Incertezas, insatisfações e alívio: Os bastidores do imbróglio da fusão entre ESPN e Fox Sports
Depois de dois anos, sinal verde de relator do Cade nesta quinta-feira sinalizou que a fusão entre emissoras da DIsney deve, enfim, acontecer em breve.
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Depois de dois longos anos, parece que, enfim, o imbróglio da fusão entre a ESPN Brasil e a Fox Sports chegará ao fim com um final feliz para a empresa da Disney. Nesta quinta-feira, o relator do Cade (Conselho Administrativa de Defesa Econômica) Luis Henrique Bertolino Brado aprovou o caso, e como seu voto é considerado internamente como um "condutor da decisão", o órgão público deve aprovar oficialmente em uma reunião que será realizada na próxima quarta-feira (5), conforme informado pelo "UOL". Mas por que durou tanto tempo para que a junção fosse aprovada?
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Tudo começou quando a Disney comprou a 21st Century Fox por uma bagatela de 71 bilhões de dólares. Com isso, a empresa adquiriu todo o departamento de filmes e diversas emissoras em todo o mundo, como a Fox Sports no Sul da Ásia, Holanda, América Latina e no Brasil. No México e no Brasil, a gigante do entretenimento enfrentou problemas com os respectivos governos, que interpretaram a tentativa da formação de um monopólio com o controle da ESPN e da Fox Sports.
Em fevereiro de 2019, o Cade determinou que a Disney deveria vender os direitos da emissora. Desde então, algumas empresas mostraram interesse superficial, outras avançaram com propostas: o serviço de streaming DAZN, a produtora europeia Mediapro e a Simba, que é uma sociedade entre a Record TV, SBT e RedeTV. Nenhuma delas agradou. Ainda teve o interesse concreto da RioMotorsports, que não mostrou garantias financeiras para fechar o negócio. Nenhuma das empresas cumpriu os requisitos impostos pelo Cade, que percebeu que, depois de nove meses, decidiu rever o processo do caso.
Como o LANCE! já informou anteriormente, um dos grandes motivos que acabou afastando possíveis interessados foi a operação financeira da Fox Sports no Brasil, que fez grandes investimentos ao longo dos anos. O maior investimento da emissora foi a cobertura da Copa do Mundo de 2018 na Rússia, onde grande parte dos talentos e do elenco do canal foi levado para a cobertura in-loco. Fontes relataram exclusivamente ao LANCE! que o prejuízo financeiro foi tão impressionante que, caso a emissora não fosse administrada por uma empresa tão grande e tão bem estabelecida economicamente, seria um início de uma enorme crise financeira.
Nesta quinta, a decisão do relator pontuou um item importante sobre a condição da aprovação da fusão: garantias sobre a manutenção dos empregados, das estruturas e, além disso, a continuidade do funcionamento do canal como Fox Sports. Isto entra em conflito com as intenções da Disney sobre toda a fusão, já que o processo padrão em outros países foi o fim da Fox Sports e a integração ao nome ESPN. A decisão não é definitiva e será revista assim que tudo for concretizado, mas mostra uma postura ainda conservadora por parte do Cade em relação ao processo.
Incertezas durante todo o processo
O LANCE! ouviu diversos funcionários das duas emissoras ao longo dos meses, que relataram o clima ao longo dos meses nas redações, bastidores e corredores dos respectivos canais.
Na Fox Sports, o sentimento era de total incerteza sobre o futuro. Afinal, com todo o imbróglio, ninguém sabia que o iria acontecer. Funcionários se sentiram inseguros e, nos últimos meses, a emissora sofreu perdas de funcionários nos bastidores, que optaram por segurança e rumaram para outras empresas, como a CNN Brasil, que chegou há pouco no país com um grande investimento. Todavia, a saída mais marcante de todas foi a de Eduardo Zebini, que pediu demissão no início de fevereiro e aceitou um cargo de coordenador de mídias na CBF. Zebini era o homem forte da emissora há anos e o responsável pelo crescimento exponencial da marca no Brasil.
Já na ESPN Brasil, a sensação de incerteza também surgiu durante todo o processo, mas por motivos diferentes. Em agosto, a emissora passou por mudanças sérias e demitiu nomes importantes da casa, como o vice-presidente de jornalismo João Palomino e talentos conhecidos e vinculados com a marca como Juca Kfouri, Rafael Oliveira, Arnaldo Ribeiro e outros. Uma nova direção foi tomada por um canal que, segundo fontes ouvidas pela reportagem, passou a ser administrada por mais de perto por sua dona, a Disney.
Insatisfações
Em meio a um mar de incertezas em uma queda de braço entre a Disney e a órgão do governo, quem se beneficiou com toda a situação foi a Globo. Ao todo, a maior emissora do país contratou oito profissionais para o seu plantel: Gustavo Villani, Everaldo Marques, Paulo Vinícius Coelho, José Renato Ambrosio, Débora Gares, Gabriela Moreira e Karine Alves.
Uma fonte ouvida pela reportagem relatou que as saídas repercutiram de forma negativa nos bastidores da ESPN Brasil, já que a Disney sofreu acusações do Cade de uma formação de monopólio. Todavia, os Canais Globo, que são líderes de audiência e possuem um patamar financeiro muito maior que os envolvidos no imbróglio, se fortaleceram ainda mais e puderam adicionar talentos de alto gabarito ao seu já estabelecido time de jornalismo. Além do mais, a Globo quem detém os principais direitos de transmissões esportivas em larga escala no país.
Alívio com o tão esperado fim
Fontes ouvidas pela reportagem citaram que o sentimento com a notícia do sinal verde concedido pelo relator do Cade nesta quinta-feira foi de alívio com, enfim, a aproximação do fim de todo o longo e árduo processo que durou dois anos. Seja para o bem ou para o mal.
Os dois canais continuavam seus planejamentos, mas sempre com o asterisco sobre a incerteza do dia de amanhã. Eram muitas possibilidades: um novo dono, a continuação do canal ou até mesmo o fim da marca e a integração com a ESPN Brasil, que é o cenário que interessa a Disney. A próxima semana será repleta de novidades para os dois canais e todos os funcionários, que, enfim, irão descobrir o que de fato irá acontecer.
Embora árduo, o processo marcou a história dos canais esportivos no Brasil. Afinal, a Fox Sports possui uma audiência maior que a ESPN Brasil e, caso a marca chegue ao fim, isso pode significar uma alavancagem significativa em números para a emissora vermelha. Na hora do almoço, por exemplo, o Fox Sports Rádio chega a alcançar uma audiência três vezes maior do que a faixa da ESPN.
*Estagiário sob supervisão de Tadeu Rocha.
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