma sua ótima fase. Além de beliscar outro pódio, é o único piloto que conseguiu, até agora, chegar entre os 5 primeiros em todas as provas – o que lhe garante 74 pontos no campeonato, contra 46 de Hamilton.
Ao fim do GP da Espanha temos um novo líder no campeonato. Eis que Verstappen (após sua 3ª vitória consecutiva) tem 110 pontos, contra 104 de Leclerc – que corre em casa semana que vem. Vamos ver se ele espanta o azar que costuma ter em Mônaco (no ano passado, largando na pole, abandonou ainda na volta de apresentação). Se bem que é possível que ele tenha, como lembrou Reginaldo Leme, gasto sua cota de falta de sorte em Monte Carlo ao rodar e bater com a icônica Ferrari 312B3 pilotada por Niki Lauda.
P.S. – neste final de semana o brasileiro Felipe Drugovich ganhou as duas provas da GP2, se firmando na liderança do campeonato (86 pontos contra 60 do francês Théo Pourchaire). Vale ficar de olho nele, que é o estuário das nossas esperanças de ter um brasileiro de volta à F1.
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