A frase polêmica e histórica dita por João Havelange, ex-presidente da FIFA, ao ser perguntado sobre a entrada da tecnologia no futebol para minimizar os erros dos árbitros, segue mais viva do que nunca.

Nossa sociedade funciona de uma maneira dicotômica há séculos: o bem contra o mal, a noite e o dia, o herói e o bandido, o sucesso e o fracasso. Impera o simplismo de ver as coisas sem a profundidade e atenção que muitas vezes se merece.

Impulsionados por essa crença, obviamente que acreditamos também em soluções simples para questões complexas. Buscamos respostas objetivas para algo que é por natureza subjetivo e interpretativo.

Já quero deixar claro meu posicionamento sobre o VAR desde o início: sou favorável. Vejo que na maioria das vezes a equipe auxiliar dos árbitros de campo acerta bem mais do que erra. Mas longe de dizer que não haverá mais polêmicas ou até mesmo que elas diminuirão, não aqui no Brasil.

Temos um longo caminho a percorrer para chegarmos à maturidade que outras ligas ao redor do mundo já atingiram, especialmente em outras modalidades.

E por ser um longo caminho, fica o alerta para todos os envolvidos no futebol: não se pode cair na velha armadilha das soluções simples, como achar que a profissionalização dos árbitros é a salvação ou a única solução para este longo problema.

Até porque, quando falamos de árbitros que apitam as principais séries do nosso futebol, temos um percentual bastante alto de juízes que dedicam o seu tempo integralmente a essa carreira.

Sempre falo que profissionalismo não é sinônimo de competência, assim como amadorismo não é sinônimo de incompetência.

Estamos inclusive vendo isso na prática com a transformação dos clubes em SAF 's, que mesmo com profissionalismo na administração, não conseguirá resolver todos os problemas de resultados esportivos, gestão e governança que existem nos clubes sem mudar toda uma cultura que leva tempo e precisa de outros ingredientes. Se acharmos que o problema da arbitragem tem uma única solução, nos  assustaremos lá na frente ao perceber que isso não irá resolver este problema complexo e arraigado no âmago da nossa cultura futebolística, pois é maior do que isso.

Um amplo processo de educação, capacitação e conscientização de todos stakeholders, desde as categorias de base (pais, treinadores, torcedores, imprensa, etc.), pode e deve ser o primeiro passo para tentarmos colher bons frutos em 10 anos.

E até lá, as teorias da conspiração continuarão a aparecer, equipes seguirão sendo prejudicadas, outras beneficiadas. Dirigentes, treinadores, gestores e atletas enfurecidos seguirão reclamando e tentando equilibrar a balança a seu favor, através dos seus discursos e entrevistas.

E assim, a frase do Doutor João seguirá viva. Quem viver, verá.

E para você, qual a solução para a arbitragem brasileira? Divida comigo nas minhas redes.